Destino Entrelaçado

Capítulo 6

"Há sempre um pouco de loucura no amor.
Mas há sempre um pouco de razão na loucura"
- Friedrich Nietzsche

STELLA

Hoje, terça-feira de um agosto ensolarado, faz exatos quatro anos desde de que eu me tornei professora de patinação artística. Se a minha eu de quinze anos soubesse que no final das contas ela iria se tornar professora, talvez ela não fosse se cobrar tanto em ser perfeita em todas as competições, e por um momento, não escondesse do pai seus inúmeras treinos

As coisas mudaram muito com o passar dos anos, aliás, como não mudaria? Ninguém é a mesma pessoa desde a adolescência. Às vezes, pessoas boas se tornam pessoas ruins no futuro e pessoas ruins, às vezes tem o seu arco de redenção, uma forma de tentar pagar por todo o mal que fez. Acredito fielmente que todos um dia vão pagar pelas coisas ruins que fizeram, mas claro, nem todos irão ter as consequências que esperamos ter. E em meio a esse raciocínio, de vez em quando me pego pensando...

Que tipo de consequência eu estaria destinada a tomar? Eu fui ou sou uma pessoa ruim, no final das contas?

Olhando para o meu passado com mais cuidado do que antes, existem tantas coisas que eu mudaria sem pensar duas vezes. Como o fato de eu não ter arranjado um emprego mais cedo para poder pagar os remédios da minha mãe, ou talvez o fato de eu não ter me esforçado o suficiente para realizar o sonho do meu pai de me ver se tornando uma excelente astrônoma. Eu ficaria linda com aquele chapéu. Não é que eu não goste do que estou fazendo agora, adoro dar aulas, o fato de você estar ajudando outras pessoas a chegar em seus objetivos é algo que me encanta bastante, mas lá no fundo, acho que eu estou decepcionada comigo mesma

Minha mãe foi diagnosticada com bipolaridade severa no meu aniversário de treze anos. Minha festa foi praticamente um pequeno bolo, com Mallory e Ebony tentando amenizar o fato de que minha mãe teve uma crise e destruiu toda a minha festa, enquanto meu pai dormiu no hospital esperando os exames da mesma, não esperando que sairia de lá com um diagnóstico. A partir desse dia percebi que muitas coisas mudariam para nós, principalmente as condições financeiras. Aos dezessete anos, sacrifiquei o dinheiro da minha faculdade para pagar o novo tratamento da minha mãe, já que sua condição piorou desde o meu aniversário de quinze anos. Não me arrependo do que fiz, pelo contrário, minha consciência pesaria ainda mais se a deixasse nesse estado, mas ao mesmo tempo, o fato de eu ter perdido uma chance de ser alguém na droga da minha vida, doeu, doeu bastante

Tia Betty e Hellen tentaram me fazer mudar de ideia, como pagando minha faculdade na tão sonhada UCLA ou pagando o tratamento de Susan, mas eu não poderia deixar. Eu sou a filha, a responsabilidade de cuidar dos meus pais deve ser minha e foi isso o que eu fiz, cuidei dela, mesmo que ela me odeie desde o dia do meu nascimento. Me sentiria suja demais se aceitasse dinheiro naquela fase da minha vida, eu não conseguiria suportar a ideia disso. Depois de passar pelo namoro mais problemático de toda a minha vida, após muita insistência da parte da tia Betty, acabei aceitando sua ideia de me pagar uma viagem para a Itália, um lugar que esteve na minha lista durante toda a minha infância, depois de Vienna, claro. Eu estava destruída, ele me destruiu por completo, mas a ideia de poder respeitar o meu sofrimento pelo menos uma vez em um lugar longe de tudo, me pareceu uma boa ideia. Com a promessa de cuidarem da minha mãe no meu tempo fora, viajei com um peso o tanto menor, na expectativa de tirar o peso e a dor que ainda carregava

Nesse tempo na Itália, fui professora de música em uma pequena escola no interior da cidade. Foram três anos incrivelmente lindos e leves, pude sentir um pouco de toda a frustração que carrego irem embora com o vento, se misturando com aquelas praias de tirar o fôlego. E claro, esses três anos não seriam nada sem Giovanni