PARTE NOVE - PONTO DE VISTA DO NARRADOR

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"Querido Beomgyu,
a esse ponto acredito que já tenha alguma suspeita sobre quem eu sou. Acho que você não faz ideia de quem eu seja, e que provavelmente nunca me achará. Ou estou errado?
Não que eu não acredite na sua capacidade como perito, na verdade até acho você um dos melhores de toda a Coréia do Sul. Mas acho que minha identidade nunca passará pela sua mente genial.
Eu queria que esse caso fosse parar nas suas mãos, eu quero ser descoberto por você. Eu quero que veja que estou fazendo a justiça que você queria mas não pôde conceder, não perante a lei.
Não quero que me admire, não quero que me ame e provavelmente me odiará assim que souber quem sou eu. Se já não odeia agora.
Algum dia você vai me entender, vai também sentir a vontade que estou sentindo agora. A vontade de matar, a vontade de ser conhecido, a vontade de aparecer em capas de jornais como um justiceiro, a vontade de dar ao povo o que o povo quer. Eu estou mais perto do que você imagina, e um ensinamento:
A sede da justiça nunca é saciada, Perito Choi.

Assinado,
D.J.S''

Beomgyu encarava a carta sem piscar, era o assassino falando com ele. Já esteve diante de inúmeros suspeitos mas nenhum o fez sentir o que estava sentindo agora. Na ponta da carta, uma digital ensanguentada se fazia presente. Taehyun iria lhe perguntar sobre o que estava acontecendo, mas o rapaz saiu correndo da sala direto para os aposentos de Nishimura.

"Niki, eu preciso que você abra a sala de testes. Agora."

"Mas não tem ninguém lá, Choi... É sexta-feira, todo mundo foi liberado." Ele falou contrastando a calma e a euforia entre os dois. "Eu não me importo, eu não fiz dois anos e meio de investigação forense para nada. Pode me dar a chave, por favor?"

Nishimura revirara os olhos e jogara o molho de chaves para Beomgyu que conseguira pegar no ar. A adrenalina corria em suas veias, sabia que aquele sangue provavelmente não era do assassino e só de ter a possibilidade de ter uma nova vítima o fazia sentir náuseas.

Assim que entrou na sala de testes, Taehyun entrou logo atrás, ainda mais confuso. "Você pode me explicar o que está acontecendo, por favor?"

Ele explicou. Seu coração estava acelerado, falava tudo rápido enquanto arrumava as coisas para fazer o teste de DNA naquela digital que estava na carta. Taehyun começou a ajudá-lo, as mãos trêmulas de Beomgyu não estavam o ajudando em nada. "Você acha que isso é uma confirmação de que é alguém da polícia?"

"É claro. E é provavelmente alguém que eu confio, você leu a última parte? Eu não sei o que pensar, eu não quero pensar. Eu não quero desconfiar das pessoas que eu gosto." Taehyun afastou o rapaz da bancada enquanto o computador lia a digital e o abraçou sem avisar. Beomgyu, de primeira sentiu seu corpo todo enrijecer com o toque súbito, mas retribuiu o abraço repousando sua cabeça no ombro do rapaz.

"Se acalma. Ele acha que não temos nada, mas temos muitas pistas. Agora que sabemos que é alguém que você conhece podemos reduzir os suspeitos." Disse contra o pescoço de Beomgyu, que suspirou cansado. "Você consegue analisar a ficha dos funcionários das delegacias maiores, por favor? Não elimine ninguém, nem mesmo o que pareça mais inofensivo."

"Claro, Beomgyu. Mas se acalma, ok? Estamos perto de descobrir quem é esse assassino." Se afastou do abraço, mas ainda segurava os dois ombros do homem mais velho. O computador apitou afirmando que a análise havia sido concluída, logo a atenção dos dois rapazes fora atraída.

Uma ficha cheia de detalhes e antecedentes havia sido aberta.

Choi Jongho, 23 anos, masculino, ensino médio completo, natural de Seul, sem atividades profissionais registradas, uma passagem pela polícia por tráfico de drogas.

Beomgyu logo se lembrou, era um caso também de 2017, na época estava muito doente e mal conseguia se levantar da cama, fora Taehyun quem assumiu o caso. Até tiveram provas o suficiente para prender Jongho e fazer com que ele passasse alguns bons anos apodrecendo na cadeia, mas o júri havia concordado em inocentá-lo por motivos de réu primário e ser muito jovem, passou apenas um ano pagando cestas básicas para o Estado e estava livre outra vez. Aquele caso havia irritado demais Beomgyu e foi a primeira vez que ele havia questionado se estava mesmo na carreira certa. Ver Jongho como uma das vítimas do assassino que estava procurando lhe causou um choque.

"Choi, é um caso de 2017 também, certo?"

Ele assentiu, sem tirar os olhos da tela sentindo sua visão rodar. Taehyun largou o rapaz e correu para o computador, rapidamente buscou entre os arquivos as admissões de 2017, correu os olhos por inúmeros contratos que haviam sido assinados, até chegar no que desejava.

"Isso pode ser loucura, mas... não pode ser coincidência." Taehyun disse, apontando para Beomgyu que da imensa quantidade de delegacias de polícia da região, só algumas teriam renunciado seus delegados e subido alguns membros de cargo. "Samcheok, Ulsan, Seul e Daegu. Quais daqui você tem contatos?"

Beomgyu sentiu sua visão ficar escura assim que leu as cidades na tela. Taehyun notou o rapaz ficar estranho. "Choi?"

"Kang, eu não estou me sentindo bem." Falou com a voz arrastada, o rapaz mais novo o levou até a cadeira mais próxima. Suas mãos soavam frio, sua mente trabalhava sem parar. Sentiu uma súbita vontade de vomitar assim que o nome correu em sua mente.

D.J.S
Delegado Johnny Suh.

Taehyun quase deu um grito quando o corpo desmaiado de Beomgyu caiu para frente sobre o seu. Não parecia, mas o rapaz era pesado. Não sabia o que fazer, porra, sou investigador não médico, pensou.

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