A morte é uma coisa estranha. Embora seja a única certeza da vida, ela nunca é desejada, e mesmo sabendo que a cada dia nos aproximamos mais dela, tentamos de algum modo tapeá-la, enganá-la, mas não dá. Ela sempre está a espreita, esperando apenas um número ser chamado, para então, buscar o sortudo da vez. Infelizmente o número sorteado foi o de Eduardo.
Quantos questionamentos são feitos diante de um caixão? Quantas perguntas ficam sem respostas? E o que dizer da dor? É ainda pior que a dor física, é como se uma parte do seu próprio corpo fosse arrancada, sem anestesia, sem misericórdia.
São intermináveis os por quês diante da morte, porém não há explicação. Ela vem no tempo devido, e ponto. Ela não tem sentimentos como nós, ela cumpre seu papel, sem se importar com a dor que deixa como rastro.
— Não acredito que isso está acontecendo. Só queria que tudo não passasse de um pesadelo.
Carmen, acompanhada de Maria chegavam juntas da cerimônia fúnebre de Eduardo. Ambas vestidas de preto; ambas com o coração despedaçado.
— Só queria que esse dia acabasse logo – com as lágrimas rolando, Maria concordou com a sogra. – Só queria que nada disso estivesse acontecendo.
As duas se acomodaram no sofá, e ficaram um longo período num choro silencioso.
Hora ou outra, algum empregado aparecia para ver se precisavam de alguma coisa, mas vendo a forma como se encontravam, não tinham coragem de abordá-las, e voltavam de onde tinham vindo.
— Meu Eduardo estava tão feliz naquele dia – Carmen rompeu o silêncio, ainda em pranto, enquanto mantinha os olhos fixos na barra do vestido que estava segurando. – Ele era feliz. Meu filho não merecia morrer desse jeito – por fim olhou a nora.
Maria secou bruscamente uma lágrima que rolava de um lado do rosto.
— Eu não sei o que vai ser da minha vida sem ele – declarou de forma sincera. Estava sofrendo. Amava tanto o marido, e agora era obrigada a viver sem ele.
— Vai ser difícil, minha querida, – segurou sua mão com ternura – mas vamos ter que seguir em frente. A última coisa que ele iria querer, era que ficássemos aqui paradas no tempo. Ele jamais permitiria isso.
Maria deu um sorriso triste.
— Ele não tem o direito de exigir nada, foi embora sem ao menos dizer adeus.
— Ele estava vindo para cá, estava vindo te pegar para a comemoração de vocês. Prefiro acreditar que ele morreu feliz – Carmen sorriu. Ela era o tipo de pessoa que tentava ver o lado bom de todas as coisas.
Maria fixou os olhos na aliança que usava no anelar esquerdo.
— Sabe o que ele preparou para vocês? – Carmen continuou com a palavra; Maria assentiu para que ela prosseguisse. – Ele preparou um jantar sob a luz do luar numa lancha – os olhos tristes da senhora brilhavam. – Ele me levou lá. Até o ajudei em algumas coisas. Você ia gostar muito, bom, eu adorei – sorriu. – E depois, ele ia te dar um anel de brilhantes.
Maria sorriu, mas foi inevitável conter o choro.
— É a cara dele fazer essas coisas.
A sogra concordou sorrindo.
— Aqui está o anel – tirou a delicada joia da bolsa, e estendeu a ela. – Estava no bolso da calça dele.
Quando Maria colocou o anel no dedo, as lágrimas, que eram rios, se tornaram mares, oceanos.
Como a vida era injusta! Qual a razão de tirar a vida de um homem de bem, amante da vida, alguém que só acrescentava? Enquanto criminosos permaneciam soltos, cometendo atrocidades, uma família chorava o luto de alguém que não merecia partir tão precocemente. Sim, a vida era muito injusta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Arde Outra Vez
FanfictionArrogante, insolente e presunçoso. Amante de si mesmo e inimigo da modéstia. Este é Estevão San Roman. Poucas pessoas encorpam a lista de pessoas pelas quais ele daria a vida, e sua família - nem um pouco pequena e discreta - faz parte dela, porém a...