Epílogo

79 3 2
                                    

QUINTA, 1 DE OUTUBRO

09:43

A sala de interrogatório da esquadra da polícia de RiverValley era fria e escura. Eu estava sentado junto à mesa onde se encontravam diversas provas do "crime" que ocorreu no nosso bairro. O agente da polícia que estava à minha frente focava o seu olhar furioso. Será que ele pensa que fui eu que fiz aquilo tudo?

O tablet da polícia estava pousado ao nosso lado. Eu já me tinha preparado para que ele dissesse alguma coisa, mas ele apenas permaneceu calado, ligou o tablet e o que nos mostrava era as imagens de vigilância da central de esgotos.

Eu a assassinar aquelas pessoas todas, a transformação da Rose e todas as coisas inexplicáveis que aconteceram lá foram todas gravadas. Nesse momento, o agente da polícia dirige-me a palavra.

- Não sei o que dizer... Os vídeos mostram claramente que você matou aquelas pessoas todas... O jovem podia ser acusado de homicídio qualificado, mas estas... coisas que o vídeo mostra não podem ter acontecido.

Não sabia o que lhe responder.

Adam - Não, eu...

- É impossível! Vocês eram dos únicos moradores do bairro. Quando íamos recolher os cadáveres que estavam nos esgotos, eles desapareceram. Só tinha sangue no local. Os corpos aparecem no vídeo, mas quando chegámos lá, sumiram.

A minha cabeça deu um bug.

Adam - Espere... O QUÊ?!

- Preste atenção.

O homem tinha trazido uma pasta cheia de documentos. Ele entregou-a a mim e eu comecei a folhear as páginas com cuidado, porque sabia que aquelas folhas eram objetos confidenciais. Não acredito! Eram as certidões de óbito de muitos dos vizinhos do nosso bairro.

- Os únicos que não estão aí são a senhora Pearl, o senhor Howard e o John e Serena Williams, os vossos pais. Mas todos os outros constam na base de dados da cidade, e todos eles foram dados como mortos há pelo menos 5 anos atrás. Mas não pode ser, pois eles aparecem no vídeo, junto com a Rose Thompson que também está morta. Portanto, tecnicamente, o jovem não matou ninguém. Através das gravações, localizamos o rapto dos seus pais feitos pelo casal de idosos, ou seja, você teve que matá-los por legítima defesa.

Adam - Não faz sentido... Eu vi aquelas pessoas! Como é que elas nunca existiram?

- Foram os seu pais que compraram a casa, não foi? Eles deviam saber que aquele bairro estava praticamente abandonado.

Adam - Não, eles disseram que...

Os vizinhos nunca existiram?

Isto é informação nova que provavelmente a Emily não descobriu. Eles estiveram sempre mortos.
Seriam eles ajudantes da Rose que ninguém procurou? Provavelmente, só a nossa família, a Pearl, o Howard e a Emily é que eram reais. Os velhos também foram enganados como nós. Todos os outros moradores eram fantasmas? Seria por isso que as janelas das casas estavam sempre fechadas? Nunca vou ficar a saber o que é verdade e o que é mentira, pois todos aqueles que podiam me responder a essa pergunta morreram... outra vez.

A minha mãe disse que nos íamos mudar para um local sossegado. Afinal, esse local era mais silencioso do que eu pensava.

- Adam Williams, não estamos aqui para o acusar de um crime, mas sim para nos ajudar a resolver este caso. Tem alguma coisa a dizer sobre isto?

Adam - Não há qualquer explicação científica para o que aconteceu. ...Foi o Diabo.

(...)

17 DE ABRIL

12:11

Passaram-se 20 anos.
Eu estou neste momento no meu escritório a acabar de escrever este livro. Ficaram espantados? Vocês estão a ler o livro que eu, Adam Williams, escrevi e que me fez tornar um escritor de sucesso.
Decidi relatar tudo o que vivi para vocês, leitores que me seguem desde que o meu livro começou.

Ainda muita coisa ficou por explicar e nunca ficarei a saber o que realmente aconteceu naquela noite. Até aos dias de hoje, ainda não sei distinguir se aquilo foi real ou apenas ou grande pesadelo. Eu e a Anna ainda nos estamos a adaptar à nossa nova vida sem os pais. Como tinha 16 anos e a minha irmã 13, fomos obrigados a regressar a Washington D.C. e ficar ao cuidado da tia, irmã da nossa mãe. Afinal, somos órfãos, certo?

Mas nós agora somos adultos.

A aventura em RiverValley mudou a nossa vida para sempre. Apesar da herança deixada pelos meus pais, eu e Anna nunca fomos muitos felizes. Eu ando há muitos anos no psicólogo e faço terapia para tentar esquecer o que aconteceu. A queda que a minha irmã deu nos esgotos trouxe-lhe consequências. Ela não recuperou a mobilidade, por isso, a Anna está paraplégica e sou eu que cuido dela, porque nós só nos temos um ao outro.
E mais uma vez, regressei à solidão que tinha.

Mas como eu disse muitas vezes, já estou habituado a muitas coisas.

Nunca tivemos um funeral dos nossos pais. Nada. O sentimento de injustiça invade o meu coração todos os dias, mas tento viver com isso.

Felizmente, esta experiência levou-me a escrever esta obra, que me fez tornar famoso. Há muita gente que não gosta dela e dizem que eu sou um mentiroso. Eu compreendo, é difícil de acreditar isto tudo. Mas desde que vi "a comunidade", eu acredito completamente no paranormal. Não quero voltar nunca mais à cidade de RiverValley, isso é garantido.

A minha empregada doméstica dirige-se ao meu escritório e aproxima-se do meu ombro.

- Senhor Williams, a sua irmã está lá fora à sua espera para a vossa saída.

Esqueci-me completamente!

Adam - Obrigado, Greta.

Detesto ter uma empregada doméstica. Já sabem que eu não gosto de mostrar que sou rico. Só demos trabalho à Greta porque a Anna insistiu.

Vamos tomar um café à Starbucks e pôr a conversa em dia. Tenho que me apressar.

Quando chego junto do meu carro, a Anna olha para mim com uma expressão zangada.

Anna - Finalmente chegaste! Ajuda-me a entrar no carro, irmãozinho querido.

Adam - Hahaha...

Ela pode ter perdido as pernas, mas o sentido de humor nunca lhe faltou. É assim a nossa vida: eu e ela contra tudo e todos. Pego na cadeira de rodas e coloco-a dentro do automóvel. Em seguida, sento-me no lugar do condutor, introduzo a chave e o meu pé vai direito ao acelerador. Afastámo-nos da nossa residência e circulamos por entre as ruas de Washington.

Antes de ir embora, dou-vos um conselho. Não estou a pedir para que vocês acreditem em fantasmas, mas só vos peço para terem cuidado. Olhem à vossa volta. As pessoas que moram ao vosso lado podem não ser boas pessoas. Quem sabe, talvez os vossos vizinhos estejam a preparar algo demoníaco para vocês. Batam à porta deles e vejam. Mas tenham cuidado para não serem levados pelo Diabo...

FIM

***

Acabou de uma forma um pouco dramática, não foi? Mas às vezes, para uma história ser boa, tem que se fazer sacrifícios.

Capítulo Verificado ✅

1158 palavras

A Comunidade Onde histórias criam vida. Descubra agora