Estilhaço

37 10 1
                                    

14 de setembro

Nada, foi um sono longo e vazio, o primeiro em muito tempo. Quando acordei, a janela de meu quarto estava fechada. Não havia lama na cama, nenhuma música misteriosa no meu celular. Meu banho só tinha cheiro apenas de sabonete.

Quando Dinah encostou seu carro, eu estava esperando na calçada. entrei e meus tênis afundaram no tapete molhado, o que deixava o Lata- Vela com um cheiro ainda pior do que o habitual. Dinah balançou a cabeça.

-Desculpe, DJ. Vou tentar secar o Fragile depois da escola.

- Deixa pra lá. Só me faz um favor e deixe de agir como louca, ou todos vão falar de você.

Por um segundo, considerei manter segredo, mas eu tinha que contar para alguém.

- Eu a vi.

-Quem?

-Lauren. - Ela pareceu não entender.

- A filha do velho Jauregui?.

Quando paramos no estacionamento, eu já tinha contado tudo para Dinah, a história toda. Bem, talvez não toda. mesmo as melhores amigas têm seus limites. E não posso dizer que ela acreditou em tudo, mas também, quem acreditaria? Eu ainda estava tendo dificuldade em acreditar. Só que mesmo sem saber os detalhes, enquanto andávamos para dentro da escola, ela sabia de uma coisa. Era preciso controlar os danos.

- Mas não aconteceu nada. Você a levou pra casa.

-Não aconteceu nada? Você estava prestando atenção? Eu tenho sonhado com ela há meses e ela acaba sendo...

Dinah me interrompeu

- Vocês não ficaram nem nada. Você não entrou na mansão mal-assombrada, certo? E você nunca viu, você sabe... ele? - Nem Dinah conseguia dizer o nome dele.

Uma coisa é você sair com uma garota bonita e conhecê-la, em qualquer situação. Outra coisa é você passar um tempo com o velho Jauregui.. Balancei a cabeça.

-Não, mas...

- Eu sei, eu sei. Você está confusa. Só estou dizendo, guarde segredo, Mila. Só conversamos o que foi preciso. Quero dizer, ninguém mais precisa saber. - Eu sabia que aquilo seria difícil. Não sabia que seria impossível.

Quando abri a porta da sala de inglês, ainda estava pensando em tudo, nela, no nada que tinha acontecido. Lauren.

Talvez fosse aquele cordão doido que ela usava, talvez fosse aqueles seus olhos esverdeados que pareciam como esmeraldas. Quando eu olhava para ela, ia mais longe de Gatlin do que jamais tinha ido. Talvez fosse isso.

acho que, enquanto pensava nisso, parei de andar, e acabei sentindo alguém bater contra mim. Só que não foi um rolo compressor dessa vez. Parecia mais um tsunami. Colidimos com força. No segundo em que nós tocamos, a luz do teto queimou e uma chuva de fagulhas caiu sobre nossa cabeça.

Eu me abaixei, ela não.

- Você está tentando me matar pela segunda vez em dois dias, Camila? - A sala inteira ficou em silencio.

-O quê? - Eu mal conseguia pronunciar as palavras.

-Perguntei se está tentando me matar de novo.

- Eu não sabia que você estava aí.

-Foi o que você disse ontem à noite.

Ontem à noite. As palavrinhas que podiam mudar sua vida para sempre na Jackson. Apesar de haver muitas luzes acesas, parecia que havia um holofote sobre nós, para a plateia acompanhar. Eu pude sentir meu rosto ficar vermelho.

Dezesseis LuasOnde histórias criam vida. Descubra agora