Capítulo 1

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*Rebeca pov*

— Meu Deus — foi só o que consegui falar.

Fiquei por um minuto com a carta na mão encarando o nada. Nunca, em todos esses meses, eu imaginei que ele faria isso. Lucas, você é de outro mundo!

Fazia um pouco mais de seis meses que Lucas tinha voltado à Inglaterra. Sua mãe tinha recebido uma oferta de emprego em Londres, sua cidade natal, e ele teve de ir com ela.

— Quando você vai? — Perguntei, após me recuperar da notícia que me pegara de surpresa.

Temos que estar lá semana que vem, então minha mãe vai partir no domingo — respondeu Lucas, com a voz triste.

Você não tá feliz? Vai estar voltando para o lugar onde você nasceu e cresceu, sempre demonstrou seu amor pela Inglaterra — Eu tentava não deixar transparecer minha completa infelicidade com a partida dele, mas não sei se estava dando certo.

Amo minha cidade, mas também amo você. Não queria te deixar. Ainda se fosse para ficar uma semana a passeio, tudo bem. Mas não é assim. Vou morar lá permanentemente, não vou mais ver você.

Também me dói muito o fato de não nos vermos mais — confessei, por fim —, você é quem faz cada dia meu mais alegre.

E o namoro, acredito que você não vai querer manter um namoro a distância, não é? — Sua expressão facial era de tristeza, aquilo estava me doendo.

Eu não sei... Não acredito que nós em continentes diferentes continuemos a dar certo. Não é a mesma coisa sem a pessoa aqui pra gente abraçar, beijar, dar carinho.

Aquele dia foi um dos mais tristes para mim. E o pior, estávamos juntos há apenas quatro meses! Não pude ficar nem meio ano com o menino que eu amava, e ele já teve que ir embora de minha vida.

Passamos o Natal cada um com sua respectiva família, mas o ano novo nós passamos juntos, e acompanhados de nossos amigos. Nem todos foram, alguns ainda ficaram com suas famílias, mas quem pôde passou conosco o réveillon. Estávamos eu, Lucas, Madu, Elis, Theo, Gi, Lays e Breno. Foi uma noite muito especial, vai ficar guardada para sempre em meu coração. No primeiro dia do ano, ficou combinado de então irem os amigos que não puderam ir na virada, e eles todos foram. Aquele grupo realmente era como uma família.

Quando entrava a primavera, em meados de março, estava fazendo um ano da nossa primeira interação, aquela na porta da sala de aula, quando trombei com Lucas e meus livros caíram:

Ah, me desculpe! Deixa que eu junto pra você - disse ele, se abaixando para pegar os livros.

Não, não precisa-

— Imagina! — Lucas tinha me cortado no meio da frase — Eu que derrubei, e, pronto, eu que juntei.

Ele colocou os livros nas minhas mãos. Nos olhamos nos olhos por um tempo, com nossos corpos bem próximos. Extremamente corada, eu tinha dito, me enrolando um pouco:

Bom... é... muito obrigada...

De nada. Você está bem? Não se machucou?

P-pode deixar, estou bem. Boa aula — respondi, por fim, evitando todo contato visual possível.

Aquele dia foi, para mim, o começo de nosso romance. Embora eu negasse na época, eu pude sentir uma conexão imensa sendo criada ali. E quando estava se completando um ano desde aquele dia, Lucas veio e me disse que ia morar na Inglaterra, do outro lado do oceano. Durante a nossa conversa eu evitei ao máximo que ele visse o quanto eu estava triste, não queria dar mais essa preocupação para ele. Mas quando eu fui para meu dormitório, eu me deitei na cama e lá fiquei, já criando saudades dele.

E agora, meio ano depois de ele ter partido, ele me vem com essa carta. Me pegou de surpresa, eu confesso. Nunca imaginaria. Uma carta? Escrita à mão? Depois dessa, me deu até uma saudade dele. Ouvi minha consciência dizer "Quem vive de passado é museu, senhorita Jenner", mas mentalmente respondi: "Então pode me chamar de Louvre".

Abri o Instagram e fui no perfil dele, ver se tinha fotos dele lá. Pelo menos durante o nosso namoro, aquele aplicativo ficava só de enfeite no celular dele. Havia cinco publicações desde que ele ainda morava em LA, e a primeira era a foto da janela do avião. Achei graça, e fui ver as outras. Jesus, a Europa deixou ele mais lindo do que já era, e eu julgava isso impossível.

Se não desenvolveu sentimentos por ninguém mesmo como disse na carta, então virou um baita de um mulherengo, porque em uma das fotos ele estava bem próximo de uma garota que aparentava ter a idade dele. E quando eu digo bem próximo, quero dizer de chegar a colocar a mão na perna dela, enquanto a outra segurava a cintura. Deu uma leve pontada no coração, mas eu lembrei que em uma festa eu já peguei mais de uma pessoa depois do meu término, então não vou ser hipócrita.

Terminei de ver as fotos, fechei o aplicativo e desliguei o celular. Era sábado, o inverno estava chegando, estava bem frio na rua e o clima nublado. Desci para a sala e fui falar com minha irmã.

— Madu, você não tem ideia.

— Alguém morreu? — Perguntou ela com pouco interesse.

— Meio que o contrário — respondi, entregando a carta na mão dela.

— O que é isso? — Indagou, desdobrando a folha de papel.

Deixei-a ler em paz. Um minuto depois ela solta uma gargalhada e me diz:

— Beca, que coisa mais brega! Celular não existe, não?

— Deixa de ser chata, ele quis ser fofo.

— Sempre achei ele um mulherengo, esse papinho de saudade e de não ter se envolvido com ninguém não cola comigo.

— Bom, ele não falou que não se envolveu com ninguém.

— E o lance de não ter desenvolvido sentimentos, que ele disse?

— Uma pessoa não precisa ter sentimentos por alguém pra ficar com alguém. Ele beijou pessoas lá.

— Te esqueceu em um mês, foi?

— Não julgo, um mês depois de ele ter partido eu beijei dois homens e uma garota numa festa.

— Verdade, né? Dois fogosos que não aquietam o rabo. Mas ainda assim, não faz sentido essa carta se ele já se envolveu com pessoas lá.

— Sei lá, talvez deve ter tudo um pico aleatório de saudade. Eu mesma fiquei quando li a carta!

— Cada coisa que eu tenho que passar, só Deus na causa — disse ela, voltando a assistir televisão.

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