Menino

95 13 7
                                    

O garoto via a menina, sempre linda, sentada com as amigas no momento em que o professor saia de sala, no quarto tempo de aula. Nunca tivera chance de falar com ela, ele sempre esquivava, dizia que o faria amanhã. Sua melhor amiga dizia que ela não o merecia, que ele deveria se valorizar mais. Entre esses dizeres, porém, ele sabia que a amiga fiel sempre buscara algo mais que a amizade. Não importava. Ele só queria a linda menina dos olhos escuros. Uma grande festa do colégio se aproximava, e ele só tinha três dias para chamá-la. Ele decidiu fazê-lo.

No dia seguinte ele tomou coragem. Ele chegou e explicou a amiga o que faria. Ela não reagiu muito bem a tal fato e saiu correndo em direção a banheiro, com os olhos cheios de lágrimas. Ele nada pudera fazer, seria como jogar sal nas feridas dela. E, enquanto pensava em como agir, a viu, saindo da mesma porta que a amiga entrava. A menina dos olhos escuros, agora inchados devido ao choro, andava lentamente no corredor, amparada pelas amigas. Ele não estava entendendo o índice lacrimal daquele dia, até ouvir os colegas comentando: "Ih... Foi aquela mina ali que foi trocada pelo namorado".

Não aguentou mais ver o estado da amada garota. Pediu licença as amigas dela e, com toda determinação possível, a convidou para o baile. Ele já esperava ouvir um grande "Não saio com idiotas", mas ouviu algo muito diferente. Foi quase inaudível na primeira vez, mas ela repetiu com mais vontade, e com um sorriso estranho no rosto: "Sim, eu quero sim ir no baile contigo." O menino já estava sem reação, situação agravada quando a linda garota pulou da cadeira e lhe deu um abraço e um beijo na bochecha. Esse momento pode ter sido o melhor de seu dia, mas há pessoas que discordam.

***

A amiga tinha ficado uns bons dez minutos no banheiro, pensando no que fazer e se conseguiria parar de chorar antes de desidratar. Não. Não era essa a garota forte que não deixava que ninguém a diminuísse e a desprezasse. Ela estava de saco cheio de tantos meninos babacas e tirados a maiorais. Ela não afundaria hoje.Porém, ao abrir a porta do banheiro viu algo que lhe tirou o chão. "Ele não pode estar fazendo isso", pensou, "não sem me dar um dia para tentar cicatrizar a ferida". O som de um soco no armário foi ouvido em todo o corredor, e o seu grito foi maior ainda.

***

Ele ignorara o grito. Ignorara o soco. Ignorara os olhares maldosos. Ignorara o tempo que parecia não passar. Mas o grande dia do baile havia chegado. E nada, nada, arruinaria a sua noite.

A menina estava linda como sempre, seus olhos escuros, mais marcados devido a bela maquiagem, fizeram com que todos que estavam no salão parassem para observá-la. Ele, triunfante, caminhou até ela e lhe estendeu o braço, ato correspondido com o mesmo sorriso estranho no rosto. E foram dançar e se divertir.

Foi no momento que sentaram que escutou-se o mesmo silêncio ouvido antes, quando a linda menina entrara. E acontecia o mesmo no momento: uma bela menina entrando no salão, acompanhada de seu par. O queixo do garoto caiu, mas não foi pela beleza dela; foi por reconhecê-la. A amiga estava esplêndida, e toda a produção para a festa só realçou sua simples beleza natural. O garoto ignorou-a, pensando ainda na briga recente. Ele tinha convidado a garota de seus sonhos, e lembrou da promessa que fizera antes: nada iria estragar seu tempo com ela. Quis dançar de novo, mas a menina disse apenas que estava cansada e pediu que ele pegasse um refrigerante. Antes que ele saísse, porém, levantou e, sem aviso prévio, lhe deu um beijo, piscou e voltou a sentar. Atordoado pela rápida sequência de ações, ele simplesmente segui para o bar, pegou o refrigerante e percebeu que não estava atordoado; estava extremamente feliz.

Mas seu mundo desmoronou quando voltou a olhar para a linda menina.

Ela não tinha mais aquele sorriso estranho no rosto. Ele era diferente, mais belo, mais real. E o que viu depois disso foi pior. Ela era da turma de teatro, era uma atriz ótima, não é? Tão boa que o menino não percebeu que fora apenas uma peça de seu jogo.

Ela sorria sedutoramente, mordendo o lábio, para alguém afastado do menino. Olhou nessa e direção e viu o suposto ex-namorado, cujo o olhar alternava entre a garota e o menino. O ex passou empurrando-o fortemente, fazendo com que quase caísse, e se aproximou da menina beijando-a e realizando tudo o que se tem direito. Ela afastou-o, foi na direção do menino e sussurrou algo parcialmente incompreensível, do qual ele entendeu somente: "Não pedirei desculpas. O mundo não é para trouxas, baby." E saiu rebolando, sem virar-se para trás uma única vez.

O menino sentiu uma mão em seu ombro e virou-se para trás assustado, querendo esconder a tristeza e decepção aparente em seu olhos, mas então percebeu quem era. Sua amiga e seu respectivo par atrás, um pouco afastado. De seus lábios saiu um quase inaudível "Eu vi tudo", e um abraço reconfortante. Ela era sua verdadeira amiga, estaria ali para todas as horas, e ele se sentia um babaca pela briga. Ela sentia o mesmo. "Estarei sempre aqui, como sua amiga, e nada mais." E se afastou, ficando de mãos dadas com o par e com o menino. "Venha, não se abata. A festa não acabou ainda."

Mas o menino ainda pensava nos lindos olhos escuros.

•••••

Hey pessoas! Conto novo por aqui, espero que gostem. Deem a vossa opinião, ela me inspira muito e me diz onde errei e onde posso melhorar! E, se gostaram, votem, não custa nada, é só clicar na estrelinha ali do lado!

Beijinhos, Vick.
c:

Contos de DesencontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora