the last day

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  Minha vida não era do tipo agitada, eu vivia como podia sem questionar nada nem ninguém. Acho que eu estava mais existindo do que vivendo.

  Eu era uma garota simples, e que se contentava com o que tinha. Meus pais estavam sempre ocupados e mal me conheciam o suficiente para dizer coisas que eu gostava. Eles eram daquele tipo que esqueciam de você todos os dias, mas quando precisava te apresentar pra alguém dizia que era a coisa mais preciosa que eles tinham. Hipócritas no caso.

  Eu evitava pensar nisso, passei quase toda a minha infância implorando atenção e carinho, e depois de alguns anos me humilhando eu percebi que eu nunca teria aquilo que almejava. Então apenas aceitei, e com o tempo percebi que assim era melhor.

  Eu praticamente morava sozinha, já que os dois estavam sempre trabalhando ou indo a alguma festa idiota e sem sentido. Eu as vezes tinha que comparecer a algumas e posso afirmar que era um inferno. Todos fingindo se importar em te conhecer e meus pais lhes dizendo o quanto eu sou educada e perfeita, sendo que na realidade nunca trocávamos palavras além do necessário.

  E com isso, a casa era só minha, eu ia pra escola sozinha, comia sozinha, me divertia sozinha, e praticamente me sustentava sozinha, se você esquecer o fato de que tenho um cartão que meus pais reabastecem toda semana. Acho até que isso é uma recompensa por ser invisível na sociedade.

  Por ser de uma família conhecida no Japão, eu estudava no melhor colégio que tinha. E eu não era do tipo idiota que arrumava brigas atoa apesar do meu temperamento, nem de causar acidentes nos quais me colocariam em detenção. Resumindo eu era invisível.

  Em todos os 18 anos de minha vida eu andei e fiquei sozinha, nunca fui de fazer amigos nem de conversar muito. Eu tentava ao máximo ser educada com meus superiores ou pessoas mais velhas pois tinha o mínimo de senso. Diferente daqueles que era obrigada a conviver.

  E assim foi minha vida, eu não fazia nada além de ler livros de fantasia, ver séries sangrentas, jogar videogame, e ficar em casa.

  Eu não gostava muito de sair, porque fazer isso era saber que teria que ter pelo menos uma troca de palavras simples com alguém. Mas apesar disso eu saia quando ficava com muito tédio, apenas para dar uma volta ou comprar alguma coisa pra mim.

  E foi assim até o acontecido, até minha vida virar de cabeça pra baixo e eu ficar ainda mais solitária.

  Eu me lembro que na última manhã normal que eu tive, naquele dia meus pais estavam trabalhando em casa. Eu não tinha aula então era improvável que eu ficaria sem me esbarrar neles.

  Eu fui até a cozinha e preparei meu café da manhã com minha mãe fixada na tela do computador a sua frente. Era sempre assim, e nunca iria mudar, eu já até sabia a rotina deles.

  Eles acordavam, cada um pegava seu computador e ficava num cômodo trabalhando sem parar até o pôr do sol chegar e meu pai sair pra ir a academia e minha mãe ir na casa de alguma amiga fofocar da vida alheia como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo.

  Era a única "folga" deles, e como sempre faziam, nunca nem ligavam pra mim. Apenas mandavam mensagem dizendo que iriam chegar tarde e pra eu me cuidar. Até me sentiria feliz se eu não soubesse que aquilo era automático, todas as vezes eles faziam a mesma coisa.

  Eu tomei meu café calmamente e me dirigi até meu quarto, vendo meu pai na sala vidrado no trabalho como minha mãe.

  Minha rotina era calma e agradável, eu geralmente me divertia sozinha, mas nos dias em que eles estavam em casa eu não conseguia relaxar nem por um segundo.

The Only ExceptionOnde histórias criam vida. Descubra agora