Capítulo II

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Colocar os pés novamente em terra firme deu-lhe uma leve tontura

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Colocar os pés novamente em terra firme deu-lhe uma leve tontura. Em parte por ser estranho estar completamente parado outra vez, depois de ter se acostumado a passar as últimas semanas sentindo o vai e vem constante do mar; em parte porque não estava preparado para ser bombardeado por tanta informação sensorial de uma vez só e em parte porque, por mais que tenha tido os últimos três meses para se acostumar com a ideia de estar de volta na sua cidade natal, de fato estar lá ser algo completamente diferente.

Envolvendo com força a alça de sua bolsa grande e pesada, Matias relanceou os olhos azuis pelo porto, vendo os outros passageiros que desceram do navio junto dele começarem a se misturar pela paisagem e outros desconhecidos simplesmente andarem por todos os lados e berrarem sabe-se lá o que como se fosse somente mais um dia qualquer no meio da semana.

E de fato era mais um dia de meio de semana.

O bruxo começou a andar, antes que alguém o empurrasse para que saísse da frente, virando a cabeça por todos os lados em busca de alguma face que conhecesse. Até sua linha de visão parar nos degraus que demarcavam o início do porto. E lá estava parado Leônidas Salazarte, as mãos atrás das costas e um olhar perdido no navio que recém aportara.

Conforme se aproximava do pai, Matias foi capaz de ver melhor os detalhes, como as pontas do casaco cinza esvoaçando pelo vento frio do início da manhã e certos fios grisalhos no cabelo preto, indicando que a idade começava a aparecer um pouco. Como sempre, ele estava nada menos do que impecável.

O Dr. Salazarte pareceu se dar conta do filho vindo em sua direção, fazendo-o apressar o passo. Em poucos segundos, os dois estavam finalmente frente a frente outra vez. Matias pôde perceber perfeitamente o olhar do pai percorrendo-o de cima a baixo e ficaram em silêncio, em um reencontro um tanto desconfortável, onde nenhum dos dois parecia saber exatamente o que dizer.

Matias nunca soubera exatamente o que dizer diante do pai, pois tudo parecia passar por um crivo severo, fazendo-o preferir se calar.

— Como foi de viagem? — Leônidas foi o primeiro a pronunciar algo.

— Bem — ele respondeu de forma sucinta, condensando as semanas desconfortáveis e cheias de mil pensamentos em alto mar em apenas uma palavra. A verdade é que não passara a viagem exatamente bem, longe disso, mas de que importava? — Como vocês estão?

No lugar da resposta, Matias foi envolvido em um abraço que o fez levar alguns segundos para compreender o que estava acontecendo. O pai terminou o gesto com dois tapinhas em suas costas, para então afastar-se. Aquela era a forma de Leônidas demonstrar que sentira saudades.

— Você precisa urgentemente de um banho — o Dr. Salazarte opinou, fazendo o filho dar um sorriso sem-graça. — Vamos, não posso me demorar muito.

Ele partiu na frente junto de um gesto de mão, fazendo o filho segui-lo, ambos desviando-se das pessoas que iam em diversas direções e berravam qualquer coisa, que provavelmente faria sentido para alguém.

Dualitas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora