Prólogo

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Prólogo



"Não me lembro mais qual foi nosso começo.

Sei que não começamos pelo começo.

Já era amor antes de ser."

By Clarice Lispector



16 anos atrás


Letícia


Acordei chateada com o mundo, nem sei o que é, deve ser pós TPM, se é que isso existe, devia ser, nunca me atraso para nada, como todos insistiam em me tachar como à certinha, à perfeita, cansei de tudo isso!

Como filha mais velha, sempre cumpro minhas obrigações, ajudo a cuidar dos meus irmãos: Sophia , Luna e David. Lembro como se fosse hoje o dia que mamãe recebeu a notícia que quase há enlouqueceu, estava grávida de David, rapinha do tacho.

Chego ao colégio atrasada pela primeira vez, encontro Alice no pátio me esperando, curiosa querendo saber como minha noite tinha terminado e impertinente como sempre, me encheu com suas perguntas incessantes, será que hoje ninguém me deixaria em paz? Não queria falar nada, játinha mentido pra para minha mãe. Apenas gostaria de esquecer que sábado a noite tinha acontecido, por Deus, os seres humanos precisam aprender a respeitar o silêncio das pessoas.

Era aniversário de Jéssica irmã de Alice, quinze anos, o sonho dourado de todas as meninas e lá estava seu primo, aquele que dominava minhas noites de sono, sonhava quase todas as noites com ele dizendo o que sempre desejei escutar.

Em meus pensamentos ele era o meu príncipe, aquele que se ajoelharia aos meus pés e me pediria em casamento, me amaria incondicionalmente.

Em algumas noites eu acordava assustada com esses sonhos.

Matt era bem mais velho, eu com meus dezessete anos e Matt já acabara de completar vinte quatro, cada vez que o via sentia um arrepio, minhas entranhas convulsionavam, perdia atéo equilíbrio. Foco Letícia... Foco Letícia...

Sempre repetia para mim como um mantra, eu havia me guardado para ele, jurei para mim mesma que me entregaria para o homen que escolhi, seria com ele a minha primeira vez, eu sonhava com aquilo e seria dele, somente dele, para sempre.

Podem me chamar de louca, eu nutria essa paixão por ele desde os meus doze anos. Ele tem olhos lindos, eu sempre me perdia quando encontrava seu olhar, seus cabelos lisos castanhos escuros, ai meu Deus era possível ver os gominhos do abdômen malhado.

Aquela noite era a minha oportunidade, eu sabia que ele estava namorando a Julia.

Acontece que Matt seria meu.




Matt


Era aniversário da minha prima, já tinha até falado com Alice que havia tido um desentendimento com Julia e infelizmente não poderia ir. Alice impertinente como sempre, insistiu tanto que resolvi pensar.

Eu e Julia havíamos brigado, de um tempo pra cá ela só falava em Letícia.

Está louca de ciúmes, sempre foi muito possessiva, quer tudo do seu jeito e na sua hora, Julia não gosta da amiga da Ali. Amiga de infância as duas viviam coladas, se quisesse achar uma era só procurar a outra.

Julia me importuna até do modo que a garota me olhava, explica, que culpa eu tenho? Mulheres, todas extremamente complicadas.

Eu tinha consciência que a garota era linda, convivo com ela há anos, com certeza se transformou em uma mulher charmosa, loirassa, olhos azuis, o corpo dela havia tomado formas acentuadas, acontece que não tinha nada a ver, ela era novinha demais para mim, se Julia com vinte e um anos me dava trabalho imagina uma de dezessete.

Aí não né... Julia pegou pesado, está certo, eu até dei umas olhadas para Letícia, sou homem e não sou de ferro.

Ela era a garotinha loirinha que vi crescer, à considerava como uma prima também.

Os motivos das nossas discussões eram sempre idiotas, sempre uma tempestade em copo d'agua, Julia tinha um congresso e não poderia me acompanhar. Meus pais foram irredutíveis, não poderia faltar de forma alguma, já havia sentido que minha mãe não estava satisfeita com meu relacionamento, sempre implicando falando que a Júlia não era a mulher certa para mim, além de tudo era ciumenta e estávamos brigando muito. Sempre por seu maldito ciúmes, o que ela não entendia era que não havia motivo para se sentir assim, eu só tinha olhos para ela.

Com muita resistência de minha parte e querendo evitar um conflito maior, resolvi ir a maldita festa.





Lembranças de uma noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora