Alguns passos adiante e, de repente, "zuuuuuuuuuuuuup", alguma coisa voadora muito rápida agarrou-a pela mochila e a carregou para longe dele. Ele foi lançado ao chão pelo golpe, levantou-se zonzo, correndo o olhar por todos os lados até entender o aconteceu.
Quando recobrou os sentidos percebeu o que uma ave que dava mais ou menos três vezes o tamanho dela a havia pego e levado para uma única elevação de pedra em meio a um buraco que parecia não ter fundo. A extensão sob os pés dela era pequena, o suficiente apenas para que ela sentasse. Entre ele e ela a distância era grande, nem um salto perfeito a faria voltar para o caminho.
- Você está bem? - ele gritou assim que a viu - O que foi que te carregou até aí?
Ela demorou a responder.
- Você se machucou? Me responde... - ele insistiu.
- Eu... Eu estou bem. Mas acho que não vou conseguir sair daqui, é muito longe, e esse buraco... Tão fundo.
- Vai sim, a gente sempre consegue. Calma, vamos pensar em como te tirar daí - ele disse enquanto procurava ao seu redor qualquer coisa que fosse útil, mas não encontrou. Lembrou-se que as últimas cordas tinham sido carbonizadas há muitos monstros atrás.
- Não, você precisa continuar. Vai! Eu vou dar um jeito.
- Eu não duvido que você daria um jeito sozinha mesmo, mas eu não quero ir sem você.
Ela não respondeu, mas ele a ouviu chorar enquanto considerava o lugar onde estava. Para ela, era muito frustrante não ter um plano no primeiro instante, ou não conseguir resolver. Ele cansou de ouvir ela dizer que nessas ocasiões pensava melhor sozinha, mas ele era prova de que isso não era bem assim.
- Eu não tenho um plano ou uma solução, embora gostaria de ter, mas vou permanecer o mais perto de ti que essa distância permitir - dizendo isso sentou-se quase na beira do precipício. - Juntos, sempre, lembra?
- Talvez... Talvez eu até saiba como sair, mas não sei se eu quero, não sei se consigo querer. É como se a solidão sempre me puxasse.
Ele não insistiu. Sabia que o silêncio poderia ser um bom diálogo as vezes. Ele também não carecia de conclusões, nem nas conversas, nem nas situações. Ele lidava bem com inconclusões. Um paradoxo para ela. E ela precisava disso, vez em quando.
Sem ter muito como chegar até ela, ele sentou e começou a cantarolar. Ao fazer isto o som da sua voz ecoava pelo espaço entre eles e conseguiu chegar aos ouvidos dela. De alguma forma aquilo venceu a distância. Ele não tinha certeza de que funcionaria, mas seu coração o fez tentar. Já era costume entre ambos repetirem o aprendizado "seu coração lhe levará aonde for preciso". Ele não pensou muito, mas confiou, e deu certo.
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Entre nós
RomanceUm conto juvenil para viajar nas aventuras do inconsciente. Venha ver as armadilhas que a mente humana prega e as formas criativas de vencer estes desafios na vida de dois personagens que podem parecer com você. Qualquer semelhança com a vida de alg...