10 ~ Eclipse;

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"Do quê uma única noite é capaz de fazer?" foi a minha pergunta para a Lua.

"Coisas que, como você bem sabe, só e posso listar. Mas há algumas coisas que você mesma deve se atrever a descobrir da única forma autêntica; vivendo."

Ela estava minguante, não me daria a resposta que eu queria; não tão fácil.

"Pois eu quero que vossa beldade me conte!" eu sabia que a Lua gostava de ser adulada.

"Você é muito curiosa para uma Concha Vazia. Aliás, não deveria estar nas costas de algum Caramujo?" sua voz era aveludada e esnobe. Ai, como eu prefiro ela na fase cheia!

"Eu irei lhe contar se você me responder primeiro" retruquei, sem nem ao menos hesitar.

A Lua olhou-me desconfiada. Está bem, me disse.

"Mas veja só, antes de tudo" ela atuava para parecer humilde "eu quero deixar claro uma única coisa: Como de se imaginar, recebo belos poemas e lindas melodias, mas nunca ninguém me pediu alguma delas. Oh, por Deus, srta. Concha, eu tenho a história perfeita para sua pergunta!"

E então fez uma pausa tão longa em que o Mar quase me levou da Areia, mas prosseguiu:

"Ora, para ser franca com você, de Lua para Concha" isto ela me disse como se fossemos amigas de muitos anos " a história que vou lhe contar não foi feita para mim, nem ao menos sussurada sobre as colinas. Mas é tão linda que eu quase a invejo. Mas bem, chega de enrrolação;

"Dois amantes se encontravam, já era tarde. Pensando que estavam sozinhos, se amaram; mas eu estava lá observando, escondida sobre as nuvens. Eu estava Crescendo. Nunca soube seus nomes, fiquei tão envergonhada por espiar sua paixão.

"Eles pareciam naturalmente perfeitos juntos, como a união da Areia e do Mar na Praia —, assim você me entende, apesar de nunca terem estado a sós antes. Ambos tinham arte dentro de si e se encaixavam de forma exata um nos braços do outro, como se modelados em uma peça só, mas separados ao chegarem em terra. E eles dançavam, dançavam a mais bela e imperfeita sincronia ao som de seus próprios amores. Foi tão lindo, srta. Concha Vazia!".

Fez-se silêncio novamente. Era estranho, a Lua, ela parecia lamentar.

"Eles riram o tempo todo, mesmo na chuva. Daqui do Céu a chuva é algo tão deprimente, entende?" Ela continuou. "Geralmente só vejo as nuvens cinzas e tristes, ás vezes até zangadas, mas não era assim para eles. Eles a tornaram romântica, se beijaram sob as lágrimas do Céu. Tenho certeza de que fora obra do Cupido, aliás." E ela suspirou profundamente. "Mandei a Estrela da Alvorada para que alertasse o Sol de que deveria se demorar ao nascer, de forma lenta e, assim como eu, se escondesse atrás das Nuvens. Eu sei, não me olhe assim! Mas até eu sentia o pesar do fim da Noite. Antes de se despedirem, trocaram presentes; um deu-lhe o coração do Mar e recebeu um anel em troca, mas não qualquer anel — era uma promessa. Prometeram se amar da mesma forma, algum dia, mesmo que após muitos sóis."

Agora era eu quem se entristecera. Uma única noite pode, de fato, reinventar o amor? Já tinha minha resposta. Naturalmente não pude sair da Areia, então continuei na Praia e a Lua, bem, ela prosseguiu falando.

"Um Eclipse não dura uma Noite inteira, ou um Dia todo. Nós temos algumas horas, ás vezes somente alguns minutos. Talvez eles sejam como nós; o Sol e eu; e talvez as Estações deles sejam como o nosso período de Saros."

A Lua pareceu minguar mais do que o normal, triste.

"Onde está seu Caramujo?" Ela não esqueceu.

Uma Onda vinha em minha direção.

"Eu fiquei pequena demais para ele."


Gabriel MS

Meus Quase ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora