Abri os olhos, mas a claridade não me deixava os abrir por completo. Franzi a testa e cobri os olhos para ver melhor. Com dificuldade tentei olhar para o lado, minhas mãos estavam nas mãos de outra pessoa, uma figura feminina, ao que parecia.
- Ana? - Ela disse preocupada.
- Mãe? - Reconheci a voz.
- Sim, sou eu mesma. - Ela suspirou profundamente. - Ainda bem que você está bem, meu anjo.
- O que aconteceu? - Olhei para baixo e quanto mais abria os olhos, mais percebia onde eu me encontrava. Minhas mãos estavam enfaixadas, não por completo, mas estavam cheias de arranhões aqui e ali. Minha mão esquerda estava com um fio que conectava a um soro. Eu estava no hospital, admiti. Comecei a sentir incômodo na cabeça e nas costas. Uma fina dor de cabeça que me impossibilitava de abrir e fechar os olhos propriamente.
- Você caiu na escola, Ana.
- Como? - Coloquei a minha mão esquerda na cabeça com dificuldade. Pude sentir o sangue indo e voltando de minhas veias.
- É uma longa história, iremos falar com você quando você estiver melhor.
Meus olhos perambularam pela sala fria, perdida estava.
- Ok. - Disse com os lábios secos.
...
- O que você fez, sua maluca? - Dimitri chegou ao meu lado, gritando na hora do intervalo. Pelo que eu me lembro ele tinha levado um castigo bem pesado da diretoria. Seu resto de ano limpando onde devia a escola.
- Dei um motivo para me odiar. - Dei de ombros.
- Será se não estava claro o suficiente que o problema não era você? - Seus olhos quase saltavam de sua órbita.
Respirei profundamente e olhei para o lado. Até parece que eu iria deixar limpo depois dele ter me dito todas aquelas coisas.
- Agora é.
- Você quer guerra? - Ele disse chegando perto de mim.
Dei de ombros novamente e silêncio se fez.
- Não erámos assim. - Ele disse depois de um tempo.
- Não, não erámos. Mas a culpa foi sua, de surtar do nada.
- Não é bem verdade. - Ele disse cruzando os braços e se encostando na arvore.
- Você pirou, Dimitri. Eu queria apenas conversar com você essa semana e você simplesmente começou ficar pior. Pior! - Me virei para ele e voltei a me encostar na arvore. Estava com tanta raiva de Dimitri que não suportava o chamar pelo apelido que havia criado para ele. E parecia que ele estava com raiva de mim o suficiente para não me chamar de Anabele. Mas de qualquer forma meus pensamentos estavam dispersos.
Ao fundo eu conseguia ver Fernando e sua nova amiguinha conversando em um banco no meio de um lindo jardim florido repleto de borboletas e florzinhas. Fechei a cara no mesmo instante.
- Você que surta do nada. - Ele disse perambulando os olhos azuis para o canto. - Isso que me fez ficar com raiva de você.
- Do nada? - Eu disse tentando me situar na conversa. - Não fui eu quem pulei da janela. E você não sabe o que eu passo na vida.
- Mas Ana, sinceramente, isso não é problema meu se roubaram sua escova de dente ou se o Fernandinho não te olhou hoje. - Ele disse apontando para o garoto que estava a frente.
Abaixei seu dedo e o olhei seriamente. Dimitri ficava engraçado com o braço direito quebrado e roupa de gente normal. Não estava preocupado como antes em usar terno e sapato social. Estava apenas com uma camiseta roxa clara e uma camiseta branca de manga comprida por baixo, sua calça era jeans assim como qualquer outra e seus tênis all star eram pretos e de cano longo.