Antes do último ciclo do dia a Lili-Uen e as Iriden chegaram ao penhasco que ficava próximo a Ile-Eril-Eni (mar das brumas), ao longe já avistavam a brancura da enorme mesa de mármore a beira do penhasco. As Iriden foram as primeiras a sentarem-se na mesa circular, seguidas por Lili-Uen que olhava fixamente o braseiro apagado no centro da mesa.
- Por que nos trouxe até aqui, lady guardiã? Interrogou Maicra.
- Como lhes disse anteriormente, precisamos dos conselhos de uma Lilium.
- Não existem Lilium aqui, todas estão em Leal-Dorf!
- Criança, qual teu grau da lembrança eterna? Não sabes tu que as Lilium que se apresentam em Leal-Dorf são apenas miragens das Lilium originais - havia um ar de surpresa no rosto das Iriden – essa é uma façanha simples para aqueles que foram um dia os seres mais sábios da criação de Elior-Uel.
- Mas a tradição oral... – Interpelou Sibila.
- A tradição oral é uma vaga interpretação do Memorial, eu vivi essa lembrança eterna e posso garantir a vocês que as Lilium originais logo sairão de Ile-Eril-Eni.
Maicra e Bulena ficaram ainda mais surpresas com as afirmativas Lili-Uen, não pelo fato de serem reveladas possíveis lembranças sobre as Lilium, mas sim por um Re-Dium (ser comum) dizer que viveu tais lembranças.
Lili-Uen puxou com os dedos um dos fios do seu cabelo prateado e lançou sobre o braseiro, os carvões apagados começaram a arder, ela inclinou-se sobre a mesa e soprou sobre as brasas, um pulso de onda luminosa muito intenso que partia do braseiro se expandiu sobre toda a costa de Ile-Eril-Eni, da direção das escadas que serpenteavam pelo despenhadeiro elas começaram a ouvir sons de gritos indescritíveis, seres subiam rapidamente as escadas, quando já próximos a mesa de mármore suas peles escamosas saltavam de seus corpos como se tivessem sendo esfoladas vivas, elas gritavam, se contorciam de dor, e quando os músculos já estavam de todo descobertos uma nova camada de pele ia se formando, mostrando a beleza e a forma original das Lilium, o espetáculo não era de nenhuma novidade para Iriden e para Lili-Uen, todos em Lev-Land sabia o castigo que as Lilium pagaram pelos seus crimes contra a Grande promessa, as Lilium ainda ofegantes olhavam fixamente e com furor para a mesa:
- Como se atreve... a nos convocar a essa mesa, exilada?! – Falou a Lilium que tomou a frente do grupo.
A medida que se aproximavam da mesa elas pareciam menos animalescas, sua monstruosidade dava lugar a seres esplendorosos de uma beleza ímpar, Lili-Uen olhava fixamente para a líder das Lilium.
- Já faz tanto tempo assim Feng, você até esqueceu meu nome? – Respondeu Lili-Uen.
- Há muito tempo Lili-Uen você perdeu o direito de sentar-se nessa mesa!
-Mas não primeiro que vocês, ó seres mais sábios da criação!
Sibila e Bulena olhavam uma para outra sem entender muito bem aquele dialogo.
Feng tomou acento numa das cadeiras, suas companheiras de pé circundaram a mesa.
- Você sente saudades de casa Lady guardiã?
- A saudade dói menos do que em toda lua cheia ser esfolada viva! Respondeu Lili-Uen.
- A dor é maior quando engraçadinhos tentando se passar por habitantes do mundo atemporal acendem o braseiro desta mesa!
- Sei que temos nossas diferenças, mas não sou leviana, não convocaria vocês se o assunto a ser tratado não fosse importante.
- Os assuntos importantes dessa terra não competem a nós Lili-Uen, para isso existe a Ordem Celestial.
- E se eu lhe dissesse que a filha de uma sereníssima está prestes a ser banida para Arnelium-Reni, você me diria que não compete a você esse assunto?
- Besteira! Não existem Sereníssimas nesse mundo!
- Pense bem, Feng, disse Lili-Uen - essa pode ser a última chance de sermos libertadas desse limbo em que vivemos.
- O único motivo para vocês virem até nós é porque precisam de algo que guardamos, disse Feng,
- Isso mesmo, respondeu Lili-Uen – precisamos do hinário dos En-Loder.
- Voce sabe que a única circunstancia em que eu poderia... – nesse instante Feng e interrompida por Lili-Uen a cantar:
Dane-ed (Além da solidão)
Serim mime (As engrenagens estão cantando)
(...)
Nasid-ed (O silêncio transpassando)
- Como ousa proferir esses versos, Rhaium! Será punida por brincar com a Aliança cinza, sabes muito bem que o único ser que poderia conjurar os membros da aliança estão trancafiados em Nollor-Nill.
- Eu falo em nome de Divalet, pelo dia das lagrimas dos imortais! - A partir desse ponto Lili-Uen começou a falar de uma lembrança tão antiga que as Iriden ali presentes não conseguiram assimilar suas palavras, era como se ouvissem apenas balbuciar palavra sem nexo – Era uma vez no mundo atemporal, o dia em que os imortais derramaram lágrimas. O luto da Vnol-Lil-En original tomava conta de todo mundo atemporal, já havia muito tempo que ele perdurava, o tempo que seria impossível de ser compreendido por seres comuns criados por Elior-Uel, da mesma forma que os habitantes do mundo atemporal não compreendiam como era possível que um En-Loder (criador de mundos) estivesse deixado de viver.
Todos os Rhaium que auxiliaram na grande criação se aglomeravam ao redor do corpo da filha de Elior-Uel, estavam ali os Arad-Rla (cabelos de aço), os Dir-Ired (Ossos negros), os Nild-Rhaium (Cavaleiros Invencíveis) e os Lilium (os cinco seres mais sábios criados), ambos se mantinham em silencio, esperando que em um dando momento a penumbra que cobria seus rostos desse lugar a luz cintilante de Vnol-Lil-En.
E o grande criador de mundos Elior-Uel se levantou de seu luto e ordenou que sua filha fosse plantada em De-Loren, a terra onde foram plantados os guardiões de mundos. A magia da terra de De-Loren daria vida ao coração de Eisabeldan, criar-se-iam mares cresceriam florestas, erguer-se-iam cidades e seus sonhos quando En-Loder agora existiriam no seu coração, no seu mundo, assim Elior-Uel conseguiria devolver vida a sua filha.
Para selar os portais que levavam a terra de Eisabeldan, ele enviou os Lilium e dois de seus Rhaium mais poderosos, numa missão de selar por dentro todos os portais existentes ali. Elior-Uel não queria correr o risco de seus inimigos adentrassem ao coração de sua filha para dominá-lo.
(continua..)
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Heliantos no outono
AdventureEla acordou num quarto escuro, nas paredes negras havia pictogramas fosforescentes que contavam o segredo guardado pelas Mestras da Casa Azul desde a chegada das Iriden a Lev-Land, ela sentia muito frio e fome, estava moída, debaixo de seus braços d...