Capítulo 1

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Os raios solares queimam os meus olhos antes mesmo que eu possa processar que estava dormindo.

– Fechar cortinas.

Cubro meu rosto com o lençol quentinho, não demora nem dois segundos para que eu sinta ele sendo arrancado de mim. Latidos começam a soar e tornam-se cada vez mais altos.

Algum dia eu ainda vou desativar essa coisa e poderei dormir em paz.

– Está na hora de acordar au au.

– Fox é melhor você sumir da minha frente ou eu vou te desativar seu robô desgraçado.

Minha voz sai mais parecida com um murmúrio abafado do que com uma ameaça de verdade.

– Ameaça detectada au au.

E então ouço suas patas se afastando da cama, amasso o travesseiro em meus ouvidos e espero o som de sirenes começarem a tocar.

Graças ao isolamento da casa somente eu terei meus tímpanos rompidos.

– JÁ LEVANTEI CARAMBA - grito e o som perturbador para de tocar por um instante.

Uso meus poucos neurônios acordados para tentar acertá-lo com o travesseiro, infelizmente ele estava preparado pra isso e desvia saindo do quarto balançando o rabo metálico. Encosto minha cabeça no travesseiro novamente e ele entra no quarto abrindo a boca pra voltar a tocar aquele som horrendo.

– Okay, okay - digo me rendendo e entrando no banheiro.

Fox é um cão-robô de última geração, o programei quando tinha quatorze anos, é verdade quando dizem que o destino é consequência das nossas escolhas.

Os cães naturais após o final do século XXI regrediram e voltaram a ser selvagens, porém graças às barreiras de proteção nada poderia passar de um local sem ser permitido. Na época eu havia o programado apenas para ser um cachorro, mas meu querido pai o programou para também ser meu despertador.

Depois que ele se foi me agarrei a qualquer memória, por mais inútil e simples que fosse.

O reflexo dos meus olhos violetas me atinge e foco minha atenção em esfregar meus cabelos escuros tentando inutilmente ignorar minha aparência que não passa de uma série de erros genéticos e mutações ao longo do século.

O caminho da cápsula até a cozinha é rápido e meu suéter escuro faz com que eu deslize ainda mais pelos canos que ligam todos os pavimentos da casa. Como tudo na cozinha é branco, a luz do sol me cega novamente, altero as configurações das lentes de contato e o brilho se torna mais tolerável. Talvez se o planeta não tivesse sido tão ferrado no século XXI as camadas ainda protegeriam algum raio solar.

– Bom dia filha.

A voz da minha mãe soa pelo ambiente, na verdade sua projeção em minha frente mostrando seus cabelos presos e seu sorriso gracioso às sete horas da manhã.

Faz cinco anos que moramos apenas eu e meu irmão, e essa é uma das formas dela demonstrar alguma presença, mesmo que ainda seja o mesmo holograma desde que ela partiu.

Respondo o holograma enquanto procuro meu café da manhã na geladeira, uma bebida que supre quase todas as vitaminas necessárias para manter meu corpo funcionando.

O sofá aquecido recebe meu corpo e sinto todos os meus músculos relaxarem.

– Amélia!

E lá se vai minha manhã quase silenciosa.

Tento ignorar seus passos cada vez mais próximos, talvez dessa vez ele passe direto e me ignore. Seus pés surgem em meu campo de visão comprovando sua ótima visão.

Apenas um RobôOnde histórias criam vida. Descubra agora