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A alvorada amanheceu cinza naquele dia

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A alvorada amanheceu cinza naquele dia. O céu estava nublado e com nuvens escuras, o sol sequer se propusera a aparecer.

A floresta estava silenciosa, uma brisa fria passeava entre as árvores, fazendo mínimos sons quando beijava o contorno das folhas, balançando suavemente os galhos das copas grandes, chacoalhando em uma música meiga, perceptível apenas para aqueles que sabiam ouvir.
Os animais matutinos não faziam muitos barulhos. Os pássaros grandes não cantavam suas belas músicas. A selva estava em um clima mórbido e consumido.

Dentro da vila Omatikaya, um corpo repousava sob a rede de fibras, segurada por dois galhos grandes e grossos. Seu olhar estava a espreita do céu, mas seus pensamentos iam muito longe, para além do que outras pessoas podiam imaginar.

A rede balançava para lá e para cá. As pálpebras fecharam-se por algum tempo, enquanto sentia o rosto ser acariciado pelo frescor glacial. Seus ouvidos nada escutavam, a segunda filha de Jake Sully tinha sua mente barulhenta, perdida no caos que havia dentro do seu próprio coração.

- Irmã, já arrumou suas coisas?

Uma voz afetuosa viajou até as orelhas pontudas, fazendo o corpo dela despertar. As pupilas amarelas deslizaram, encontrando a figura de Neteyam, o seu irmão mais velho.

- Sim. - Seus lábios pronunciaram em palavra única.

Neteyam se aproximou e deitou junto do corpo da irmã, acolhendo-a em um abraço caloroso e terno.

- Não quero ir. - Essas palavras doíam no coração de Neteyam, pois elas refletiam também seu próprio desejo.

- Eu também não. - Ele murmurou. - Mas precisamos, pelo bem do nosso povo.

A segunda filha suspirou fundo, seu interior se revirava em desgosto e tristeza. Os lumes marejaram, despejando gotas grossas que deixavam rastros na pele azulada. Seu irmão a apertou mais forte, desejando poder arrancar toda a sua dor.

- Eu só queria que a nossa família pudesse viver em paz. - Comentou chorosa. - A floresta é a minha casa! Não importa aonde vá, vou me sentir um peixe fora d'água.

- Arw'ana significa "peixe do paraíso". - Neteyam brincou com o nome da irmã, fazendo referência à sua última frase.

- Neteyam é "criança de ouro". - Arw'ana correspondeu a brincadeira, sentindo as costelas sendo cutucadas pelos dedos do irmão. - Vamos ficar bem?

- Vamos ficar bem! - Neteyam respondeu sereno e seguro, como sempre fazia. - Os Sully ficam sempre juntos!

Arw'ana confirmou com a cabeça, se sentia menos mal agora. Agradeceu mentalmente a Eywa por ter lhe presenteado com Neteyam, ele era você em outro corpo, ficariam juntos para sempre.

- Mamãe mandou te chamar. - Neteyam disse. - Mas você estava tão confortável, que eu quis deitar também.

- Mamãe vai nos matar, Neteyam! - Arw'ana ergueu o corpo de supetão, balançando a rede com agressividade, quase derrubando o irmão e a ela mesma no chão folhado.

Neteyam riu entretido, e os dois saíram do conforto da rede e começaram a correr pelos troncos, tentando alcançar o resto da sua família o mais rápido que podiam, do contrário, estariam severamente encrencados.

Mais a frente, Arw'ana conseguiu ver seus irmãos mais novos, a alguns pés de distância de onde estavam. Chamou Neteyam e o apressou, vendo que estavam todos presentes, menos eles.

- Achei que tinham escorregado dos troncos e morrido. - O seu irmão do meio, Lo'Ak,  foi o primeiro a se pronunciar, segurando a bochecha da irmã entre os dedos e provocando os dois pela demora.

- Não se preocupe! Você é o único atrapalhado da família. - Arw'ana sorriu traquina.

- Bobona! - Lo'Ak retrucou e segurou o outro lado do rosto, apertando as extremidades, fazendo a irmã mais velha resmungar pela dor e sorrir ao mesmo tempo.

- Aí! - Arw'ana gritou, enquanto agarrava as tranças de Lo'Ak.

- Onde estão a mãe e o pai? - Neteyam perguntou às irmãs mais novas, enquanto separava Lo'Ak de Arw'ana.

- Devem estar na árvore sagrada. - Kiri replicou, com um tom de chateação na voz. - Nós precisamos mesmo ir embora?

- Se não formos, eles virão machucar o nosso povo. - Arw'ana respondeu a irmã, a convidado para um meio abraço. - Nós precisamos ser fortes agora!

- Tuk não quer deixar a floresta!

A atenção dos irmãos foi voltada para o membro mais novo da família. Tuk tinha os olhos lacrimosos e a expressão tristonha desenhada no rosto. Arw'ana se aproximou rapidamente, e segurou a pequena nos braços.

- Não chore, Tuk! - A mais velha passou as palmas sob os olhinhos da menor  - Nós vamos viajar por um tempo, mas voltaremos logo.

- Nana promete? - Tuk perguntou, abraçando a mais alta pelo pescoço e a saudando com o apelido.

- Prometo!

Arw'ana passou as mãos de forma carinhosa pelas escápulas do corpo menor, fazendo um afago em consolo, abraçando seus sentimentos.

Não demorou muito até que os progenitores aparecessem. Tanto Jake quanto a companheira Neytiri tinham uma fisionomia batida, os ombros caídos e a respiração pesada.
Neytiri apressou o passo para encontrar os filhos, e os juntou todos em seu enlace, afagando as cabeças e os rostos tão amados por si.

Jake observou a família, ele se sentia imponente por não conseguir conter o povo do céu, mas o perigo era iminente, ele devia proteger sua família e seu povo, enquanto carregar o título de Toruk Makto.

- Precisamos ir. - Jake falou enquanto se aproximava. - Qual o nosso lema?

- Os Sully sempre ficam juntos! - Os filhos e a esposa emitiram com confiança.

- Muito bem! - O patriarca se aproximou mais ainda. - Eu amo vocês! Vamos ficar bem!

Arw'ana não se lembra de ter vivenciado uma tristeza tão grande em todos os seus anos de vida. Deixar sua casa de forma forçada e seguir como exilados pelas extensões de Pandora nunca passou pela sua cabeça.

Mas era necessário! O povo do céu viria caçar sua família, eles eram um tormento, uma praga! Agiam como verdadeiros obsessores, os seguindo por todos os cantos, tomando o seu fôlego e impedindo-os de respirar.

Arw'ana observou sua vila uma última vez e acenou com a mão, se despedindo da família e do lugar que por tantos anos foi o seu lar, com o sentimento de saudade preenchendo seu peito, mas com a esperança de que, quando tudo isso acabasse, iria retornar.

E então, em cima do seu Ikran, a Sully partiu.

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