Capítulo 2

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        Havíamos recém voltado para o apartamento que é de um amigo da minha tia que quase nunca ficava ali, o outono era realmente a estação mais bela entre todas e também sem dúvida alguma é absolutamente a mais romântica, vi tantos casais nas ruas sem falar que Heartstopper passa no outono, depois tem a sequência no inverno, mas eles se conhecem no outono.

Enfim, já deu pra notar minha paixão pela estação. Ele me chamou pelo meu apelido hoje, "Élio", só minha família e alguns amigos me chamam assim, é tipo meu selo de intimidade, e ele simplesmente me chamou assim. E porque eu estou pensando naquele inglês idiota galanteador, tem cara de rico opressor que usa a força de trabalho de milhares de pessoas sem dar boas condições e direitos trabalhistas na sua franquia de...do que será a franquia dele? Acho que seria de...Ah sei lá, tecnologia.

–Élio, vem me ajudar aqui rapidão. –Disse Amélia da cozinha, vou até ela e pego a forma que ela pediu porque não alcançava.

–Eai, me conta daquele gato inglês que te queria. –Diz dando um sorriso de canto e eu fico muito vermelho.

–Sei lá né, provavelmente é um capitalista que só, tu sabe que eu gosto dos meus Che Guevara. –Digo ainda muito vermelho, Amélia havia conhecido meu último ficante por acidente, ele era muito a cara do Che, inclusive nos conhecemos em uma manifestação na Esquina Democrática em Porto Alegre por causa do assasinato de três jovens, os assassinos fizeram isso com a justificativa deles estarem usando símbolos do comunismo e socialismo.

–Aquele lá era legalzinho, mas tu tava apaixonado e ele tava querendo te usar, lembra como você ficou mal por duas semanas depois que ele disse que não queria nada sério e te largou? –Ela disse jogando na cara meu fracasso de vida amorosa.

–Pois é, mas não precisa jogar na cara tá. Depois vocês não sabem porque não apresento nenhum namorado...ou ficante. –Eu digo e ela ri da minha cara.

–Você só namorou uma vez antes de ir para a faculdade, mas tá tudo bem, só quero dizer que tu tens que se aventurar um pouco, nós estamos em outro país, tua mãe não tá aqui pra te impedir, então pega e manda mensagem pra ele, eu vi ele te dando o número. –Ela disse pegando meu celular já desbloqueado e indo nos contatos, ela literalmente ligou pra ele!

–Tu tá doida?! Como assim tu tá ligando pra ele! –Digo desesperado.

–Quieto, ele atendeu. Fala com ele. –Diz e me passa o telefone.

–Hi Oliver. How are you doing?(Oi Oliver. Como você está indo?) –Questiono e posso ouvir um suspiro alegre, ele diz estar bem, me pergunta como estou e afins e chamo ele pra sair hoje à noite, por culpa de Amélia.

–Então, onde vocês vão? –Ela pergunta sorrindo até demais.

–Ele vem me buscar, disse que vai me levar num lugar especial. –Digo e ela me olhou segurando o riso.

–De duas uma, ou ele vai te levar pra um motel ou pra casa dele pra te comer. Então tu sabe o que tem que fazer, melhor prevenir do que remediar. –Quando entendi o que ela quis dizer...fiquei muito vermelho.

–Com você eu só passo por humilhações, sério Amélia, eu não faço essas coisas, de conhecer e ficar com a pessoa no primeiro dia, eu sou romântico. Escrevo poemas de sofreguidão e de amor, entende o nível? –Falo me justificando.

–Ai Aurélio, aproveita pelo menos uma vez na vida, tu não percebe a quantidade de caras que olham sua bunda? A minha é maior, tenho muitos olhares, mas a tua não é nada mal. –Ela fala olhando minha bunda. –Ele na primeira oportunidade te secou inteiro, mas parou um tempinho ali. –Ela diz me dando um tapa na bunda de leve.

–Tu tá me incentivando muito, mais do que o normal. Se você quiser pode ficar com ele. –Digo mas bateu um ciúme de pensar.

–Eu já tenho meu contatinho pra hoje. Tô tentando te arrumar um também. –Ela disse dando um sorriso muito grande. –Eu acho que vocês tiveram muita química, aproveita. Que horas ele vem?

–Ele vem às duas da tarde, vou me arrumar então. –Digo ficando vermelho, pois sabia que eu ia fazer o que ela disse e pior ela sabia.

–Epa! Acho que ele quer te conhecer depois levar pra cama, que fofo. –Ela diz e vai pro quarto dela.

...

Eu me odeio muito às vezes, tipo assim eu estou esperando em frente ao prédio, que inclusive é muito lindo, a típica e romântica arquitetura de Paris, com valor aos detalhes, as pequenas sacadas com vasos de plantas, alguns com flores de outono, ao meu lado tem uma árvore ainda pequena, uma goma formosa nativa do leste da Ásia, suas folhas estavam amarelas, vermelhas, laranjas e marrons. Fico com as mãos atrás das costas se segurando acima do meu cóxis, esta é uma das minhas repetições chatas, na verdade não são chatas só fico com vergonha.

Vou em direção a árvore e olho para cima, entre seus galhos mais altos há um ninho abandonado do verão, me sento de costas para seu tronco e faço "perna de índio" ou posição de lótus, prefiro o segundo nome, parece menos preconceituoso e minhas mãos descansavam sobre meus joelhos. O sol passava pelas folhas de outono e eu olhava para cima, me perco na minha cabeça como sempre e quando começo a voltar ao mundo dos vivos pensantes percebo a presença de alguém me olhando, era Oliver.

Eu não falei nada, nem ele, apenas fiquei olhando dentro de seus olhos e ele nos meus, não sei quanto tempo se passou. Eu viajei por seus olhos castanhos com o pequeno mar azul claro, essa foi uma conversa muito intensa sem sequer uma palavra, até que ele quebra o silêncio.

–Seus olhos são muito lindo. You are completely handsome(Você é completamente lindo). –Ele diz pegando minhas mãos e desenhando com seus dedos as linhas de movimento das minhas mãos. –Suas mãos são tão macias e tão pequenas comparadas com as minhas.

–Eu gosto de você. Talvez você só queira me levar pra cama uma vez e deu, mas eu gostei bastante de você. –Digo ficando vermelho e desviando o olhar. –Eu sei que tipo...agente se conheceu hoje, mas gostei de você, mais do que eu deveria gostar de uma pessoa que conheci hoje pela manhã.

–Eu também gostei de você, mais do que deveria gostar de alguém que recém conheci. –Ele diz colocando uma de suas mãos em meu queixo e levantando. –Why you are so shy with me?(Porque você é tão tímido comigo?) –Ele diz se aproximando um pouco mais.

–Because you make me feel good, so it's make me shy.(Pois você me faz sentir bem, então isso me faz tímido) –Digo olhando para seus lábios contraindo e soltando um breve suspiro.

Rapidamente eu me afasto, não sei o que deu em mim, eu sem dúvidas quero beijá-lo, mas não tão cedo. Ele logo percebe e se afasta um pouco também, mas continua a decorar o relevo da minha mão.

–Sabia que durante a ocupação nazista, uma família perseguida se escondeu nesse prédio, tem uma plaquinha em homenagem a eles, infelizmente foram descobertos e enviados para um campo de concentração, não sobrevivaram lá. –Digo olhando para o prédio em que estamos acomodados.

–Vou te levar em um lugar especial. –Ele diz após uns minutinhos de silêncio. –Mas não é pra te levar pra cama, eu quero te conhecer, sabe...há muito tempo alguém me atraia como você.

–Eu nunca pensei tanto em alguém em um período tão curto de tempo. –Digo olhando para ele que se levanta e me estende a mão e quando me levanta me abraça.

–Tu sens bon, ça me rappelle les roses et la cannelle.(Você cheira bem, me lembra rosas e canela) –Ele diz com a cabeça baixa no meu pescoço, ele se abaixou bastante para alcançar meu pescoço. –Vamos. –Disse abrindo a porta para mim de um carro estilo antigo, bem legal.

Ele entra e partimos, pelas ruas movimentadas de Paris vamos se afastando do centro e indo para o interior, Vienna do Billy Joel toca no rádio do carro, eu sem querer começo a cantar e ele canta junto, eu rio e ele também começa a rir, sua mão vai para minha coxa em um gesto de carinho quase involuntário, algo que poderia ser comum entre nós.

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⏰ Última atualização: Jan 12, 2023 ⏰

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