Fica

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PARTE 1

Foi na tarde fria e cinzenta do dia 4 de agosto que eu, Estêvão San Roman, me apaixonei.

Não foi amor à primeira vista, pelo contrário, eu já estava mais que habituado com a sua presença. A saudava todas as manhãs, trocava algumas palavras com ela e, se a ocasião permitisse, às vezes até sorria para ela. Mas naquela tarde algo diferente aconteceu.

Era a primeira vez que me via sem fôlego por causa de uma mulher. Era a primeira vez que meu coração saltava, estremecia, acelerava ou mesmo dava indícios de que iria parar a qualquer momento.

Ela estava linda.

Aliás, ela era linda!

Como ainda não tinha me dado conta disso? Morávamos na mesma casa e não tinha percebido que seu sorriso brilhava mais que o sol no ápice do seu esplendor. Nos falávamos com frequência e ainda não havia notado que esmeraldas eram apenas pedras insignificantes perto daquele par de olhos hipnotizantes. Em que mundo eu estava para não enxergar que ela, Maria Fernandes, era a própria imagem da perfeição?

A partir daquele segundo, enquanto ela dançava para mim (sim, todos seus leves e sincronizados movimentos eram dedicados a mim, e quem ousasse pensar o oposto teria que se ver comigo) me dei conta que a minha vida até o presente instante era medíocre, fútil, irrelevante, simplesmente vivia porque fui condicionado a isso, então descobri tão repentinamente o sentimento mais nobre, mais lindo e mais puro, e me dei conta que cheguei ao céu.

Contudo minha permanência no lar dos anjos não durou muito e no instante seguinte me vi novamente no inferno da minha existência desprezível.

Tudo o que acabara de  idealizar junto da mulher que acabara de roubar meu coração não iria se concretizar, isso porque Maria era proibida para mim.

Eu poderia ter todas as mulheres que quisesse na palma da minha mão. Poderia me dar ao luxo de escolher qual me agradava mais. Poderia dispensar várias e a fila seguia a perder de vista. Mas daquela mulher específica eu tinha que manter distância, porque se me atrevesse em insistir em algo, carregaria o pesado fardo da traição.

...

Segui amando Maria à distância, querendo-a em segredo, desejando-a em silêncio.

Amá-la era o que eu amava fazer, mas doía, ah, como doía!

Vê-la e não poder tocá-la, sentir seu cheiro e não poder emaranhar minhas mãos em seus cabelos, trazê-la para mim e beijá-la, beijá-la e só beijá-la, até ouvi-la implorando para que a tomasse em meus braços e fizesse o que bem entendesse...

Mas tudo isso só ficaria mesmo na minha imaginação, pois na vida real era improvável de acontecer.

Saber que meus devaneios jamais iriam se concretizar, me matava. Ter a certeza que jamais poderia chamá-la de minha, jamais poderia abraçá-la em público, mostrando a todos que ela tinha dono e que era eu o ocupante do posto, isso destroçava meu coração.

Só que então a vida voltou a sorrir para mim, ou melhor, escancarou logo os dentes.

Foi na noite quente e agradável do dia 7 de setembro que as portas do paraíso voltaram a se abrir para mim.

Os quatro anos que sofri calado, que guardei aquele sentimento só para mim valeram a pena. Foram mil quatrocentos e sessenta dias (alguns dias mais) sonhando com o dia em que realizaria todas as minhas fantasias com aquela mulher, mesmo sabendo que a probabilidade de esse dia existir era quase nula.

Mas ele chegou, e aquele dia pude dizer com convicção que eu era o homem mais feliz do mundo.

— Fica.

Aquele tinha acabado de se tonar meu feriado preferido, não porque foi o dia que Dom Pedro proclamou a independência do Brasil, mas porque foi o dia que ouvi minha Maria me pedindo para ficar.

Éramos só nós dois, um apartamento e uma noite.

Eu não precisava de mais nada. A oportunidade que tantas vezes havia pedido estava diante de mim, e sorria de um jeito atraente, um jeito que eu ainda não tinha visto, mas tinha que confessar, já amava.

Meus sonhos jamais souberam descrever aquele momento.

Incrível como a realidade por diversas vezes machuca profundamente, mas essa mesma realidade consegue surpreender de forma inexplicável.

Eu, que sempre gostei de saber todos os meus passos, estava perdido. Perdido em suas curvas, entorpecido por seu cheiro doce, viciado em seu sabor.

Queria fazer de Maria meu lar. Queria me fundir a ela e nunca mais sair dali. Ela era o que eu precisava para me sentir, então, alguém. Meu chão, meu céu, meu ar, minha vida.

Queria poder fazer amor com ela todos os dias sabendo que nunca me fadigaria, que nunca procuraria outros prazeres. Era ela e ela.

Pela primeira vez entendi o termo fazer amor, pois foi o que aconteceu naquela noite.

Uma parte das minhas imaginações foram realizadas, mas apenas parte delas, pois algo me dizia que as oportunidades continuariam vindo, afinal, eu ainda tinha muito o que desvendar.

Um dia cheguei a acreditar que esse amor não era para essa vida, que Maria não era para mim, mas depois do que passamos, uma chance ínfima surgiu e foi nela que me agarrei.

Nunca fui um bom rapaz e talvez não a mereça, mas o fato de ter sido presenteado (pelo menos naquele dia), de ter ido ao céu tantas vezes e voltado ao suplício da minha vida me faz pensar que alguém aprova esse relacionamento.

Talvez eu não esteja sendo desleal. Será?

****

Olha só quem tá aqui 😌😌

Mais uma ficzinha saindo do forno e eu espero muito que vcs gostem, pq tô fazendo com muito carinho 🥰🥰

Comentem, curtam, me xinguem, só não guardem suas emoções pra vcs.

É isso, né?

TQM ❤️❤️















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