A noiva esperava, aflita, no carro. O noivo não chegara ainda, o que era muitíssimo incomum, visto que ele sempre fora pontual. A inquietação do pai, sentado ao seu lado, era perceptível. Não podia acreditar. Todas as economias feitas, o dinheiro da reforma da casa caindo aos pedaços, tudo gasto no casamento numa pequena igreja, com uma simples festa, teriam sido gastos para uma ruína?
O telefone do pai tocou, e assim que viu de quem era a chamada, saiu do carro. A moça queria segui-lo, porém foi impedida com um gesto do pai. Ela esperou. Podia sentir os convidados, já na igreja, a mentalmente se perguntarem sobre o que estava ocorrendo, muitos esperando o pior, de certa forma. A noiva saiu do carro, irritada, e só pode ouvir seu pai, falando com uma voz entre a raiva e a decepção. A noiva não esperou para ver o que aconteceria e saiu correndo sem direção. Ouviu seu pai gritar, mas não olhou para trás. Não queria que ele a visse chorar.
Ela entrou no metrô, embarcou em um vagão aleatório e quase vazio e afundou numa cadeira. Estava desolada, cercada por olhares de estranhos, a pensarem algo como "O que uma noiva faz aqui?" ou "Coitadinha, foi abandonada ou traída". Ela odiava isso. Tirou os sapatos e os segurou na mão, e assim que o vagão parou ela saiu em disparada. Estava sem rumo, desencontrada. A maquiagem feita com tanto cuidado estava borrada, o penteado arruinado e o vestido tinha grandes rasgos, feitos sem que ela os notasse.
A avenida estava movimentada, e a luz incomodava seus olhos. Ela só queria ir para casa, entender o que acontecera e talvez voltar no tempo. Ela só queria...
Ela atravessou a rua e lembrou de algo que lhe disseram um dia: "Querer não é poder"
Ela viu o noivo e o pai do outro lado da rua, e viu uma igreja próxima a saída do metrô por onde viera. Tão confusa ficou a moça, e gritou o mais alto que pôde. Então ela viu a luz, que logo percebeu ser um carro. Ela só pôde ouvir o grito do noivo, ou de outrem. Seu sentimento foi incompreensível. Apenas fechou os olhos e esperou.
Esperou...
***
O noivo observava a moça no quarto do hospital, aquela com quem já tivera um noivado. Já haviam se passado cinco anos. Sua atual esposa não concordava com tais visitas, mas ele sentia-se responsável pelo acidente. O imprevisto que a deixara arrasada ao ponto de fugir e ser atropelada fora causado por ele.
Sua filhinha de apenas um ano e meio o encarava com grandes olhos. Se aquele dia tivesse sido diferente, aquela poderia ser a filha dela, e eles estariam sorrindo, felizes, talvez em um almoço de domingo. Colocou a menina em uma poltrona e se ajoelhou ao lado da maca. Chorando, pediu perdão por tudo que não fora e deveria ter sido. Ficou um bom tempo naquela posição, até que entendesse que não haviam desculpas para o que ele havia feito. Segurou a filhinha e saiu sem olhar para trás, prometendo a si mesmo que nunca mais voltaria ali. Ela não merecia sofrer mais.
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Olá pessoas, tudo bem? Venho aqui pedir a vossa opinião sobre o capítulo, e se possível uma dica de como melhorá-lo!
PS: Creio que os capítulos serão postados com pelo menos um intervalo de uma semana, para eu conseguir escrever os contos calmamente e assim com mais conteúdo, coesão e criatividade!
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Contos de Desencontros
Short StoryEste não é um livro apaixonante. Não é um romance épico. São pequenos contos de pessoas sem rumo. Desiludidas. Desencontradas. PLÁGIO É CRIME. Violar direito autoral da pena de detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa. art. 3º da Lei nº. 9.610/98.