O corpo na cama já estava morto a muito tempo, cheirava como um cadáver, mas Qi Rong usava toda energia que tinha para mantê-la com aquela bela aparência de uma mulher de trinta a trinta e cinco anos. Sentiu seu corpo tremer ao se aproximar da cama, como se suas pernas fossem simplesmente parar de funcionar.
Pegou uma das mãos pálidas entre as suas, seu olhar repleto de tristeza. Queria sair correndo e fingir que nada estava acontecendo, queria repetir que tudo ia ficar bem e que isso era um sonho, um sonho realmente horrível.
Mas de fato não era.
Pegou o medalhão, o sentindo pesar em sua mão como a culpa pesava em suas costas, mas agora não havia como mudar nada, não havia como fugir. Esse tipo de sentimento era normal, os mortais tendiam a se sentir miseráveis quando estavam perto da morte, se enchendo de arrependimento.
Talvez eles pudessem ter feito mais alguma coisa, se esforçado mais um pouco e conquistado seus sonhos, mas o tempo curto de suas delicadas vidas e a constante luta na maioria das vezes pelo básico os levava a ter uma vida triste, solitária e cansativa. Apenas os mais esforçados ou os mais sortudos achavam uma maneira de preencher sua vida de alegria com suas ações ou com outras pessoas.
Qi Rong não foi esforçado e muito menos sortudo.
Mesmo com uma segunda chance, e agora uma terceira, ele não havia mudado. Ele ainda era o fantasma egoísta que tentava parecer forte, e assim como um mortal temia a morte, ele agora temia a solidão. Gostaria de pelo menos se desculpar com Xie Lian por toda a crueldade e culpa que despejara sobre ele, culpa essa que era apenas um reflexo de si mesmo.
Quanto a Hua Cheng, ele não o perdoaria nem se ele tivesse centenas de milhares de 'segundas-chances', seu rancor passado nunca o permitiria, e ele não estaria errado nesse sentido. Gostaria de falar pra Guzi crescer e se tornar forte, se tornar bom e gentil, também diria a Lan Qian Qiu o quanto ele era esforçado e merecia reconhecimento, que era forte e cuidadoso e que com certeza cuidaria bem de Guzi. E que ele...realmente era importante de formas que nem podia imaginar.
O corpo do fantasma aqueceu com esse último pensamento, mas ele ignorou, afinal, não era como se ele pudesse dizer todas essas coisas agora, e não é como se aquele príncipe fosse acreditar em qualquer coisa que ele diga.
Apertou o medalhão contra o peito, queria aproveitar seus últimos segundos 'vivo', pelo menos em seu dia final, ele não seria alguém ruim. O medalhão foi arrancado grosseiramente de suas mãos pelo outro fantasma, que exibia um sorriso louco no rosto.
"SIM! SIM" Ele gritou, uma risada pavorosa se formando em sua garganta, seus olhos vidrados no teto. "Finalmente, o propósito maior!"
Qi Rong o encarou friamente, mesmo que ele morresse agora, sempre existiriam pessoas iguais a ele. Pessoas perdidas como esse fantasma a sua frente, que se enchiam de auto enganação e machucavam pessoas inocentes com seu ódio.
"Tenho pelo menos um último pedido?" Perguntou ele.
O fantasma o encarou com um sorriso brilhante.
"Se aproveitando do meu bom humor? Muito bem, o que quer?"
"Não cometa os mesmos erros que eu." Qi Rong pediu com sinceridade.
"Oh, você acha que eu vou usar isso pra curar esse corpo e ser como você? Que orgulhoso!" O fantasma soltou uma risada ao ver o rosto confuso de Qi Rong. "Não, não, não! Minha vida não é importante, mas a de outra pessoa bem conhecida por todos é..."
O fantasma se inclinou um pouco, puxando algo de sua lapela.
A metade de uma máscara quebrada.
Uma metade sorrindo.
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Diário de Viagem Do Soberano Fantasma Verde Qi Rong
FanfictionDepois de quatro anos desde a grande batalha no monte Tonglu, a paz reinava nos três reinos que prosperavam ainda mais. Lan Qian Qiu havia acolhido Guzi, que anteriormente era cuidado por Qi Rong que havia sido 'morto' durante a batalha no monte. Po...