CAPÍTULO #9

1.9K 294 16
                                    

Noah McLean

Passamos o Natal exercendo as tradições que minha mãe seguia à risca. Enfeitamos a árvore de Natal, ceiamos, trocamos os presentes e eu já havia decorado todas as músicas natalinas que minha mãe não desligava nem por um minuto. Foi até divertido, mais do que eu imaginava. No entanto, eu não estava com tanta energia. Me sentia como minha irmãzinha, que antes da meia noite já estava capotando na cama.

— Gostou do presente? — Christian questionou, assim que se sentou ao meu lado, na varanda de casa. Precisei tomar um ar e repor minhas energias.

— Gostei muito. Obrigado — Agradeço, sorrindo sinceramente. Christian havia me presenteado com um colar de prata, com pingente de constelação, mas também havia me dado um kit de material escolar e um tablet junto. — Só não entendi os materiais — Falo e ele sorri.

— Bem, acredito que Medicina é muito difícil. E você vai precisar de bons materiais para fazer suas anotações, não? — Insinuou e eu o encarei.

— Eu parei minha faculdade, Christian.

— E não é tarde para voltar a fazer. Noah, você é muito inteligente, todo mundo sabe disso. Você suportou, sozinho pelo visto, um período de depressão. Imagino o quanto tenha sido difícil. E agora que está retomando sua vida, acho que deveria investir em você, cuidar de você. Sabe… Meu pai sempre me dizia que não adianta tentar amar outra pessoa se você não se amar primeiramente. Sabe quando ele me disse isso? — Questionou, chamando minha atenção.

— Quando?

— No fundamental, quando eu pedi conselho a ele, querendo me declarar ao meu melhor amigo. — Sinto o ar me faltar, o encarando rapidamente. Ele riu baixinho. — Eu tinha muito medo de falar qualquer coisa e estragar nossa amizade. Eu pensava em mil e uma respostas que você poderia dizer para negar. Havia tantas pessoas mais bonitas do que eu naquela época, que eu me sentia um idiota por te querer, me sentia errado por te amar. Sempre acreditava que eu não te merecia. — Franzo as sobrancelhas, desacreditado.

— Christian…

— Eu sei. Quando eu falei isso ao meu pai, ele ficou surpreso primeiramente por eu estar falando de um garoto, e não de uma garota. Mas ele foi… o homem mais importante para mim nessa fase de autoconhecimento. Ele me aconselhou inúmeras vezes e me ensinou que antes de eu aprender a amar alguém, eu preciso me amar primeiro. E foi aí que começou meu processo de mudança. Eu queria estar bem para poder cuidar de você, te amar. Mas aí… nos separamos e… foi o meu abismo. Mas meus sentimentos nunca mudaram. — Abaixo a cabeça, mal conseguindo raciocinar tudo que ele havia me dito.

— Eu confio muito em você, Christian… Mas eu não sei se estou pronto para…

— Eu entendo. — Ele me cortou, chamando minha atenção.

— Entende?

— Noah, eu quero ver você bem. Agora, eu sou seu amigo. Estou aqui para o que precisar. Sempre poderá contar comigo. Sei que passou por um momento difícil e o que menos quer agora é outro relacionamento. Eu entendo, de verdade. Não se preocupe comigo. Se preocupe com você. Eu estarei bem, se você também estiver. — Respiro fundo, engolindo em seco, não conseguindo dizer nada. — Aliás, deveria buscar ajuda profissional. Foi o que me ajudou muito também.

— Ajuda profissional? — Questiono e ele assente.

— Estamos entrando em um novo ano, Noah. Faça desse ano, o seu ano. Faça terapia, resolva suas dores internas. Aprenda a se priorizar primeiro. Só assim estará pronto para outro relacionamento. E… se quiser continuar sozinho, está tudo bem também. É sua escolha. — Naquele momento, ouvindo tudo que Christian tinha a me dizer, senti meu peito esquentar, uma chama de incentivo que eu não pensava poder sentir. Sorrio, me inclinando e o abraçando fortemente. Ele pareceu surpreso, mas retribuiu, rindo e afagando meus cabelos.

— Obrigado, Chris…

— Me agradeça não fugindo de novo. — O encaro, sem entender.

— Nunca fugi de você.

— Ok, me deixe refazer minha fala… — Ele limpou a garganta, em uma pausa dramática. — Nunca mais suma ou corte seu contato comigo. — Sorrio, concordando e o abraçando novamente. — Ah! E limites sobre os toques. Lembre-se que eu não sou de ferro — Ditou, em um tom descontraído, que me fez ri timidamente, me afastando por segurança. — Me promete que agora vai começar a cuidar de você mesmo? — Reflito um pouco, recapitulando por tudo que passei e no quão doloroso foi aguentar tudo, ameaçando um atentado contra minha própria vida. Não quero mais nem pensar em passar por tudo aquilo de novo.

— Prometo! — Falo e ele sorri, me dando um beijo no rosto.

— Venha. Vamos comer a sobremesa e assistir filmes natalinos! — Chamou, se levantando e me estendendo as mãos, me puxando pelos braços.

— Ah, não! Filmes natalinos não! Isso é tortura, Christian! — Choramingo ele cai na gargalhada, me arrastando para dentro.

— Então vou te torturar por algumas horas. Todo mundo já se recolheu. Eu quero ver filmes e exijo companhia. — Choramingo mais ainda, sendo arrastado até a sala, me jogando no sofá enquanto ele selecionava vários filmes para vermos, até escolher um, aparentemente de romance misturado com Natal.

Morte súbita.

Me sento ao lado de Christian, que organizou todos os doces que ele fez sobre a mesa de centro antes de iniciar o filme. Resolvo me deitar no sofá, tomando a liberdade de deitar a cabeça no colo de Christian, que não se incomodou, sorrindo e começando a fazer carinhos em meus cabelos. Um carinho tão gostoso que me fez perder a atenção no filme que eu nem estava querendo ver. Senti o sono cada vez mais forte, me fazendo fechar os olhos aos poucos, até apagar completamente.

Quando a Mágica Acontece - Conto Especial de Natal Onde histórias criam vida. Descubra agora