Parte I

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"Então, eu vou colocando a mochila nas costas e seguindo.

Já estava na hora de prosseguirmos nessa direção.

Ficaram muitas coisas construídas aqui, pelo tempo que levamos acampados.

Servirão de abrigo para os outros que virão.

E servirá de endereço, pra quando desejarmos passar por aqui novamente."


Lançaram o bilhete pelo ar, o papel em forma de aviãozinho.

As palavras traduziram o sentimento entrelaçado no momento.

Reuniram tudo que por um ano estivera espalhado pelo chão.

O silêncio era a melhor conversa naquele momento.

O movimento pausado falava por eles.

E para duas almas tão ligadas, a palavra era só um de todos os artifícios da linguagem.


Desarmaram as barracas e apagaram o fogo.

Apagar o fogo foi como reassumir o escuro da viagem que segue.

A fumaça fazia vários desenhos no ar.

Começaram a brincar.

Eles brincavam com quase tudo.

Fazia dos dias mais interessantes e das histórias mais marcantes e felizes.


No intervalo entre uma brincadeira e outra, ele olhou pra ela, e se olhou.

Eles estiveram ali há mais tempo do que poderiam imaginar.

Ou pelo menos é o que os seus olhos diziam.

Ela havia crescido, ela parecia mais segura. Até sua forma de falar lhe dava mais firmeza.

Estar nesse caminho fazia sentido agora.

Não era dolorido ter que parar, vez em quando, era necessário.

O silêncio virou linguagem. Deixou de ser fuga pra se tornar encontro.

Mas não precisava ser por muito tempo.


Ele abaixou-se, pegou um pequeno galho seco que havia escapado da fogueira e jogou-lhe na testa.

Isso também é comunicação... Ele achava...


Por um momento ela tentou entender o que significava aquilo.

Seu rosto expressava um misto de surpresa e implicância, aliás, ele provocava isso nela com uma frequência considerável. E ela amava isso nele.


Ela juntou o galho e colocou no bolso lateral da mochila.

Encarou-o avisando com o olhar que haveria revanche.

Ele riu.

Ela compreendeu que a brincadeira marcava o retorno à estrada.

Um ao lado do outro, começaram a caminhar.

Não conversaram sobre pra onde ir, os passos aconteciam naturalmente.


Ele lembrou-se de uma história de quando chegaram naquele lugar...

Entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora