2

2.3K 275 150
                                    

Mirela- 19 anos

Giro a placa escrita pra todos os lados com as meninas atrás de mim e respiro fundo incomodada por tá fazendo isso tudo de novo

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Giro a placa escrita pra todos os lados com as meninas atrás de mim e respiro fundo incomodada por tá fazendo isso tudo de novo. A vida as vezes prega umas peças que vou te contar viu, é pra matar.

Viro de frente pro aniversariante de novo e as meninas passam indo levar as garrafas de Royal Salut. Todas com a mesma roupa como um uniforme, mulheres de todos os tipos, branca, preta, loira, morena, tem de tudo. Varias na piscina e em volta das mesas com a cara fechada pra gente enquanto outras cagam pra isso aqui.

Minha irmã volta desfilando com a postura impecável de alguém que não larga esse emprego nunca e arqueia a sobrancelha pra mim e eu abaixo o quadro.

Mariana: Pelo menos disfarça, Mirela, se quer trabalhar, coloca a porra do sorriso nesse rostinho.- diz entre os dentes e passa na minha frente voltando pra dentro do hotel.

Não falo nada e sigo ela pra ver se agora eu posso ir embora, porque é a única coisa que eu quis desde que cheguei aqui.

Trabalhei com esse bagulho por uns 9 meses e aí comecei a namorar e parei. Relacionamento não deu certo e o emprego que eu tava também não deu, e aí eu tive que voltar. Chega uma hora que não dá mais pra segurar as pontas com a porra do FGTS e tem que fazer o tal do corre. E por isso tô aqui!

Lá em casa sou só eu e a Mariana, e é assim desde que eu tinha 14 anos. Fomos criadas pelo meu pai, que faleceu quando eu tinha 14 anos e a Mari 16. Ficamos morando com nossa madrinha até a mari fazer 18 e arrumar um emprego e decidir sair da casa dela porque as duas não se batiam e como eu não consigo ficar longe da minha irmã, fui junto.

E foi por minha irmã que eu conheci isso aqui, não é do meu agrado, já foi, mas não é mais. E quando conheci meu ex arrumei uma desculpa pra meter o pé disso. Consegui um emprego de secretaria em um consultório odontológico e assim levava minha vidinha, até o dia que minha menina falou que o filho da puta que eu amava tava me traindo.

Aí deu ruim, meti o pé do relacionamento e o emprego foi de ralo junto, já que a amante do garotão era a minha chefe.

Isso aconteceu tem uns dois meses e a real é que agora eu cago pra isso, sempre fui assim, desapego é comigo mesmo! Masssss, tô sempre perturbando minhas entidades pra me arrumar um emprego melhor. Funciona? Funciona, mas é no tempo deles.

Pego o cigarro de maconha na minha bolsa e já acendo dando um trago. Só assim pra manter aqui, dar uma segurada no ódio é preciso em certos momentos.

Mariana: Tô ligada que tu não queria voltar pra isso, Memê, mas porra tá ficando difícil lá em casa já!- encosta do meu lado pegando o baseado da minha mão dando um trago.- Por mim eu te bancava e tu fazia teus cursos, mas não consigo ainda.

Mirela: Eu tô ligada, Naná, e de verdade eu não gosto de ser bancada, tu sabe disso. Mas também não consigo disfarçar que não tô gostando disso aqui.- ela concorda olhando pra frente e me passa o cigarro.

Mariana: Aguenta só mais um pouco.- para na minha frente e segura meu rosto com as duas mãos.- Logo eu vou poder te dar o mundo e não vou precisar ver essa sua cara de cu.- beija minha testa e dá um sorriso falso me fazendo rir.- Eu te amo, Memê.

Mirela: Eu te amo, Naná!- beijo suas mãos.- Nós duas pra sempre.

Mariana: Pra sempre.- beija minha mão onde tem tatuado seu nome.- Mas vamos desenrolar que tem mais bebidas pra levar, e agora a gente tem que manter uma presença lá.- reviro os olhos fingindo choro.

Mirela: Caralho, pensei que já tava liberada.- bato o pé no chão com aquela bota desconfortável e ela rir.

Mariana: Aí tu acordou do teu sonho.- As outras meninas entram no cômodo pegando as garrafas de bebidas e eu pego uma ficando no início da fila acendendo o fogo.

Puxo a fila entrando na área da piscina e novamente sinto o olhar em mim. Meu corpo queima com a porra da tensão que esse lugar tá me causando, mas mais ainda com o olhar desse homem em mim.

Que ele tá me vendo pela primeira vez hoje, eu tô ligada. Mas ele não tá ligado que eu já sei quem é ele, mas na real, quem não conhece ele?

Sheik, Dono e frente do Complexo do Chapadão. Trinta e poucos anos e cheio de piranha pela favela,  como ser moradora do chapadão e não saber quem é ele? Sei e sei bem quem é, por isso passo sempre longe.

O motivo de várias brigas naquele lugar é ele mesmo. Já vi várias perder o muco por brigar por ele, e já vi várias rolar no chão por ele também. Disputado é ele.

Mas ao mesmo tempo ele tem postura tá? Rende pra ninguém, isso é o que eu escuto por aí. Se eu já vi ele de perto, foi só passando e ainda assim fiz de tudo pra não ser vista, até porque quem não é vista, não é lembrada!

Hoje meu plano de anos foi por água abaixo, porque ele me viu e grudou os olhos legal. Sinto ele acompanhar todos meus passos até a porra da mesa que ele tá e coloco a garrafa no meio da mesa me endireitando e encarando ele de volta, que tira os olhos do meus peitos e olha pro meu rosto dando um sorrisinho de lado.

Mirela: Entregue!- digo sobre as garrafas e dou um sorriso forçado esperando as meninas terminarem de colocar as garrafas na mesa.

Sheik: Muito bem entregue!- Diz me analisando e leva o copo até a boca.- Graças a Deus.- diz antes de dar um gole na bebida me fazendo virar as costas e sair dali com as meninas atrás de mim.

Paro no canto perto dos coqueiros e minha irmã encosta com as sobrancelhas arqueadas e eu já sabia que bomba iria vim.

Mariana: O que tu tá me escondendo, garota?- pergunta parando do meu lado levando os olhos até a mesa do idiota.

Mirela: Tô escondendo nada não, euem!- nego com a cara fechada e os braços cruzados sentindo a tatuagem recém feita no pescoço coçando.

Mariana: E aquele "muito bem entregue" foi o que?- olhou pra mim e riu com um ar de deboche me fazendo revirar os olhos.

Mirela: Entendi essa porra também não!- encaro os olhos que ainda me olha e desvio em seguida.- Cuzão, acha que eu sou essas monas que lambe o pé dele.

Mariana: Ele não quer que tu lambe o pé dele não.- rir.- pela cara que ele fez, ele quer que tu lambe é o pau dele!

Eu dou um tapa nela gargalhando dessa piada bosta e ela pega a garrafa da mão de uma das meninas fazendo um copo pra nós duas.

Mirela: Até lamberia, mas é muito rodado!- faço um bico analisando ele de conversando com uma garota loira.- Pra que, mano? Olha como a garota tá se humilhando pra ele.

Mariana: Igual cachorra coitada, e ela tá desse jeito desde mais cedo.- fala negando com a cabeça.

Mirela: Ele nem é isso tudo, só faria isso pelo Terê, do dois irmãos.- ela olhou pra mim fazendo uma careta concordando.

Mariana: Por aquele ali, eu andava até com uma coleira no pescoço.- a gente rir e assim o papo vai fluindo pra ver se o tempo passa.

Vejo o exato momento que a garota loira se afasta e o moreno me encara fixamente. Viro um pouco de lado pra tentar desviar sabendo que a bebida tá fazendo efeito e eu vou acabar fazendo merda e ele rir percebendo.

Ele joga a cabeça pro lado esquerdo indicando pra que eu vá e eu olho pra onde ele apontou, elevador para os quartos. Filho da puta.

INFLAMÁVEL Onde histórias criam vida. Descubra agora