Capítulo 5

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Dizem que o tempo é quem cura tudo, que ele é quem é capaz de sanar até as piores dores, aquelas que são insuportáveis, que nos fazem até perder o fôlego.

Mas o tempo trata de uma forma dolorosa. Lenta e dolorosa. 

Seria tão mais fácil se a ferida cicatrizasse instantaneamente, se o peso que se faz sobre os ombros sumisse de repente. Podia ser como um remédio de gosto horrível, que bebemos numa só golada e pronto, mas não, o tempo age como um conta gotas, e parece que são gotas intermináveis, porque o buraco que fica demora muito para se fechar.

— Ai, mãe, por que as coisas tem que ser assim? Por quê?

— Muitas coisas na vida não têm explicação, meu amor, e essa é uma delas.

Já na casa de sua mãe, Maria chorava no colo da mesma. Ela não traria de volta Eduardo, mas certamente seu carinho e cuidado materno fariam aquele momento um pouco mais suportável.

Vera, sua mãe, morava numa cidade pacata do interior, não muito distante de onde a filha vivia. Cerca de uma hora separava as residências. Era viúva e dividia a casa com a filha mais nova, Bárbara.

— Minha vida não tem o menor sentido sem ele, mãe – à essa altura, Maria já não tentava conter suas lágrimas, elas vinham e saiam como queriam. – Como eu faço agora? Como vou viver sem o amor da minha vida?

Contudo Vera não respondeu. Não havia respostas para aquelas perguntas.

Enquanto a filha se derramava em lágrimas, ela apenas acariciava seus cabelos, era o que lhe cabia. Não havia palavras que amenizassem aquela dor, ela bem sabia. A única coisa que poderia fazer era deixar claro que estaria ali para ela.

— Se eu pudesse transferiria toda essa dor para mim – disse a mãe de coração apertado alguns minutos depois. – Me dói a alma te ver assim.

Maria a olhou de baixo para cima, com os olhos embaçados, e tentou sorrir.

Mais um momento de silêncio.

A sala pareceu ficar pequena. A tristeza tomou conta de todo o cômodo, ou melhor, se apossou de toda a casa, transformando tudo num grande rio de melancolia.

Muito provavelmente o sofá antigo, onde estavam acomodadas, agora teria muito mais lágrimas do que histórias para contar.

— Agora sei como se sentiu quando meu pai morreu – com o choro sob controle (por enquanto) ela falou, deitada sobre as pernas da mãe em posição fetal. – Agora consigo entender como a senhora se sentiu.

— Foi exatamente assim. Uma dor tão forte que parece que vai acabar conosco.

— O pior é que não acaba – Maria se virou, ficando de barriga para cima. – Se acabasse, seria ótimo, mas não, ela fica torturando.

— Quando seu pai morreu, eu estava sozinha, a não ser por você e sua irmã. Eu não tinha mãe, nem pai, e meus irmãos e parentes estavam distantes, então não tive muito tempo para sofrer, porque eu tinha que estar de pé por vocês duas – a mãe foi dizendo com calma, se segurando para não deixar as emoções virem à tona. – Às vezes eu passava madrugadas em claro, chorando e chorando, aproveitando que vocês duas dormiam, e acabava sendo vencida pelo cansaço. Assim eu fui indo, até que... Enfim.

Quando notou que os olhos da mãe brilhavam com as recordações, Maria saiu de sua posição e a abraçou. Mas dessa vez foi um abraço diferente, um abraço de quem entendia o momento, um abraço que dizia “agora eu compreendo tudo o que passou”, bom, ela entendia apenas parte da dor da mãe.

— Acho que nunca te agradeci por ter sido a mãe mais maravilhosa que eu poderia ter – o sorriso que enfeitava seus lábios mostravam que seu sentimento era verdadeiro.

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