mudanças

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You look so happy when
i am not with you

- Ei, ei, ei! Podemos desacelerar? - ela estanca quando lhe seguram o braço. Puxa a respiração com força, fechando os olhos quando a brisa gélida bate contra seu rosto. Onde diabos estava a echarpe que vestiu antes de sair de casa? - Beatrice, olhe para mim - ela o faz - Converse comigo?

- Estamos no meio da rua, Lucia. E perdi minha echarpe - o tecido é estendido à ela, que agradece com os olhos - Podemos ir para o carro, por favor? Está frio.

Recebe um aceno em resposta.

Marchou em direção ao carro sem olhar para trás. Só conseguia sentir a presença a seguindo porque já lembrava de seu cheiro familiar. Entro no carro, colocou a chave e, antes que pudesse girá-la, uma mão segurou na sua.

Ela não ousa levantar o olhar.

- A presença dela balançou você tanto assim, huh?

Beatrice engole a seco.

- Não. Não estou balançada - Lucia acena com a cabeça, não parecendo muito convencida - É só...complicado.

- Ava é sua ex namorada que foi embora sem muita explicação. Tenho certeza que vocês duas têm muito assunto inacabado - Beatrice deseja bater a própria cabeça no volante.

- Não temos nada inacabado. Terminamos o que tínhamos anos atrás, e então ela partiu. Cada uma seguiu com sua própria vida. Só foi um choque vê-la novamente, só isso.

Lucia umedece os lábios, mas não rebate.

Sabia que Beatrice costumava digerir as coisas em silêncio antes de expô-las ao vento. Ela precisava de um tempo, Lucia a daria o tempo que lhe fosse necessário. Apenas apoiou a mão em sua coxa, dando o sinal verde para Beatrice ligar o carro e sair do estacionamento tão rápido quanto entrou.

O caminho foi feito em silêncio sepulcral.

Foram vinte minutos de uma Beatrice de postura retilínea dirigindo devagar, com Lady Gaga - playlist de Luce - cantando baixo ao fundo.

Sua mente estava uma bagunça.

Ava não deveria estar, não sei, em um de seus shows espalhados pelo mundo? Pensou ela, coçando a nuca quando estacionou em frente a casa.

Tirou uns instantes para observar a casa da frente. Os dois carros estacionados no jardim. Nada de novo. Exceto pela cortina do quarto de Ava esvoaçante, aberta.

Ela pigarrea, entrando em casa sendo acompanhada por Lucia.

O local estava silencioso, exceto pelo barulho ameno da televisão, onde Akira assistia ao jogo, com as mãos agilmente tecendo o crochê. Era um suéter para Lucia, ele disse quando começou.

Beatrice nunca pensou que os pais fossem tratar sua sexualidade daquela forma.

Sofreu por anos à fio, pelo medo iminente de falar ou de descobrirem seu maior segredo. Amou em silêncio, chorou pelos cantos para acabar noiva de uma mulher, com os pais as recebendo para o natal, o pai costurando um suéter para ela e a mãe cozinhando sua sobremesa favorita.

The golden hourOnde histórias criam vida. Descubra agora