primeiro

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Eu sempre ouvi dizer que os opostos se atraem, mas nunca pensei que eu algum dia iria me atrair pelo meu oposto.

Aonung é totalmente o contrário de mim. Ele prefere a noite, sair por ai em meio a madrugada; enquanto eu prefiro totalmente o dia, principalmente aqueles dias bem ensolarados, onde eu posso sentir o calor do sol esquentando minha pele.
E apesar de termos nossas diferenças de personalidade, eu super calmo e ele super estressado, nós nos damos muito bem.

Depois da derrota do capitão Quaritch e seus soldados todos nós voltamos para a vila, cuidamos dos feridos — inclusive eu era um deles — e eu nunca tinha visto Aonung chorar tanto quanto no dia que voltei da batalha depois de ter levado um tiro. Parecia que eu tinha morrido, todavia confesso que gostei de saber que ele ficou preocupado comigo e pensando em mim. Significa que ele se importa, não é? Isso é meio sádico, mas quem se importa?

Eu estou completamente apaixonado por ele e o mesmo nem sequer imagina isso. Cada detalhe dele me deixa louco de amor, suas birras quando não quer fazer uma tarefa, que na opinião dele é entediante, sua impaciência, seu jeito meio bruto de ser. Tudo isso me encanta nele, como é possível?

Infelizmente para ele somos só bons amigos, eu acho.

Ele é bem confuso também. Já demonstrei diversas vezes que gosto dele no sentido romântico, porém ele parece não aceitar isso. O garoto de pele mais clara sempre foge quando mando umas indiretas para ele ou até mesmo faço piadinha sobre como eu mataria ele com beijos. Mas quando outras pessoas demonstram interesse em mim ele fica zagado, eu pude perceber isso umas duas semanas atrás. Ele é totalmente confuso.

Quero esclarecer minhas dúvidas então ontem a noite eu disse para ele me encontrar hoje pela manhã em uma pequena ilha aqui do arquipélago para conversamos.

Já estou aqui faz meia hora esperando o estressadinho chegar, enquanto isso fiquei brincando com meu ilu.

— Garoto da floresta! — Seu grito me despertou de meus devaneios. — Desculpa o atraso, mamãe estava fazendo um novo penteado em mim.

Então olhei para seus cabelos e realmente estava diferente. Estava preso em um coque enorme e no topo tinham três tranças que terminavam dentro do coque. Possuia alguns acessórios nelas também.

Ele estava divinamente bonito!

— Você não sabe quem encontrei antes de vim para cá. Aquele idiota do Ru'at, ele ficou me provocando sem motivos. Disse que iria roubar você de mim, vê se pode? Tirar meu grande amigo de mim. Jamais! — Exclama todo afobado descendo de seu ilu e nadando até mim.

Eu estava sentado na beira da ilha e jogando uma pequena bola de elástico para meu ilu ir buscar. Aproveitei esse assunto para dizer logo a ele o que sinto e saber o por quê desse ciúmes de Aonung.

— Mas e se eu namorar com ele? — essas foram as minhas primeiras palavras para Aonung. Ele me olhou confuso e logo em seguida desviou o olhar para os ilus que agora brincavam juntos. — Não sabe o quê responder, é? Por isso te chamei para conversarmos a sós. Quero entender você Aonung!

Ele voltou seu olhar para mim fingindo não entender o que eu quero dizer para ele.

— Claro que sei o que responder. Se... Se você quiser namorar ele, namora ué. Não tenho nada a ver com vocês. — Retrucou totalmente na defensiva. Mas no seu rosto existia um bico enorme de insatisfação.

Eu poderia rir dele se não estivesse levando a situação realmente a sério.

— Aonung, não quero mais perder tempo. Eu gosto de você! Na verdade eu AMO você. — Digo me aproximando dele e tocando seu rosto para que pudesse olhar no fundo dos meus olhos. — Eu quero ser seu companheiro.

Aonung não disse nada. Seus olhos estavam arregalados e seu coração batia forte e então ele começou a tremer e gaguejar algumas respostas para mim.

— Neteyam, você deve estar confuso. — Sua respiração estava acelerada e sua voz falhada.

— Não! Não estou confuso. Tenho certeza dos meus sentimentos sobre você.

Puxo ele para um abraço e no início ele reluta um pouco, porém acaba se deixando ser abraçado por mim. Ele ficou longos minutos em silêncio.

Eu já estava perdendo as esperanças de qualquer resposta.

— Neteyam... Eu não sei o que sinto por você. Eu não quero estragar nossa amizade, sabe? Me da um tempo? Por favor. — Suplica baixinho com o rosto enterrado em meu peito.

Ele com certeza deve ter ouvido meus batimentos falhando de medo. Meu coração naquele momento estava congelando e pronto para despedaçar.

Tirei seu rosto do meu peito e olhei em seus olhos que estavam brilhando por conta de futuras lágrimas que iriam cair. Ele se envergonhou, suas bochechas coraram e ele murmurou algumas desculpas esfarrapadas para ir embora.

E então mais uma vez eu estava sozinho na pequena ilha, chorando e de coração partido. Nem tive tempo de questionar o ciúmes dele. Talvez ele realmente só me veja como amigo.

Voltei para a vila e tentei ocupar minha mente com outras atividades. Passei o restante do dia ajudando meu pai e mãe. Quando chegou a noite nossa família se reuniu em casa para jantar e conversar sobre o nosso dia.

Lo'ak super empolgado dizia que passeou com Payakan e Tsireya, Kiri e Tuk ficaram ajudando Ronal com algumas pessoas que se feriram na caçada. Tuk é uma criança, mas ela tem sangue forte para ver algumas coisas nojentas.

Eu apenas disse que meu dia foi legalzinho e deixei por isso mesmo. Depois de me alimentar fui dormir pensando no menino peixe.

O Sol e a LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora