Eu só quero ter força para alcançar todos os meus objetivos, coragem para encarar meus medos e manter minha cabeça sã enquanto ando por caminhos tortuosos.
Eu quero ajudar seja quem for sem o medo de ser atacado pelas costas, nem todos são honestos, nem todos são bons, mas, nós todos somos pessoas.
Minha obrigação todos os dias não é só garantir o sustento da minha casa, eu visto minha farda e rezo para minha arma não sair do coldre, pois, quero dar a todos a segurança de andar na rua à noite sem a necessidade de andar rápido porque pode ser assaltado, morto ou algo pior.
Um dos jovens em pé no palco repetia para si mesmo a oração que escutou o pai rezar a vida toda antes de sair de casa para trabalhar enquanto escutava o corregedor da polícia civil, Carlos Albuquerque, discursar sobre o trabalho da polícia e como são julgados diariamente; ainda assim, no primeiro sinal de perigo, eram chamados para assegurar a proteção da população.
Apesar de ser uma profissão desvalorizada e marginalizada, iam às ruas diariamente ser a segurança da população dando às vezes suas vidas no lugar.
Samuel abriu os olhos assustado escutando as palmas com o fim do discurso, sorridente, observou todos comemorando a formação dos novos membros da polícia civil, mas continuou no palco com os outros, olhou para a plateia procurando por sua família, porém, Alexandra realmente não tinha ido.
Diego e Alana estavam com Ricardo, ao menos seus filhos puderam ir prestigiá-lo, o filho era o mais animado enquanto a filha sorria tímida com a cabeça próxima ao ombro do seu amigo de longa data assustada com as palmas.
— Fique mais alerta, Samuel. — O corregedor mandou quando se aproximou dos novos policiais. Entregou a Samuel sua pistola taurus calibre .38 e o distintivo, depois o abraçou e parabenizou.
— Estava vendo meus filhos, eles estão tão felizes quanto eu. — Samuel respondeu envergonhado, infelizmente, a pele caucasiana não deixava esconder sua reação, e colocou a arma no bolso, aquela era de enfeite, uma recordação.
— Certo. Diógenes e Torquato também vão para a sua mesa, precisamos conversar. — O corregedor avisou para o agente e sorriu antes de ir para o próximo concludente.
Samuel abaixou a cabeça e sorriu, depois, seguiu os outros colegas que ao descerem do palco eram abraçados por suas esposas, amigos e familiares, estava surpreso com aquele aviso do corregedor, apesar de ter uma noção do que se tratava, entretanto, ali não era hora para pensar nisso.
O agente caminhou pensativo até seus filhos e os pegou no colo, Ricardo se aproximou curioso pela mudança de semblante, os olhos pequenos quase escondidos nos pés-de-galinha observavam Samuel esperando que explicasse a razão de estar pensativo, não era o semblante de uma pessoa que tinha começado a realizar seu sonho.
Samuel estendeu a mão, mas Ricardo a ignorou e o abraçou, deixando Samuel ainda mais corado.
Alguns policiais estavam observando e comentando, irritando Samuel com a possibilidade de estarem sendo insultados, o que o fez se soltar logo.
— Parabéns, ex-sócio. Ricardo disse animado para o policial. — Agora eu vou ficar com todo o dinheiro das causas — Brincou, andava trabalhando mais nos últimos meses para que Samuel ficasse focado nos estudos.
— Agora você pode tirar férias. — Samuel entrou na brincadeira e Ricardo negou.
Ricardo pegou Diego no colo e foram andando até as mesas do buffet que acontecia lá na Academia da Polícia Civil.
— Desde quando você fala isso e cumpre? Eu já sei que vou acordar de madrugada e ir para tua casa quando precisar participar de uma operação, mas não me importo. — Respondeu e empurrou a porta para passarem. Se tivesse um pouco de coragem também teria entrado naquela profissão.
A área externa da academia estava com mesas de plásticos e uma toalha azul-marinho as cobrindo, procuraram pela foto de Samuel e se sentaram à mesa, logo os outros iam encontrando seus lugares e garçons passavam entregando alguns aperitivos, o novo policial apontou para as três cadeiras vazias na mesa, mas Ricardo não respondeu.
— Quando você vai se lembrar do que conversamos, Azevedo? — A voz de Carlos chamou a atenção dos dois.
O advogado e o policial colocaram as crianças nas cadeiras delas e se levantaram para cumprimentá-los e perguntar se queriam juntar-se a eles à mesa, Diógenes e Torquato estavam do lado do corregedor e recusaram, mas Carlos aceitou e cumprimentou Ricardo antes de se sentar.
— Nós vamos mudar nosso cronograma. Aproveite um pouco a festa e daqui vamos começar os trabalhos. — Carlos disse para Samuel, que olhava confuso para Ricardo.
— Eu disse que não tenho férias. — Ricardo disse para o colega se intrometendo. — Samuel, você vai com eles e eu levo Diego e Alana para minha casa — Avisou e pegou uma caipirinha para beber.
— Só vai tomar essa dose, Ricardo. — Carlos falou, apontando para as crianças, e o advogado revirou os olhos entediado, o corregedor parecia seu pai.
— Vocês podiam deixar eu começar só na segunda, como combinamos. — Samuel reclamou, queria poder beber e se divertir depois de meses de curso.
— Claro que não! Assim perderemos o rastro do fugitivo. — Torquato discordou.
— Precisamos localizar o Dias e prendê-lo rápido, a central informou que ele está na região do bairro Bom Jardim, mais precisamente, na comunidade do Marrocos. Essa área é comandada pela facção Comando Vermelho e rival da GDE – Guardiões do Estado facção a qual Dias se batizou após "rasgar a camisa".
— Então o Comando Vermelho realmente o encontrou. Temos pouco tempo para resgatá-lo — Carlos disse para o inspetor e Torquato concordou.
Ricardo e Samuel só observaram em silêncio, o agente percebeu que teria muito trabalho pela frente, mas estava ciente disso desde que concordou em participar daquele grupo especial, uma unidade especializada em rastrear e prender apenas foragidos e criminosos de alta periculosidade com os poucos recursos financeiros que o estado estava fornecendo.
— Podemos parar de falar isso aqui. Têm crianças na mesa — Samuel pediu, Diego observava os policiais falando com os olhos arregalados, prestando atenção, enquanto Alana abraçava Ricardo, era mais medrosa que o irmão.
Os policiais mais velhos não falaram nada, apenas pegaram mais alguns tira-gostos para comer e Ricardo aproveitou para pegar outra caipirinha sem ninguém perceber e continuar bebendo, ia precisar, seu amigo não tinha sossego e ainda tirava o seu.
Notas:
Taurus: Revólver utilizado por policiais no Brasil.
Calibre: Serve para verificar o diâmetro externo de projéteis ou corpos cilíndricos.
A organização criminosa Comando Vermelho é originária de presídios do Rio de Janeiro e na década de setenta era conhecida como falange vermelha, tendo sido alterado nome do grupo após a prisão de um dos seus membros depois de um cerco da policia que gritou "Aqui é comando Vermelho!"
Facção Guardiões do Estado é uma organização criminosa originária do Ceará com data do nascimento indefinida, atualmente é a terceira maior facção do estado, atrás do Comando Vermelho – CV e Primeiro Comando da Capital - PCC.
Rasgar a camisa: Deixar uma Facção e se batizar em outra.
A título de curiosidade, pode-se conhecer um pouco dessas facções assistindo as séries 400 contra 01 na amazon prime sobre o Comando Vermelho, PCC o poder secreto na HBO Max, A irmandade na Netflix.
Os livros Comando Vermelho, a história Secreta do Crime Organizado de Carlos Amorim.
A guerra, a ascensão do PCC no Mundo do Crime, Bruno Pases Manso.
Entre outros
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Unidade Especial de Investigação - Vol.01 - O Resgate
ActionGustavo dias, policial militar exonerado por ter sido julgado por crimes de grande repercussão havia deixado pistas de que estava planejando "rasgar a camisa" traindo a facção a qual se batizou como irmão Dias para ter proteção e continuar foragido...