O êxtase é oque melhor descreve este capítulo.
É em apenas um momento em que sinto isso e me permito sentir. Quem não?Em um momento em que eu estiver sozinha sentada em uma cadeira fora de casa. Eu olho para o céu, particularmente a noite é meu preferido. Posso fazer isso por horas. Solitária? Não, pensativa.
Se me ver em um momento como esse, pode ter certeza que ali eu estou fazendo planos, fechando acordos, realizando sonhos, esse é meu momento de êxtase. Uma explosão de pensamentos que me tira completamente de si, eu nem se quer ouso o som ao meu redor. É intenso, consigo voltar anos luz.
Qual é seu êxtase?
Não é loucura ou um surto de depressão, não. É um momento em que eu quero apenas minha companhia, sozinha e sem conclusões de outras pessoas, é o momento em que eu sou rei, um gênio.
Se parar para pensar eu consigo lembrar de quando isso aconteceu pela primeira vez, eu tenho vivo a minha primeira memória.Lembro-me bem.
Eu estava do outro lado da rua olhando em direção aos meus pais descendo de um carro preto com um cachorro branco e peludo nos braços do meu pai. Eles olham em minha direção e diz para esperar que eles me ajudariam a atravessar a rua.Sabe oque é incomum nesta memória? É que antes de ver meus pais do outro lado da rua, tudo estava branco, só se podia ouvir as vozes e o barulho movimentado ao redor. Aos poucos as imagens iam surgindo.
Nos meus 17 anos, toquei neste assunto com minha mãe e ela me respondeu:- Não é possível. Você tinha apenas 2 anos.
2 anos, isso é incrível!
Claro que muitos são assim mas o fato é que, se você parar para pensar, sua mente é um disco rígido que te programa para a vida, e assim será em diante.Sempre fui muito pensativa, mas quando estou sozinha consigo acessar essas memórias e isso para mim é um êxtase. Eu exploro todo o meu próprio conhecimento e não deixo de me impressionar com isso.
A história se inicia do começo e o começo ensina porque sou assim agora.
Meu nome é Hillary Cristiny, nasci dia 11/12/2000 em Trindade-GO, mas fui criada em Brasília desde dos meus 8 anos.
Não tive bons exemplos de vida, nem se quer uma mesa em família. Sempre foi uma briga atrás de outra, violência atrás de outra, assim por diante. Mas a pior situação era em casa.
Me lembro que naquela época, as casas bem estruturadas não eram muitas e a condição era de extrema pobreza. A maior parte da área era invasão, casas de madeira e cultivo na porta de casa. Chão de barro, água gelada e energia instável.Acredito que por ser pequena eu não entendia a vida que levava mas eu invejava as outras famílias. Não era bens, bons móveis ou brinquedos caros, mas sim, o amor que transbordava naquelas casas. Os pais quase nunca brigavam, os filhos estavam sempre tão limpos e bem alimentados, eles estava sempre sorrindo. Lembra do êxtase? Pois é, eu me sentia assim. Não gosto de lembrar desses momentos mas só tenho a agradecer por eles, entende?
Eu e meu irmão Andrew passávamos a maior parte do tempo na casa dessas pessoas. Nós comíamos, bebíamos , brincávamos, e depois voltávamos a realidade. Podia se ouvir os gritos dos meus pais quilômetros dali.
Sempre que voltávamos para casa não fazia muito diferença nossa volta, entende? Era mórbido, como se não fossemos importante.
Não posso julgar minha mãe, ela foi relutante em nos dar uma boa infância, mas foi um fracasso.Toda aquela vegetação e silêncio fora de casa era meu lar, era nosso lar, meu e do meu irmão Andrew. Sabe aqueles filmes americanos em que as crianças brincam a solta pelo pântano ou pela região de Texas? Era exatamente assim, selvagens e sobreviventes, sem nenhuma doença, magros mas com uma força de ferro. Não vou reclamar, amava isso, vive dentro de mim.
FATIMA
Minha vó Fátima era minha paixão, como eu amava ela.
Suas comidas incríveis e seu lar acolhedor. Suas louças de porcelana, talheres separados em potes de vidro e sua casa muito bem arrumada e limpa.
Ela tinha orgulho de tudo oque tinha, tudo ela tinha um carinho especial.Ela não se dava bem com minha mãe. Minha vó era obcecada pelo meu pai, o único filho branco de dona Fátima.
Isso mesmo que você entendeu.
Meu pai era o único filho branco da minha vó Fátima, e isso por ela não gostar da própria cor, nem da cor das suas filhas e família.
Ela já sofreu muito racismo e foi criada em uma época em que pensar assim era normal.
Minha vó fez inseminação artificial para dar a luz a uma criança branca, mas caso a criança nascesse negra seria rejeitada. Ela não queria outro filho negro.Minha vó acabou pagando um preço caro por isso. Meu pai não foi lá o melhor filho desse mundo, ele se tornou um assassino, um covarde, um manipulador. Ele não sabia lidar com os próprios sentimentos, suas atitudes? Bom, ele tinha total mimo da minha vó. Já era de se esperar não acha?
Meu pai era um cavalo selvagem que tinha tudo o que que queria vindo dela mas o mundo da violência era mais prazeroso. As mulheres, drogas, bebidas e Gangue.
Meu pai amava cavalos e passava a maior parte do tempo com eles, ele os domava e acredite se quiser, os cavalos obedecia todos os comandos somente de meu meu pai.
Eu via meu pais de um canto para o outro, inseparáveis.
Êxtase? Não dessa vez. Eu sabia que daqui a uns 30 minutos cronometrados as brigas voltaria.
Sabe, os cavalos, os pastos e o silêncio era realmente um êxtase para mim, a fogueira alta e a batata doce no alumínio ou direto no fogo mesmo. Êxtase.Acho que agora caro leitor, você entendeu o motivo do meu êxtase ou o êxtase constante em si. Estava mais para uma fuga, uma fuga da vó racista, seu pai alcoólatra e sua mãe que sofria violência doméstica. Tic tac, logo tudo ficava em silêncio e eu entrava em êxtase bem longe dali em um modo de fuga.
Claro que tudo passa, claro que tudo se domina, mas as memórias ficam, sabe por quê? Quando você morrer isso será tudo que você vai levar dessa terra, por isso sempre se deve ser feito o certo, o que é bom, porque é isso que você vai levar, é tudo oque você tem.
Minha vó Fátima sempre ia em nossa casa pela manhã e sempre levava um agrado, seja doce ou salgado. Os tempos que em passávamos na casa da minha vó era realmente confortante.
Em uma tarde durante o almoço, minha vó se sentou no sofá da frente com seu prato. Me lembro de ela ter reclamado de alguma coisa mas não lembro bem, acho que no momento eu não havia dado a mínimaMinha vó me assustou com um grito agonizante, ela olhou para mim com os olhos esbugalhados e caiu acima do prato de comida. Minha voz quase não saia, olhei para ela por 15 minutos antes de gritar pelos meus pais. Eu estava aterrorizada, o alimento ainda estava em minha garganta. Levaram ela para o hospital e a notícia veio uma semana depois, mas ela veio sem aviso. Me deparei com um caixão no centro da sala com a minha família chorando ao redor dele, me aproximei do caixão e lá estava ela.
Minha vozinha. Me lembro da dor imensa que senti naquele e dia e me lembro mais ainda da sensação do desespero de saber que aquela pessoa não ia mais existir na minha vida.
As lembranças dela cuidando dos meus cabelos com seus produtos mais caros, momentos de carinho da minha vó em situações de mais frustração da minha vida. Eu senti, ela não ia mais estar lá, eu nem se quer agradeci por tudo o que ela fez.
Com um nó na garganta e meu rosto banhado em lágrimas que nunca havia saído, dei um beijo em seu rosto e andei até a porta dos fundos, a dor estava devorando a casa, o silêncio não habitava mais naquele lugar.Você ainda consegue ter êxtase se souber que você tem uma fuga, quando você ainda tem alguém que ama e sabe que ela vai te socorrer. Quando você sabe que todas as casas é melhor que a sua, mas havia uma casa em que você era bem vindo. O êxtase não veio porque a morte estava impregnada em meus pensamentos... não havia fuga.
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CASTELO DE CARTAS
Non-Fiction♠️♥️♣️♦️♠️♥️♣️♦️♠️♥️♣️♦️♠️ Castelo de cartas representa a construção de um projeto e a destruição dele. Um gênio destruiria seus projetos a fim de refazê-los? Cada carta é um objetivo, um feito, uma pessoa. Qual é seu castelo de cartas? Essa é...