O que é o amor? (EM EDIÇAO)

Já cometi muitos erros, não vou cometer mais nenhum.

Eu observava Logan correndo pela floresta, era um segredo nosso que ela e eu íamos para a floresta sem a permissão de nossos pais para passar um tempo sozinhas, eu não gostava da ideia de ter que ficar na floresta, mas com ela tudo era diferente, depois de apenas algumas semanas no grupo eu já sentia como se a conhecesse desde sempre e aos poucos comecei a acreditar que ela era minha irmã de outra mãe, nós passávamos a maior parte do tempo fora de casa porque nossos pais não tinham muito tempo para nós e preferiam nos deixar a cargo de babás e outras pessoas para as quais sempre acabávamos escapando. Eu era bastante quieta, mas minha mãe diz que ela me transformou, e não para melhor.

Estávamos correndo como sempre fazíamos quando, de repente, ocorreu a ela ir um pouco mais longe, para os lugares que ainda não havíamos explorado, desafiando-me.

- Vamos, Alice, você não pode me pegar - ela riu na minha cara só para me provocar.

- Claro que posso - comecei a correr o mais rápido que pude.

Continuamos correndo cada vez mais longe das partes habitadas, não estávamos percebendo o quanto estávamos nos afastando, só percebemos quando de repente diante de nós apareceu uma cabana, parecia abandonada, mas ainda assim nos dava uma sensação ruim, não reconhecíamos exatamente onde estávamos.

- É melhor sairmos daqui - sussurrei para ela, caso houvesse alguém na casa, o que eu não duvidava, mas ela era muito teimosa, ou muito curiosa, para variar.

- Por que não entramos e vemos o que há lá? Nada de ruim pode nos acontecer, não é mesmo? - Sua voz não parecia muito segura, mas eu ainda tinha decidido que a seguiria para onde quer que ela fosse.

Nós dois não tínhamos certeza se era uma boa ideia, mas nossa fome de aventura e a expectativa de encontrar um possível tesouro nos mantinham paradas na porta, determinadas a abri-la ou a correr, caso alguém estivesse nos perseguindo. Foi ela quem deu o passo que eu não ousava dar, abriu a porta cautelosamente para não fazer muito barulho e ela rangeu, a cabana estava sozinha e desabitada, não havia ninguém dentro dela, mas havia vestígios de que em algum momento ela abrigou uma família, havia roupas por toda parte, móveis comidos pelo mofo e duas camas apenas com as bases, aparentemente a casa havia sido saqueada há muito tempo, o que nos deu um esconderijo secreto. Logicamente, pensamos em mil maneiras de transformar a cabana em um espaço habitável para duas meninas e, pensando em como as coisas seriam levadas sem que os adultos fizessem muitas perguntas, passamos a maior parte da tarde planejando o que fazer enquanto ficávamos no chão da cabana.

- Confio em meu motorista - disse a Logan, mas ela não pareceu gostar muito da ideia.

- Dissemos que nada de  adultos - ela me disse com seu eventual olhar acusador, aquele olhar que ela me dava toda vez que eu esquecia algo ou deixava escapar algo que não deveria ser mencionado e, como nesse caso, quando ela não concordava comigo.

- Mas ele não vai dizer nada - assegurei-lhe - Marcus é um homem de palavra, tenho certeza de que ele nos ajudará.

- Bem, nós confiaremos nele, mas o que faremos com meu pai? - Agora ela me deixou pensando um pouco.

- Você poderia dizer a ele que, como passa mais tempo na minha casa do que na sua, gostaria de mudar algumas coisas para o meu quarto - tive essa ideia do nada e achei que seria descartada, como quase sempre que abria a boca, mas, para minha surpresa, os olhos de Logan brilharam.

- Não acho que seja uma má ideia, pode funcionar, mas sua mãe não vai dizer nada? - Ela não olhou para mim e, com seu olhar, examinou o local.

- Ela não é alguém com quem tenhamos que nos preocupar - assegurei-lhe - e se você está se perguntando sobre meu pai, é pior, então nada ficará entre nossa nova casa e muitas horas de diversão - abracei-a e juntas caminhamos de volta ao parque de mãos dadas e pulando, felizes por nossa valiosa descoberta.