aventura

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Hoje é um dos dias mais especiais do ano: o último dele. Dadas as circunstâncias, faz duas semanas desde que Amelie foi me buscar em Logan City, a caminho da sua casa, em Brisbane. Afetadas pela soberana graça de Deus, vamos passar a véspera de ano-novo juntas, assim como passamos o Natal, que aconteceu há uma semana, junto à sua família.

Agraciada por um lindo nome composto brasileiro, chamo-me Maria Clara. Poderia ser estrangeiro o nome original, algo como "Mary Claire"? Não sei, mas isso não é importante. A verdade é que Amelie corriqueiramente se dirige a mim como Mary Claire, devido a toda a questão internacional em que estamos inseridas.

Há dois anos, comecei a estudar na Universidade de Queensland, ou University of Queensland, que tem uma sigla admirável: UQ. Sempre achei tão similar à do Reino Unido, UK; alguém que não é familiarizado com a pronúncia inglesa poderia facilmente confundir.

Bem, estar no outro lado do mundo, na Oceania, é às vezes desesperador. Ainda assim, é reconfortante saber que sempre posso encontrar consolo no Espírito Consolador.

Assim como eu, Amelie também estuda na UQ, que localiza-se em Brisbane, uma cidade grande da Austrália no estado de Queensland, como o próprio nome da universidade. Foi lá onde nos conhecemos, mais ou menos. Eu faço Psicologia, e ela Antropologia.

Enfim. Nesse momento, estou no quarto de hóspedes da casa de Amelie. Ela foi me buscar em Logan City uma semana antes do Natal para que pudéssemos passar esse tempo de festas de fim ano na companhia uma da outra, como boas amigas.

Eu e Amelie passamos a data que simboliza o nascimento daquele que traz esperança à humanidade com seus pais. Hoje, no entanto, é véspera de ano-novo, e vamos passá-la juntas, somente nós duas, com "algumas aventuras", segundo minha amiga. O planejamento é que comecemos as aventuras, passeando pela Austrália, desde cedo. Algo como o final da tarde do dia de hoje.

São 15h e alguma coisa. Por isso, pelo que me foi apresentado, preciso começar a me ajeitar para o nosso passeio, até que finalmente os fogos de artifício ressoem em meus ouvidos, estrondosos, anunciando que o novo ano chegou. É claro que eu faria isso agora mesmo se não estivesse sendo tilintada pelo som que vem do meu celular: meu irmão está me ligando.

Não sei se deveria atender, mas atendo. Esse menino não dorme, não? A maioria das cidades da Austrália tem doze horas de diferença do Brasil. Brisbane, para completar o combo da perfeição, tem treze horas, ou seja, é ainda mais difícil a comunicação com o meu país de origem.

— Pelo amor de Deus, João Pedro, vai dormir! São duas horas da manhã — digo, atônita.

— Eu sabia que você iria dizer isso.

— Pois é. Não é a primeira vez que você me liga de madrugada. O que você tá fazendo acordado?

— Não sei. Acho que não consigo dormir, mas eu estou de férias, né, mana. — profere, amigável. — E, antes que você pergunte, papai e mamãe não estão acordados.

— Tudo bem. Aproveite as férias, mas, sabe, você vai para o Ensino Médio. Deveria valorizar as noites de sono que lhe são disponíveis, João. — Soltei um risinho, e ele também.

— Quem sabe.

Tentei ficar conversando por um tempo com meu irmão, até que ele conseguisse dormir, mas não rolou. Já se passaram vinte minutos, que não é muito, eu sei, porém, preciso me aprontar para sair com Amelie, antes que ela diga que estou atrasada o bastante para arruinar sua programação. (Tudo bem, ela nunca diria isso.)

— Foi mal, maninho, mas preciso me arrumar para sair com Ame. Hoje é véspera, e parece que ela organizou algumas coisas para a gente fazer. Devemos sair daqui a pouco.

Pelas ruas da Austrália: um conto de ano-novoOnde histórias criam vida. Descubra agora