Capítulo 2

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"Quando eu te disse que estava bem, eu menti
Como pude pensar que tudo o que eu te dei foi o suficiente?
Porque toda a vez que eu me aproximar, eu vou bagunçar tudo"
Mess it Up - Gracie Abrams

Stella

Estudos apontam que, pelo menos uma vez na vida, iremos ver algo paranormal, algo que fuja totalmente de nossa rotina e nos deixe completamente desnorteados. Bom, sabendo disso... será que chegou a minha vez?

Aos 7 anos, eu tinha uma obsessão um tanto peculiar: sequestrar o Papai Noel. Todo fim de ano, eu pedia a mesma coisa, não importava o que acontecesse; eu sempre pedia aquilo, até que, aos 10, eu quis dar um fim nisso de uma vez por todas. Passei uma semana bolando o melhor plano de todos para raptar aquele velho do saco. Foram noites e várias horas acordada para que pudesse dar certo. Quando chegou a véspera de Natal, eu presenciei o que jamais imaginaria ver: o próprio Papai Noel, comendo a minha isca de biscoitos e um copo de leite. Em um golpe certeiro, o golpeei no meio das costas com um taco de beisebol velho que guardávamos no porão, e, quando o homem caiu no chão, percebi o que estava acontecendo.

Ele nunca existiu.

O homem que colocava os presentes que eu não queria debaixo da árvore era meu pai. No começo, eu não entendia; achei que ele fosse o ajudante do Papai Noel, mas não era nada disso. Fiquei surpresa, mas logo esse sentimento se transformou em culpa, pois ali eu entendi o porquê de ele nunca ter realizado o meu desejo. Ele era o meu pai.

No final das contas, o meu pedido de ter uma mãe que me amasse como eu merecia estava bem longe de se realizar.

Chegamos a conversar sobre o meu desejo, mas, no fim das contas, não passou de uma conversa vazia que não me levava a lugar nenhum. Não o culpo por isso; meu pai tinha uma certa dificuldade quando o assunto era a minha mãe, como se algo sempre estivesse preso em sua garganta, mas ele nunca dizia o que era.

Depois desse dia, passei a não acreditar em mais nenhum tipo de história que envolvesse seres mágicos, até que... aquele dia mudou tudo.

Em uma tentativa falha de jogar basquete sem uma cesta dentro de casa, acabei quebrando uma prateleira inteira. Meu pai ficou furioso, mas sua maior preocupação era se eu tinha me machucado. Depois que me viu perfeitamente bem, me botou para fora da sala e ordenou que eu levasse umas caixas velhas para o sótão como castigo, o que funcionou, já que eu odiava aquele lugar.

Subindo com a última caixa, um urso de pelúcia escapou da caixa, fazendo com que a maioria das coisas presentes nela caíssem junto comigo. Totalmente suja de poeira, limpei as mãos e roupas e comecei a guardar tudo novamente, até que uma coisa no fundo daquela caixa chamou minha atenção: uma foto. A foto carregava alguns amassados e manchas, sinalizando que era bem antiga. Tirei a foto com cuidado, assoprando a poeira acumulada sobre ela. Meu coração deu um salto quando reconheci os rostos sorridentes do meu pai e da minha mãe. O cenário ao redor deles não parecia em nada com Michigan. Virei a foto e vi, escrito com uma caligrafia cuidadosa: "China".

Virei a foto novamente, fixando meu olhar nos detalhes. Lá estavam eles, de mãos dadas, com os outros braços levantados para o alto, irradiando uma alegria contagiante. O lugar era coberto de cerejeiras, com pétalas caindo suavemente com o vento, criando uma aura mágica ao redor. No meio das árvores, havia um lago sereno e uma ponte elegante onde meus pais estavam parados. A foto capturava não apenas um momento, mas um sentimento, uma felicidade que parecia quase desejável

Fiquei ali, sentada no chão do sótão, com a foto entre as mãos, sentindo uma mistura de felicidade e descoberta. Até que, ao olhar bem para a foto, percebi algo estranho: uma linha vermelha.

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