O amor que tinha dono

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ERA UMA VEZ UM CAÇADOR.

Chamava-se Joaquim Oliveira, vivia em uma pequena aldeia próxima a floresta amazônica. Ele era simples como uma caçada. Um homem que andava na floresta, via a presa, disparava a flecha, voltava. Naquele tempo (porque isso foi muito tempo atrás), as florestas eram maiores, e tinham muito mais mistérios.

Joaquim não era um homem de mistérios. Mas, um dia, aventurou-se com seus amigos, foi longe demais na floresta, e encontrou o lar das criaturas mágicas. A terra das Oliveiras.


Embora não tivesse ainda este nome. Esta, inclusive, é a história do nome, pois Joaquim foi o primeiro humano a entrar e

sair do lar das criaturas mágicas. E, como todos os pioneiros, foi infeliz.

Joaquim perdeu-se dos amigos. Embrenhou-se mais e mais na floresta, tentando sair, mas sempre indo ao contrário. A floresta como que lhe pregava truques. Ou, o que é mais provável,

a floresta ficava sendo o que era, e era intrincada demais para ele, porque era uma floresta das

Criaturas mágicas. Joaquim desgarrou-se e ficou sozinho um tempo inaudito, mas então escutou.

De início, achou que estava salvo, porque ouviu música e passos leves, e risadas - decerto um vilarejo. Mas logo a música tornou-se linda demais, os passos leves demais, e a risada

alegre demais, de um cristalino aquoso que o encantou. Joaquim, como todas as pessoas

sãs, tinha medo das criaturas do folclore, e já ouvira que elas viviam naquelas imediações. E, como todas as

pessoas sãs, quis fugir. Mas o bom senso é alheio às vezes, e isso torna difícil fazer o que é certo, e então Joaquim seguiu os barulhos e viu um cortejo.

Na frente, a mulher mais bela que já vira. Uma beleza diferente das garotas de sua aldeia, ou mesmo das damas da cidade. Não incitava, nem confortava: de tão bela, provocava desespero. O coração lhe acelerou, tentando estourar do peito, incapaz de aceitar. Os olhos

verteram lágrimas - em parte de comoção, em parte só para obscurecer aquela criatura perfeita. A respiração cessou, a boca pendeu: ele enxergava kaliska, a Rainha das criaturas mágicas. E perfeita ela era.

Idade incerta, pele morena com traços indígenas e imaculada. Cabelos infinitos, soltos e trançados em uma centena

de padrões maravilhosos, de cor verde e negra. Seus olhos eram castanhos e dourados. Era alta, mas parecia ter a altura certa, apenas: imponente, mas delicada. Tinhas inúmeras linhas vermelhas desenhada na pele. E seu corpo delgado era coberto da mais refinada armadura, feita de diamante, mais fluida e dançarina do que o

melhor dos vestidos das nobres humanas. A Rainha carregava uma lança, seu cabo feito de carvalho vivo, forte e sinuoso, e a ponta linda e terrível de ouro e prata. A lança cantava uma melodia magnífica de valor e guerra, e ainda assim de felicidade.

Atrás da Rainha, vinham seus servos. Dois camundongos metidos em casacas, com minúsculos sabres à cintura, que seguravam as pontas de uma diáfana capa que a Rainha trazia às costas. Um Mapimguari gigante encurvado e digno, portando um machado enorme e também digno.

Contos inacabados das terras das Oliveiras Onde histórias criam vida. Descubra agora