12.Aisthesis

1.6K 155 39
                                    

Aisthesis (v.):
Do grego, significa sensação, percepção.

Point of view Priscila

Sempre fui uma pessoa discreta com meus relacionamentos. Talvez pelo fato de eu acreditar que o amor não necessita de plateias e seja um sentimento que apenas está, é, inspira. Haja o que houver e, a quantas pessoas ele abraçar, ainda que solitário, é pleno. Imenso de si mesmo, sem tutelas ou tutor. Então, quando os ciclos de permanência eram encerrados, eu sempre conseguia manter um bom relacionamento com os envolvidos. Sejam amigos, sejam namorados.

- Amor, vamos pedir a conta? - Ouço - Carol se aproximar no meu ouvido, enquanto desvio o olhar de Gu para não parecer tão desconcertada. - Tô louca pra te levar pra minha casa. - Ok. Aquilo já era demais.

Eu sabia que ela queria provocar. O problema com os meus ex namorados, no final, não era como eu me sentia em relação à eles ou como me relacionava com a pessoa com a qual estava envolvida. O problema era Carolyna nunca ter ido com a cara de nenhum deles. Nem durante os relacionamentos, e muito menos quando eles acabavam.

- Carol! Por favor, se comporta! - Repreendo.

- Quê? - Carolyna sendo sonsa só perdia para ela mesma sendo irônica. - Ah, oi Gustavo. Nem tinha te visto aqui.

Fecho meus olhos para não revirá-los e respiro fundo.

- Oi, Carol. Então quer dizer que vocês estão juntas agora? - Gu fala surpreso. - Bem que todo mundo dizia...

- Estamos sim. Priscila finalmente abriu os olhos. - Carol fala orgulhosa e minha ficha cai. Abro os olhos e a encaro. - Né, meu bem?

Sorrio teatralmente para ela e afirmo com a cabeça enquanto Gu se despede educadamente e se afasta de nós.

- Qual o seu problema, Carolyna? - Paro ela antes de chegarmos na mesa. - Precisava ser grossa desse jeito com o garoto?

- Precisava sim. - Ela me encara como se parecesse óbvio. - Todo mundo nesse restaurante tem plena ciência de que nós duas estamos juntas, basta olhar pra nós. Mas mesmo assim ele se sentiu no direito de vir aqui dar em cima de você NA MINHA CARA.

- Ele não tava dando em cima de mim. - Rebato. - A gente só tava botando o papo em dia.

- Ata. - Carol ironiza. - Pra "botar o papo em dia" tem que botar a cara a menos de um palmo da tua e ficar mexendo no teu cabelo né. Me erra, Priscila!

Carolyna me deixou plantada no meio do restaurante enquanto seguia batendo os pés em direção ao banheiro.

- Tá tudo bem, Pri? - Antes que eu pudesse raciocinar sobre o que havia acontecido, a voz de Jessie me fez voltar à realidade.

Assinto com a cabeça tentando parecer o mais natural

- Tá. É só que...

- Carolyna não se dá bem com embustes.

- Jessie!

- Ai, Priscila, nos poupe! Ele tava praticamente te comendo com os olhos. - Ela fala como se fosse óbvio. - Até eu que não sou tua namorada vi e-não-gostei.

- Ai, meu Deus. Eu saí pra jantar com duas Carolynas.

- Por falar em jantar, toma. - Ela me estende uma nota. - Eu tava indo atrás da Carol pra ela pagar a conta. A demônia primogênita tá me devendo um jantar.

- Deixa que eu pago, Carol tá no banheiro.

- Um mozão desses, bicho.

Pego a nota e caminho até o caixa. Assim que me aproximo do balcão, sinto uma mão tocar de leve as minhas costas e acariciar com o polegar.

- Já vai tão cedo?

Me viro e vejo Gu sorrindo para mim. Suspiro fundo e tento manter distância, pois a qualquer momento eu sei que Carol voltaria do banheiro.

- Hey... - sorrio educadamente. - Já sim.

- Vocês duas... - Ele me olha com curiosidade. - Há quanto tempo estão
juntas?

- Sete meses. - Falo enquanto entrego o dinheiro para o rapaz no caixa.

- Ela é ciumenta assim com todo mundo ou foi só comigo? - Ele ironiza sorrindo.

- Carol não tem motivos pra ter ciúmes de mim. - Respondo na tentativa de cortar o assunto, mas quanto mais os segundos passam, mais eu tenho a sensação de que ele está mais perto e mais eu sinto falta da Carolyna respondona pra me salvar.

- Não foi isso que eu vi agora a pouco, Priscila.

A presença e as perguntas dele já estavam me deixando desconfortável.

- É porque... - Minha fala é tomada pela cena diante de mim.

Meus olhos se arregalam. Carolyna vem em minha direção apressada, seu rosto está fechado, seus passos firmes. Quando enfim seu corpo entra no mesmo metro quadrado que o meu, eu só consigo memorizar os flashes do que acontece à seguir.

Minha cintura sendo puxada. Meu cabelo nos seus dedos. Meu rosto perto demais. Minha boca na dela. Meu corpo inteiro implorando pra que eu reagisse.

Nos três segundos em que eu não correspondi ao beijo pensando primeiro no porquê dele, milhares de interrogações vieram à minha mente tentando me convencer de que aquilo era marketing misturado com ciúmes. Mas as interrogações acabaram no instante em ela apertou minha cintura e seus lábios se moveram lentamente, trocando de posição com os meus, me chamando para o beijo.

E eu fui.

Aquilo era tudo, menos um beijo técnico. E acho que ela sabia disso. O gosto era doce, a textura macia e meu corpo todo pedia por mais. Envolvi Carol com minhas mãos e reagi, dessa vez com vontade. Esqueci completamente onde estávamos, com quem estávamos e em que o que estávamos fazendo implicaria depois. Eu não pensei em nada. Tudo que minha mente e meu corpo imploravam era por mais dela, do gosto dela, do cheiro dela, da respiração acelerada dela se misturando com a minha falhando. Senti algo vibrar no bolso de Carol e tentei ignorar por alguns segundos, até que não tivemos opção além de nos separarmos devagar, encerrando lentamente o beijo.

Enquanto eu encarava o nada, tentando entender o que tinha acabado de acontecer, escuto Carol atender a ligação.

- Oi, Malu... - A voz de Carolyna era ofegante.

O telefone não estava no viva-voz, mas com certeza eu ouvi o grito da Malu do outro lado da linha.

- VOCÊ E TEU MOZÃO FORAM APROVADAS PRA TERCEIRA FASE!

Foi então que nossos olhares se encontraram e tudo ao redor ficou em câmera lenta.

Eu jurei a Carol um amor que o tempo nunca conseguiria levar, destruir ou agir de qualquer maneira sobre. Ela sempre foi meu melhor presente com todas as suas imperfeições e eu consegui a amar tanto com todos os meus problemas de liberdade emocional. E nós somos o que há de mais bonito para se ver na vida, nós vivemos um amor quem nem cabe em definições, sem cobranças, com agradecimentos. Tem um pedaço da mulher ofegante na minha frente gravado em mim. E outro pedaço de nós bem ali naquele concurso.

Tudo que eu podia acreditar era que aquele beijo fazia parte do jogo.

Carolyna estava sendo a melhor jogadora que eu conhecia.

Meu plano?

O que acontece no jogo, fica no jogo.

                               ●●●

Lembrando que isso é uma adaptação. História escrita por
@martiangirl47

@sherlockimoficial (ex

@passarinhando)

@espxtodea (ex @eitu0205),

todos os créditos à elas.

Presente De Grego - Capri [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora