- Ah, te encontrei Penny. - disse Brad me sacudindo.
- Me deixa quieta Brad. Quero ficar sozinha. - cubro meu rosto com a coberta e ele puxa novamente.
- Eles vão vir atrás de você e vão reclamar muito. Vamos logo sua teimosa.
Resmunguei e me levantei. Não adiantava discutir com ele. Brad é filho do doutor Collins. Conheci ele quando veio visitar o pai. Eu me escondi aqui e ele me achou. Viramos amigos e mantemos esse segredinho entre nós.
Brad tem 18 anos e tem uma ridícula mania de me chamar de teimosa. A pele dele sempre está bronzeada, me deixando com inveja. Eu sempre pareço pálida demais. Esse fator mais seus músculos, davam a ele um ar de saudável.
- Você é chato. - conclui enquanto andávamos de volta ao meu quarto, lado a lado, me fazendo sentir pequena perto dele.
- E você teimosa.
- Implicante.
- Fujona.
- Ei! - protestei e ele gargalhou.
Diferente de mim, ele podia usar "cores". Ele estava de calça escura, jaqueta jeans, camiseta azul clara e tênis. Eu? Eu estava com meu belo pijama branco e com os pés descalços. Meus cabelos ruivos se destacavam e estavam soltos caindo nas costas.
Entrei no meu quarto com Brad no meu pé. Sentei na cama e ele se sentou do meu lado. Brad tirou os sapatos, cruzamos nossas pernas e ele tirou do bolso um saco de jujubas.
Minha cama era de solteiro, mas era maior do que as normais.
- Você tem que parar de se esconder Penny. Toda vez que some tenho medo que não esteja lá.- disse Brad engolindo uma jujuba.
- Odeio esse lugar. Não posso sair nunca.- resmunguei e peguei outra jujuba.
- Ainda bem que não perceberam seu sumiço hoje. Eu vi primeiro.
- Olhe ao seu redor Brad. Tudo isso é uma perda de tempo. Estou cansada. - suspiro.
- Veja pelo lado bom, a comida é de graça! -gargalhou.
- Nossa... como você é engraçado. - enquanto ele ria, eu me mantive séria.
- Não vai rir?- perguntou ele.
- Não.
Ele me encarou com aqueles olhos verdes e começou a me fazer cosquinhas.
- Para Brad!- tentei gritar enquanto gargalhava.
- Admita que é teimosa.
- Nunca. - gritei e pulei da cama. Sai correndo pelo quarto. Fiquei de um lado da cama e ele de outro.
- Vamos ver. - ele parou como se estivesse pensando e pulou sobre a cama me puxando. Voltou a me fazer cócegas.
- Bonito hein? - disse Pâmela entrando e fechando a porta. Brad se levantou e eu sentei.
- Desulpe Pâ. - Brad foi até ela e deu um beijo em sua bochecha. - Vou indo - ele veio até onde eu estava e me abraçou - Você ainda terá que admitir. - dito isso, ele saiu do quarto.
- Penny, não quero ser chata, mas sabe o que aconteceria se fosse o doutor Collins que tivesse entrado? - disse Pâmela séria, se sentado ao meu lado.
- Sei...- revirei os olhos.
O doutor Collins não aprovava nada, nada minha amizade com o filho dele. Sou uma má compainha. Ele quer que o filho dele seja amigo de pessoas "sociáveis" como a querida estagiária dele, Mariana.
- Mas não estou ligando. - falo, por fim.
- Penny, Penny...
- Já sei o que você vai falar. Poupe a sua voz e meus ouvidos. Quero dormir Pâ. Me deixe só.
- Tudo bem. - ela se levantou e me deu um beijo na testa. - Descanse.
Fiz que sim com a cabeça e ela saiu. Passados alguns segundos, gritei:
- Entra logo, Brad.
Ele entrou sorrindo e sentou na beirada da cama. Eu já estava deitada.
- Vou voltar todos os dias. Aceitei um estágio aqui. - ele sorriu.
- Legal. Vai tomar o lugar da Mariana?
- Vamos ser colegas. Meu pai vai dar um jantar para no conhecermos...eu quero que você vá. Vai ser na minha casa.
- Sério? - me sentei, animada, mas depois minha animação fugiu.- Seu pai não permitiria.
- Não pedi a permissão dele. Te pego aqui amanhã às 07:00.
- Brad, eu...- e tudo escureceu.
...
Eu estava em um salão sem luz alguma e sem móveis. Uma voz retumbou de todos os lados:
- Hahaha Penny. Fique ai se iludindo que terá uma vida normal. Você não terá nem uma vida.
...
Quando abri os olhos, estava meio zonza. Estava tomando soro e respirava por meio de um aparelho.
Tentei levantar, mas uma mão me segurou.
- Descanse Penny. - reconheci a voz de Pâmela. Os olhos dela estavam inchados.
- Por quanto tempo eu...
- Uma semana... fiquei muito nervosa. Brad te visitou todos os dias escondido. O pai dele proibiu de te ver.
- Droga. Ele é meu amigo, ou pelo menos era. Odeio tudo isso.
- Tenho que fazer meus deveres aqui Penny. Volto a noite.
Depois de dez minutos que ela saiu, me desconectei dos aparelhos, juntei minhas poucas roupas em uma mochila branca e sai escondida para o meu esconderijo. Ficaria ali até anoitecer e fugiria. Se fosse pra morrer, não morreria ali.
Me escondi atrás de algumas caixas e improvisei uma cama ali mesmo. Dentro das caixas tinha comida, guardei algumas coisas na mochila e deixei ali do lado.
Passados alguns minutos, ouvi a porta se abrindo e me encolhi.
- Sei que esta aí Penny. - ouvi a voz de Brad, mas não me manifestei. - Penny, não dificulte as coisas.
- Vá embora. - murmurei.
Ele caminho até as caixas e me achou. Se espremeu entre uma fresta e se sentou ao meu lado.
- Não vou. Somos amigos lembra?
- Brad, eu vou embora. Não adianta dizer nada. Eu vou. Volte para seu pai e seu novo emprego. Viva sua vida. Me esqueça.
- Às vezes me esqueço do quanto você é dramática. - Brad diz, revirandoos olhos. - Mas se é o que você quer, vou te ajudar. Conheço um lugar em que você pode ficar pelo tempo que quiser. Te encontro aqui à meia noite e meia. Fique quieta e não saia daqui.
Agradeci mentalmente por aquilo, pois só de pensar em fugir sozinha eu ficava apavorada.
Ele saiu com dificuldade e ouvi a porta sendo trancada. Lá de fora ele gritou algo como "ela não esta aqui também".
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Sonhadora Incontrolável - A História de Penny Black
AventuraUm sonho... Ou não? Penny Black descobrirá que o mundo é bem maior que seu quarto e a verdade é tão variada quanto o tempo lá fora.