Capítulo 7

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As lágrimas não paravam de cair. Todo mundo sabia o quão idiota eu era. Todo mundo sabia que eu gostava de um cara que nem sequer tinha feito nada para ficar comigo. A minha vida era um fracasso aos 16 anos. Eu era uma fraude. 

Olhei para o céu enquanto tentava tirar o catarro que ameaçava cair de meu nariz. Por que eu não podia chorar bonito? Sempre era que nem uma sequelada.

- Ei, mocinha. - Oh não, era Samantha. 

Tentei parar de chorar, mas não consegui. Pelo menos a minha postura de séria eu consegui fazer. Todo o meu rosto estava vermelho e meus olhos pareciam cachoeiras. Minhas bochechas ameaçavam explodir de tão vermelhas e inchadas. Eu juro por Deus que tentei parar de parecer uma chorona.

- O que aconteceu com você? - Samantha perguntou enquanto se sentava ao meu lado. Ela estava com um sobretudo preto, botas e com aquele cabelo loiro de sempre. Samantha aparentava ter 25 anos. Os calouros sempre eram caidinhos nela, mas depois que ela mostrava quem realmente era, o mundo deles caía. 

- Nada. - Balancei a cabeça. 

- Ana. - Ela olhou seriamente para mim. - Conte. 

- Eu só quero chorar. Ok? - Esfreguei o nariz mais uma vez.

- Os pais do Dimitri querem falar com você. 

- Mas eu não quero! - Disse com vontade e alto. Depois me acalmei e completei a frase. - Falar com eles... - Disse baixo.

- Certo... entendi.

Fiquei em silêncio. De maneira nenhuma iria falar algo mais para aquela mulher que me botava de castigo a cada mês.

- Não sei como você consegue voltar para a escola mesmo depois de ter passado uma eternidade estudando. - Me peguei dizendo. Por que eu tinha de ser tão bocuda?

Agora ela iria falar um monte de coisa para mim. "Escuta aqui, mocinha... bláh, bláh, bláh"

- Não é do jeito que você vê. - Ela começou. - É diferente. É um trabalho, não é mais uma escola com possíveis namorados e medo de reprovar. É trabalho. - Repetiu  mais uma vez.

Juntei minhas pernas e afundei meus pés na terra. 

- É diferente. - Samantha reforçou o pensamento. E começou a rir. - São planilhas, são pequenos aborrescentes para cuidar.

Dei uma pequena risada.

- O que foi? - Ela perguntou.

- Você diz como se se importasse com a gente.

- Mas eu me importo.

- Sim, para ganhar seu salário.

- Sim! 

Franzi o cenho, não esperava por essa.

- Mas não é só por isso. Vocês vivem conosco por tempo demais para não nos importarmos... mas também não é assim que funciona. Aqui é o meu trabalho. Meu trabalho é garantir que vocês estudem. 

- Para que os amigos de meus pais digam "uau, essa garota é mesmo uma prodígio".  - Disse imitando os amigos toscos de meus pais. 

Samantha sorriu um pouco. Meu Deus, tinha algo de errado com aquela mulher. 

- Jimmy me disse que eu sou a pessoa que ele mais odeia no mundo. - Ele pode não ter dito isso, mas eu entendi isso. - E disse que eu vou ficar sozinha pra sempre. 

Meus olhos começaram a se encher de lágrimas de novo. 

Samantha balançou a cabeça e olhou para mim. 

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