prólogo.

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Aeroporto Inter. de Los Angeles, LAX.
Sábado, 08 de Janeiro de 2022, 00:10.
Califórnia, Estados Unidos.

A vida de Simone Tebet é perfeita: um escritório de Advocacia renomado, uma esposa atenciosa com quem dividiu mais de trinta anos de casamento e duas filhas que só lhe davam orgulho. Uma mansão no melhor bairro de Los Angeles e uma casa com uma vista privilegiada para o mar. Claro, além das boas amizades que construiu durante os anos. Sem falar do reconhecimento que ganhou depois dos inúmeros casos que resolveu.

Ou pelo menos era.

Há um mês tudo parecia estar desmoronando. A começar pela decepção das filhas, que estavam em Portugal e fizeram um convite quase irrecusável para as mães: passar o natal juntas. Acontece que viajar para a Europa não fazia parte dos planos das mulheres, que optaram por uma noite mais tranquila em casa. Porém, as Marias não entenderam bem as razões pelas quais Simone negou o convite.

Havia saudade; saudade de suas meninas, dos momentos que compartilhavam sempre que se reuniam, dos abraços e do aconchego que era o colo das duas. Mas ainda era um momento complicado. Então, desde os primeiros dias de dezembro não recebia fotos ou sequer mensagens desejando bom dia. Elas estavam magoadas e a morena daria tempo.

O mês passou rápido. "Rápido demais", observou. Diferente do que a advogada imaginava, quandos os fogos subiram aos céus, o sorriso morreu aos poucos, encarando uma cena que despedaçou seu coração. O que deveria ser um momento família, tornou-se uma lembrança dolorosa.

E ali, em um vestido branco estúpido, observando o reflexo dos fogos nas ondas calmas do mar, desejou ardentemente esquecer a forma como encontrou sua esposa naquele quarto.

Como fora capaz de jogar tantos anos de história no lixo? Apenas por uma mulher que, provavelmente, tinha a idade de suas filhas. Como fora capaz de sorrir tão genuinamente por alguém além dela? Não era justo. Jamais seria. Não quando a ideia de Simone era surpreender a mulher ao voltar para casa mais cedo e passar aquela data ao seu lado.

Recebeu sinais? De que as coisas não estavam indo bem? Será que acabou descuidando do próprio relacionamento? Ao mesmo tempo que uma culpa dolorosa invadia seu peito, achava impossível ser a causa de tamanha traição. Amava a morena com imenso afinco.

O silêncio era quase palpável. Não o do ambiente ao seu redor, pois havia uma aglomeração quase pertubadora de pessoas que pegariam o mesmo voo. Não, era em sua mente. Não havia nada além de um vazio repentino, mais um pouco e seria possível ouvir as engrenagens do cérebro dela funcionando. Ensurdecedor. Como dizem: mente vazia, oficina do diabo. Perigoso.

Entretanto, o cansaço físico não lhe permitiria sucumbir às tentações de quem quer que fosse o diabo. Ou o quê. Talvez o diabo tivesse um metro e setenta, olhos verdes marcantes, uma lábia escorregadia e madeixas escuras como a noite. E só talvez carregasse consigo uma aliança de ouro puro, além de uma certidão de casamento. Certo, talvez apenas estivesse magoada demais.

Não, não poderia ser mágoa e não sucumbiria aos encantos de Jennifer. Antes fosse ego ferido ou apenas tristeza; a decepção dilacerava seu peito de uma forma cruel. Queria deixar claro, mas como expressar em um pequeno bilhete ─ uma borda de papel rasgado do caderninho de anotações, que estava jogado na gaveta do armário ─, o que sentia depois de tantos anos de casamento?

"Por anos, os seus olhos foram as janelas da sua alma, um verde que acalentava o meu coração e um sorriso que me deixava preenchida de amor. Por anos, acordar ao seu lado fora a calmaria nos meus dias corridos, em meio ao caos que sempre foi a minha vida. Por anos, ainda que de uma forma desajeitada, nossas danças me provocavam as risadas mais sinceras. Por anos você foi a minha casa, Jen. A mãe das minhas filhas, minha esposa e parceira de vida. Hoje, apenas mais uma pessoa que me feriu."

Enquanto você dormia - [ Simone x Soraya ]Onde histórias criam vida. Descubra agora