cap 19

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Tem uma coisa louca sobre a vida, temos apenas em média de 90 anos para viver.
Passamos metade dela estudando e a outra trabalhando. Negligenciando o mundo em nossa volta

Lembro de uma cartinha que fizemos no 5° ano do fundamental, a professora nos disse para escrever sobre oque queremos para o futuro. Lembro também de ter congelado, porquê eu simplesmente não sabia nem se eu queria um futuro

Fiquei duas aulas inteiras pensando, quando deu o sinal da terceira aula e a professora de português nos entregou o papel, escrevi:

"No futuro, quero ter uma outra família,quero ter uma marido e ir para o lugar mais longe dele"

Seria irônico eu ter um futuro, seria irônico eu ter um marido. Essa merda nunca é real

Quando entro em casa, um cheiro de baunilha atravessa minhas narinas. Um ronco alto e agudo salta do meu estômago

─ Se eu não conhecesse esse som, diria que era um terremoto. ─ Mason aparece na cozinha, vou até ele e o dou um abraço ─ Aprendi uma receita de bolo, eu...acho que aprendi

Ele solta uma risada tanto quanto nervosa, mas para quando vê que eu não retribuo.

─ Onde tá a tia Yolanda?

─ Lá na varanda.

Dando um leve aceno, saio e vou até ela. Minhas mãos trêmulas não param de suar, uma texto ecoa em minha mente, imaginando como dar a notícia

Ela está estendendo as roupas no alto da varanda, daqui conseguimos ver o parque e suas árvores. Dou uma risada quando vejo o tanto de pregador que ela prende no seu vestido florido amarelo

Ela me avista e acena, me chamando para ir até lá. Pego um balde de pregador e vou ajudá-la, ela me evita olhar nos olhos, ela sabe

─ Não quero que ninguém saiba. ─ dito

Ela me olha de soslaio, e apenas concorda com a cabeça

─ E Mason?

─ Prefiro que ele fique fora disso...,por favor. ─ digo estendendo uma roupa, coloco os pregadores e então me viro em sua direção

Ela olha para baixo, desviando do meu olhar

─ E...., Não quero fazer a quimio.

Cerrando os punhos ela me olha, seus olhos expressão a confusão que sua mente está. Eu sei que essa decisão vai além de uma mera decisão

Mas, kat...─ a interrompo

─ Se eu fizer....eu teria mais um ano, e se eu não fizer terei apenas 6 meses...─ dou um passo a frente, afim de nossos olhos se olharem mais a fundo ─ sabe a diferença desses atos?

Ela balança a cabeça negativamente

─ A diferença é que, se eu fizer a quimioterapia nesse um ano, eu passarei todos os meus dias dentro de uma sala sendo picada e tomando remédios. É a pura verdade.

Seus olhos já não estão mais com aquela expressão, marejam, gotejando lágrimas. Yolanda dá um passo a frente e me envolve em um abraço

//𝒔𝒐𝒎𝒐𝒔 𝒑𝒆𝒔𝒔𝒐𝒂𝒔 𝒄𝒓𝒐𝒏𝒊𝒄𝒂𝒔,𝒎𝒊𝒈𝒖𝒆𝒍//~Miguel CazarezOnde histórias criam vida. Descubra agora