Capítulo 1

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"Um fio invisível conecta aqueles que estão destinados a se conhecer, independente do tempo, lugar ou circunstância, o fio pode esticar ou se emaranhar, mas nunca irá partir"
-Provérbio chines 

✮✮✮

Stella

O maior evento de todo adulto é sentir o arrependimento por crescer rápido demais, como se a idade que temos não fosse suficiente para a liberdade que tanto sonhamos. Mas só crescendo, apenas crescendo, sabemos que isso não passa de uma fértil fantasia. Desenhos viram contas, horas de sono viram horas de trabalho e o emprego dos sonhos vira mais uma demissão.

E é assim que eu me encontro: muito puta, cansada e desempregada.

Andando pelos corredores com uma caixa um tanto pesada nas mãos, vejo falsos sorrisos e falas ao meu respeito, como: "Sinto muito, qualquer coisa pode ligar!" "Melhoras!" "Tenho certeza que você vai achar outro emprego à altura." Em meio a tudo isso, apenas uma coisa passa em minha mente: gritar. Mas não seria um simples grito, e sim um grito em que todos ouviriam meu arrependimento por ter trabalhado e gastado meu tempo em um lugar medíocre como esse, onde ligam mais para o status do que para a dedicação. Se eu soubesse disso antes, não teria gastado centenas de dólares pegando trem e ônibus em um lugar caótico como Los Angeles.

Andando pelo corredor, sinto a caixa pesar em meus braços, arrastando de leve o casaco de couro em meu ombro. Olho reto, não querendo dar o gostinho da vitória para todos que não gostavam de mim, jogando a cabeça para trás na tentativa de tirar a franja do meu rosto. Não acredito que fui demitida. Como isso é possível pela segunda vez no ano?

Com dificuldade, pego o celular no meu bolso. Disco o número de Ethan, mas ele não atende. Gravo uma mensagem para ele: — Oi! Você deve estar bem ocupado treinando agora, mas assim que ouvir essa mensagem, pode me ligar? Acho que estou precisando dos nossos encontros às escondidas...

Paro de andar, olhando para o chão. — E também conversar sobre nós dois... — falo baixo, respirando fundo. — É isso, tchau.

Encaro seu contato em minhas mãos, ainda pensando. Ethan, um jogador de hóquei que conheci por acaso há 6 meses, acabou me atraindo por seu jeito enrolado e divertido de falar. Era uma noite de sexta e Mallory foi escolhida pelo jornal onde trabalha para cobrir uma matéria sobre lacrosse. Como uma boa ajudante nas horas vagas, fui junto. Mas o inesperado aconteceu, pois saí de lá com o número de um dos jogadores do time em meu bolso, sorrindo de forma divertida e atrevida antes de ir embora. Começamos a nos encontrar, a conversar e sair, e, quando me dei conta, já tínhamos nos envolvido mais do que o esperado. Assim está sendo minha vida com ele. Ethan e eu concordamos em ficar de forma exclusiva, não havendo mais ninguém, apenas nós e nossos encontros casuais.

Quase no fim do corredor, ouço passos pesados atrás de mim, passos que pareciam estar vindo em minha direção. Me viro, dando de cara com a secretária do chefe tentando recuperar o fôlego. — Está tudo bem? O que houve? — pergunto, mesmo que, no fundo, esteja querendo despejar fogo de minha boca.

A mulher de cabelos lisos e loiros olha para mim e, em seguida, para o fim do corredor. — Não saia agora.

Franzo o cenho, não entendendo. — Como assim? — digo. — Se for para ouvir mais um esculacho, prefiro mil vezes ir embora. — Me viro para a saída, mas a mesma me puxa de volta, quase derrubando a caixa em minha mão.

Empurro suas mãos de mim. — Você quer parar? — digo, já me irritando. — Só porque eu não trabalho mais aqui, não quer dizer que te dá o direito de ser...

Ela balança a cabeça em negação, olhando várias vezes para a frente de nós. — Não é isso! É só que...

— Só que o quê?! — exclamo, perdendo a paciência com toda essa conversa. O que eu ainda estou fazendo aqui? Já deveria estar em um táxi a caminho da estação de trem. — O que diabos você tem...

Destino Entrelaçado Onde histórias criam vida. Descubra agora