Heliantos no outono

Segredos de uma Iriden, parte VII.

Ela não conseguia abrir os olhos, estava deitada no mármore frio e negro de uma mesa na sala de costura, as milhares de agulhas da biblioteca estavam sendo espetadas no seu corpo pelas veneráveis mestras, havia agulhas desde as plantas de seus pés ao alto de sua cabeça. Dan-Lil sentia o conhecimento do memorial fluindo por suas veias, ela podia visualizar o tempo, todo ele, passado, presente e futuro como uma coisa só, era tudo tão nítido que ela poderia estender as mãos e tocar a malha da história, desde acontecimentos na terra de Lev-Land até o Mundo Atemporal de onde saltavam centelhas de energias incompreensíveis ao seu entendimento.

Sindel trazia uma última agulha, mergulhada num frasco transparente que continha o sangue de Aiaros-Lil-En, delicadamente ela retirou a agulha do frasco com as pontas dos dedos, abriu a boca de Dan-Lil e a perfurou, de uma bochecha a outra bochecha. Não demorou muito para que a agulha começasse a absorvida vagarosamente pela marca da mandala localizada entre os seios de Dan-Lil, que sentia seu corpo estremecer com todas as lembranças contidas no sangue da antiga mestra, as centelhas que até então eram incompreensíveis começavam a tomar formas, agora tinha noção de sua natureza, todo conhecimento que adquiriu começava a se harmonizar, ela se tornava uma só essência com todos os seres criados e com aqueles que haveriam de nascer, bem como com os sonhos dos seres comuns, a lembrança eterna rodopiava como a linha de uma espiral ao seu redor, quando ela focava num ponto da espiral era como se abrisse uma boneca matrioska, havia uma era dentro de outra era, numa sucessão quase infinita dos tempos.

Dan-Lil havia perdido totalmente a noção dos dias e das noites, à medida que o tempo passava, ela ia recobrando seus sentidos um a um, quando conseguiu abrir os olhos, foi ferida pela luz que vinha da janela, aos poucos foi se acostumando novamente com a luz de Vnol-Lil-En.