Amiga

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As amigas se abraçavam, comemorando um simples emoticon de "beijinho" que ela tinha recebido do garoto que amava havia mais de um ano, após ter a coragem de mandar uma espécie de "te amo". Era a primeira semana de aula, e seu colégio tinha um sistema diferente, em que a cada ano as turmas eram misturadas. O menino caiu na mesma sala da amiga, e como ele "fazia parte" do grupinho dos nerds, logo se aproximaram.

Alunas novas, afastamento de amizade, tudo desfavoreceu os "pombinhos". A amiga já virara a "best friend" do garoto, e as novatas se aproximavam demais dele. Até que, numa aula qualquer, tal confusão chegou ao ápice: supostamente a novata mais atirada deu um beijo, daqueles de cinema, no garoto. A série inteira ficou sabendo em poucos minutos, e a menina sem reação. A apaixonada correu para o banheiro, onde muitas pessoas se escondem quando não querem que a vejam chorando, mas antes ainda teve que ouvir uma outra provocação da novata, dessa vez verbal. A senhorita escondida no banheiro tentava conter o choro enquanto as amigas, inclusive a que era da mesma sala do garoto, a consolavam. E depois de muitas palavras meigas e animadoras, o grupo saiu do banheiro e cada uma seguiu seu rumo. A apaixonada disse que era demais, que ia deixar de gostar dele, mas todas sabiam que não era verdade. Ou talvez fosse e era apenas difícil acostumar-se a nova fase.

Os dias iam passando, o colégio tinha cada vez mais provas e trabalhos. As conversas não eram mais as mesmas naquele grupinho, parecia que todos haviam se afastado sem motivo aparente. A amiga sentia-se cada vez mais acuada pelos sentimentos e olhares da ex-apaixonada, que talvez não fosse tão ex assim. Por mais que dissesse o contrário, os olhos da outra menina sempre estavam perdidos em pensamentos, nunca pareciam fixos, a menos que estivesse perto dele. A amiga via-se cada vez mais confusa, numa batalha de seu coração e cérebro, para decidir se ela realmente sentia algo pelo garoto ou se era só troca de sentimentos, achando que uma coisa era outra. E ela pôde confirmar isso numa reunião de trabalho escolar.

Tinha sido feito o trabalho, os pais já estavam buscando os filhos, não havia mais nada para fazer. As coisas mudam de uma hora para outra, porém, e algo pode ter favorecido ou prejudicado a amiga. Sues país vinham do trabalho, mas na volta para pegá-la ficaram presos num enorme enfartamento, que não estava nem um pouco perto de desafogar. Os jovens, que estavam na recepção, simplesmente deram de ombros e subiram para o apartamento. Eles foram para o quarto do garoto, enquanto ela puxou um assunto qualquer. Sentados na cama, o menino se aproximava mais enquanto ela falava. A menina só corava, pensando nos sentimentos e na amiga, decidindo entre a amizade ou traição. A tentação falou mais alto, e ela se inclinou e beijou o garoto. Ela viu um clarão, mas pensou que não foi nada. A amiga se afastou e encarou o menino, no exato momento em que seu celular vibrou e o interfone tocou. A menina viu a mensagem da amiga apaixonada, dizendo que não conseguia esquecê-lo de forma alguma. O arrependimento bateu nesse exato momento, o mesmo em que o menino apareceu na porta e tentou beijá-la novamente. Ela apenas deu um jeito de evitar e disse que os pais tinham chegado, que por ironia do destino realmente tinha acontecido. Entrando no carro, acenou sem encarar o menino e logo pôs os fones, ignorando tudo ao redor.

Dia seguinte. Tudo parecia normal no colégio, nem um sinal do menino ou da amiga. Ela queria ter fingido um mal-estar ou algo do tipo para evitar a aula. Mas uma hora tudo chega.

Foi no recreio que enfim aconteceu. Já tinha conversado com a amiga, sem muita animação, e dera um simples cumprimento ao garoto. Ela saiu e comprou o lanche no primeiro andar, mas quando subia as escadas em direção à sala, viu sua amiga. E sua cara não estava nem um pouco animada por vê-la. A amiga olhou em volta e viu o garoto rindo de algo com os amigos, fazendo seus pesadelos tornarem-se realidade. O menino recebia cédulas, enquanto mostrava uma foto. Ele havia tirado uma foto do exato momento do beijo, e mostrava para a rodinha de amigos. A aluna novata, que tinha lhe beijado no começo do ano, também estava lá, a rir. A apaixonada alternava o olhos, lacrimejantes, entre a amiga (a tal ponto pensava que nem colega era mais) e o garoto. E saiu correndo sem direção alguma. A amiga a seguiu, dando uma última olhada para trás, vendo um sorriso maldoso no rosto do garoto. Ela não podia acreditar, o mundo não podia ser tão perverso, a vida não podia ser diferente do que imaginava para si.

Ela lembrou que não passava de uma mera menina, e que o mundo não girava ao seu redor.

Encontrou a amiga numa sala. Sua tentativa de falar calmamente com ela foi frustada; ela já gritava e chorava, dizendo coisas do tipo: "O que eu te fiz?", "Como você pôde ter feito isso comigo e com essa cara de pau vir conversar 'calmamente', sua vadia?". A amiga ouvia calada e sabia que errara. Ou não. Ela não tinha mais nada para guardar, já não eram mais nada. E palavras jorraram de sua boca, falando tudo que tinha guardado há anos. Ela também tinha lágrimas nos olhos, que limpou com raiva e saiu da sala. Entrou na rodinha de amigos do garoto, encarou-o e lhe deu um belo chute, para lembrar que com ela não se brinca. Foi para a enfermaria e deu uma desculpa qualquer, e logo seus pais vieram buscá-la.

Em casa, ela desmoronou. Era incrível ter perdido uma grande amiga, um amigo idiota (isso ela não achou tão ruim) e toda a moral que conseguira nos anos de colégio. A menina não queria mais nada. Seu celular só apitava, e todas as mensagens que recebia eram de ódio, acusando-a. Que dia terrível. Apenas nele ela conseguira fazer com que sua vida perdesse o rumo premeditado.

A menina limpou as lágrimas mais uma vez e se dirigiu para a janela. Lá, olhando o jardim de casa, pensou um pouco mais na vida. E prometeu a si mesma que não viveria de desencontros.

Ou pelo menos tentaria.

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Olá pessoas! Tudo bom? Terceiro capítulo, espero que gostem! E, se assim for, cliquem ali na estrelinha, não custa nada! Comentários também são muito bem-vindos!

Vitória Ferreira / VicckF

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