Os raios solares queimam os meus olhos antes mesmo que eu possa processar que estava dormindo.
– Fechar cortinas.
Cubro meu rosto com o lençol quentinho, não demora nem dois segundos para que eu sinta ele sendo arrancado de mim. Latidos começam a soar e tornam-se cada vez mais altos.
Algum dia eu ainda vou desativar essa coisa e poderei dormir em paz.
– Está na hora de acordar au au.
– Fox é melhor você sumir da minha frente ou eu vou te desativar seu robô desgraçado.
Minha voz sai mais parecida com um murmúrio abafado do que com uma ameaça de verdade.
– Ameaça detectada au au.
E então ouço suas patas se afastando da cama, amasso o travesseiro em meus ouvidos e espero o som de sirenes começarem a tocar.
Graças ao isolamento da casa somente eu terei meus tímpanos rompidos.
– JÁ LEVANTEI CARAMBA - grito e o som perturbador para de tocar por um instante.
Uso meus poucos neurônios acordados para tentar acertá-lo com o travesseiro, infelizmente ele estava preparado pra isso e desvia saindo do quarto balançando o rabo metálico. Encosto minha cabeça no travesseiro novamente e ele entra no quarto abrindo a boca pra voltar a tocar aquele som horrendo.
– Okay, okay - digo me rendendo e entrando no banheiro.
Fox é um cão-robô de última geração, o programei quando tinha quatorze anos, é verdade quando dizem que o destino é consequência das nossas escolhas.
Os cães naturais após o final do século XXI regrediram e voltaram a ser selvagens, porém graças às barreiras de proteção nada poderia passar de um local sem ser permitido. Na época eu havia o programado apenas para ser um cachorro, mas meu querido pai o programou para também ser meu despertador.
Depois que ele se foi me agarrei a qualquer memória, por mais inútil e simples que fosse.
O reflexo dos meus olhos violetas me atinge e foco minha atenção em esfregar meus cabelos escuros tentando inutilmente ignorar minha aparência que não passa de uma série de erros genéticos e mutações ao longo do século.
O caminho da cápsula até a cozinha é rápido e meu suéter escuro faz com que eu deslize ainda mais pelos canos que ligam todos os pavimentos da casa. Como tudo na cozinha é branco, a luz do sol me cega novamente, altero as configurações das lentes de contato e o brilho se torna mais tolerável. Talvez se o planeta não tivesse sido tão ferrado no século XXI as camadas ainda protegeriam algum raio solar.
– Bom dia filha.
A voz da minha mãe soa pelo ambiente, na verdade sua projeção em minha frente mostrando seus cabelos presos e seu sorriso gracioso às sete horas da manhã.
Faz cinco anos que moramos apenas eu e meu irmão, e essa é uma das formas dela demonstrar alguma presença, mesmo que ainda seja o mesmo holograma desde que ela partiu.
Respondo o holograma enquanto procuro meu café da manhã na geladeira, uma bebida que supre quase todas as vitaminas necessárias para manter meu corpo funcionando.
O sofá aquecido recebe meu corpo e sinto todos os meus músculos relaxarem.
– Amélia!
E lá se vai minha manhã quase silenciosa.
Tento ignorar seus passos cada vez mais próximos, talvez dessa vez ele passe direto e me ignore. Seus pés surgem em meu campo de visão comprovando sua ótima visão.
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Apenas um Robô
General FictionAmélia Evans sempre almejou o desconhecido em sua vida, após anos vivendo com seu irmão mais novo e tentando superar os mistérios que permeiam a morte de seu pai, ela se viu novamente enfrentando o sistema criado para a formação de uma sociedade per...