27.Kleiõ

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Kleiõ (s.f.):
Na mitologia grega, era filha de Zeus, musa da história e da criatividade. Seu nome deu origem aos verbos "revestir"; "fechar"; e "tornar famoso".

Point of view Priscila

Pelas minhas contas, era o 5º dia de viagem. 4 e 47 da madrugada, e eu continuava sem dormir. Euzinha, eu mesma, sem dormir. "Não é que eu durmo pouco, mas é que a Priscila dorme demais!" A voz da Carolyna ecoando na minha cabeça quase me fazia rir. Eu até me permitiria achar graça, se não tivesse me esforçado tanto durante noite inteira pra não mover um músculo e não acordar a minha pequena dormindo aninhada em meus braços.

Não era a primeira vez que dormíamos juntas, mas o turbilhão de emoções e pensamentos da última noite me mantiveram acordada até aquela hora. Eu tinha transado com Carol. Fiz sexo com ela. Fiz amor com a minha melhor amiga do mundo todinho. Que merda eu tinha na cabeça?

Não que eu estivesse arrependida, não mesmo, de maneira alguma. Mas e agora? Agora realmente não tinha mais volta. Mas... Quem eu estava tentando enganar? Desde o primeiro beijo não tinha mais volta. Desde quando a gente tinha 12 anos e eu vi aquela baixinha chegando atrasada na escola com a maior cara de bunda do mundo, eu soube que não tinha mais volta.

Respirei pesadamente e direcionei o olhar pra baixo, encontrando-a dormindo serena e tranquila com a cabeça na curva do meu ombro. Fiz um carinho delicado em suas pálpebras fechadas com meu polegar e depositei um beijinho em seus cabelos bagunçados. Não consegui parar de pensar no quanto a vida era doida, nunca na vida eu iria imaginar estar dentro de um navio nas Ilhas Gregas com Carolyna dormindo em cima de mim depois de uma noite de amor.

Amor. Independente da forma como se manifestou, sempre foi amor o que eu sinto por ela. Podia haver medos, inseguranças, incertezas, mas do nosso amor eu nunca tive duvida alguma. E depois de tudo, todo receio que eu ainda carregava tinha se tornado pequenininho aqui dentro do meu peito, a euforia de viver tudo aquilo com ela tinha ocupado todo o espaço dentro de mim.

Notei que o balanço do navio havia diminuído e logo surgiu o barulho irritante da âncora sendo lançada ao mar, o que significava que havíamos atracado na próxima ilha e o dia já devia ter amanhecido. Conferi no celular que de fato já se passavam das 7 da manhã e de acordo com a agenda que a Carol tinha colocado no meu celular, estávamos na ilha de Rhodes. Tudo que eu sabia sobre o lugar é que ele abrigava uma das 7 maravilhas do mundo antigo, mas a maior maravilha do mundo estava bem ali comigo. É, a gente fica brega mesmo quando está apaixonado, Carol tinha razão. E agora ela estava me encarando com aqueles redondos e hesitantes olhos castanhos.

- Bom dia, pinxeja! - Eu disse, mordendo a ponta do seu nariz de maneira divertida.

- Você não dormiu? - Foram as primeiras palavras dela, a preocupação tomando conta do seu semblante. - Prica, você tá arrependida?

- É claro que não, amor! - Me apressei em responder mesmo entre risadas, e lhe dei um selinho rápido como que pra provar o que eu estava dizendo. - Zero arrependida, nem um pouquinho assim. - Fiz um gesto demonstrando um espaço mínimo entre meus dedos. - Se tem uma coisa que eu não tô, é arrependida.

- Você tá o que então, Pri? Porque pra tirar seu sono, alguma coisa tá muito errada.

Analisei aquele rosto sonolento todinho antes de responder. Os olhos brilhantes, o cabelo caindo desajeitadamente, ao passo que eu rapidamente o coloquei atrás da orelha. A minha demora em verbalizar não foi em busca da certeza sobre o que eu estava sentindo, essa eu já a tinha, só era difícil expressar em palavras e, principalmente, admití-las.

Abri a boca e não emiti som algum. Carolyna continuou me encarando. Tentei de novo. Nada. A expressão dela mudou, se tornou leve e tranquila ao invés de manter a postura inquisidora. Parece que ela sabia me acalmar mesmo sendo ela mesma o motivo da minha aflição.

Presente De Grego - Capri [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora