Capítulo 5

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Ao chegar no hospital ainda sinto aquela mesma sensação de meses atrás, como se o chão tivesse sido tirado de mim e eu precisasse de alguém 24h do meu lado. Na mesma hora coloco a mão em minha barriga e procuro um local para me apoiar, sentindo um enjoo repentino. Não está sendo fácil, jamais imaginei que teria que pisar aqui novamente tão cedo, ainda mais nessas circunstâncias. 

De longe avisto Nico, e vou caminhando até ele, e é quando percebo que não parei para me perguntar se ele sabia de algo ou se apenas eu estava no escuro com toda essa situação. Mas essa era uma dúvida que eu viveria com, não posso me dar o luxo de surtar porque fui a única ou de surtar porque não fui a única junto com ele, prefiro permanecer na ignorância do que voltar a ser paciente e não visitante desse hospital. 

- Oi Leighton, pensou que não viesse hoje. -diz ele - Falou com o papai? Ele veio com você - vejo ele levantar a cabeça procurando por mais algum rosto conhecido atrás de mim, não me espanto quando percebo o olhar de decepção em seu rosto ao não achar ninguém. 

Nesse momento, me vejo caminhando em sua direção procurando pelo aconchego de seus braços, eu precisava desse abraço tanto quanto ele.

- Alguma novidade sobre o quadro dela? Sabem ao menos o que ela tem, ou isso é sigilo também? - Sei que eu disse que ia tentar viver na ignorância, mas eu preciso saber se ele me escondeu isso também - Ela está sedada? 

Na mesma hora me vejo buscando pelos seus olhos em qualquer um dos leitos, não percebendo que sequer subimos o elevador ainda, o que me leva a crer que, ou Nico chegou agora, ou estava de saída. 

Quando percebo que não irei obter resposta me afasto dele e me apronto para seguir em direção a atendente em busca do crachá de visitante, sendo no momento em que começo a andar que Nico segura meu braço. É ai que eu entendo. Ele sabia, o filho da puta sabia.

- Leighton, você tem que entender. Você não estava nas melhores das situações, você não aguentaria saber.  A gente não podia fazer isso com você. - que ótimo, de repente virei a imaculada da família.

- A partir de que momento eu me afundei tanto que vocês começaram a temer falar comigo sobre qualquer assunto sério? Eu não sou de porcelana, eu não vou quebrar. Eu só queria não ser a última a saber que minha mãe está morrendo, é injusto comigo. - digo me segurando para não começar uma discussão, agora não é tempo e nem lugar para isso.  - Vocês dizem que pensaram tanto em mim, mas em nenhum momento pararam pra se perguntar se era isso que eu queria. Apenas colocaram na mente de vocês que era o que eu precisava e ficou por isso. 

- Não faz muito tempo e era você aqui. - eleva o tom de voz - Você acha que o papai aguentaria passar por isso de novo? É isso que você quer que eu faça, que eu jogue na sua cara? Você passou um mês inteiro aqui e depois vinha fazendo visitas semanais. Acha que não sei que quando o hospital te ligou você não veio correndo achando que era algo com você? Então não venha me falar o que nós temos ou não que contar, ou que você sabe o que é melhor pra você. - dispara Nico enquanto aponta o dedo na minha cara sem dó nem piedade da minha rica alma 

- É claro que você não entende, não foi você que foi deixado de fora das reuniões familiares dos últimos meses né. Você tava com ela. Você sabia o que estava acontecendo. Eu sei que estava um caco, eu ainda estou, mas eu ainda consigo decidir por mim mesma o que eu quero ou não saber, por mais que doa.

É nesse momento que eu ignoro o fato de ter entrado no hospital decidida a viver na ignorância e acreditar que ele não sabia de nada e agora estou discutindo com ele porque não levei minha decisão a sério. 

- É um pedido de desculpas que você quer? Aqui está. Desculpa por não ter te contado. Desculpa por tentar de proteger que nem o papai e a mamãe mas, acima de tudo, desculpa por tirar um tempo seu e dela, tempo esse que você merecia. Mas não comece a acha que por causa disso você perdeu tudo. Então não venha se lamentar agindo como se tivéssemos tirado ela de você Ela ainda está aqui, ela está viva, consciente e, na medida do possível, bem. - dito isso ele sai do meu campo de visão abrindo passagem para que eu vá até a recepção atrás do meu crachá. 

Desprezo a sensação de náusea que me acompanha até que encontro o quarto de minha mãe. Com meu celular em mãos penso em enviar uma recado para Kimberly, porém sou surpreendida com um a ligação de Bela.

- Ela voltou! - grita Bela assim que eu atendo. Na mesma hora dou a volta e procuro por um lugar mais calmo - Ela está de volta, Leighton, a sua ex voltou. - começa a se embaralhar com as palavras 

- Quem voltou, Bela. - cansei dela me ligando toda semana falando que a Lila viu Tatum em algum lugar da cidade e quando recebo a foto é outra loira, não sei como ela continua caindo nessa. Ela e Kimberly são minhas maiores haters quando se trata das minhas ex namoradas. Bela é viciada na Tatum e Kimberly viciada em odiar a Alicia. 

- Dessa vez eu não to brincando, Leighton. - muda o tom de voz - Não foi Lila quem viu, nem eu. Foi a Whitney, acho que nela podemos confiar né? Sem contar que a Kimberly confirmou tudo. - diz orgulhosa de seus trabalhos de mensageira, sempre sobra pra ela - Alicia está de volta na cidade.

Sinto meu estômago embrulhando e, instintivamente, coloco a mão sobre a boca em busca do banheiro mais próximo, quando me vejo sendo amparada por uma enfermeira que nota meu estado e me ajuda. 

Cinco minutos depois estou tomando soro enquanto escuto as meninas brigando com Bela. Eu não havia desligado a chamada, não até agora pelo menos.

Eu preciso de uma bebida.

Doze cartas para você - LeightumOnde histórias criam vida. Descubra agora