Capítulo 2

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"Dizem que o luto tem cinco estágios. Negação. Raiva. Negociação. Depressão. Aceitação. Mas eu gostaria de acrescentar mais um: vingança."

A água fina e gelada tocava em minha pele, fazendo o meu corpo se contrair levemente

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A água fina e gelada tocava em minha pele, fazendo o meu corpo se contrair levemente. Com os olhos fechados, eu me concentrava na sensação de estar no meio de uma chuva de agulhas. Encarei o porcelanato marmorizado que preenchia a parede do box. Ainda não havia me acostumado com aquele novo ambiente. Nem com aquele novo apartamento. Nem com aquela nova vida. Provavelmente nunca fosse me acostumar.

Já faziam duas semanas desde que eu acordara naquele hospital. Nove dias desde que eu recebera alta daquele lugar. E tinha se passado apenas uma, das quatro semanas que Isaac ordenara que eu permanecesse em absoluto repouso e retornasse uma vez por semana para avaliação. Já faziam duas semanas que eu vivia em um looping aparentemente interminável.

As duas ultimas semanas, sem sombra de dúvidas, foram as mais difíceis de minha vida. Os dias passavam devagar enquanto eu lutava para me convencer de que tudo não passava de um terrível pesadelo. Mas alguns dias após minha saída do hospital, em que retornei para a casa que era nossa, a realidade começou a pesar sobre mim. Aquela casa não era mais nossa. Não era mais minha. O local que fora todo projetado por minha mãe e com toques de meu pai era grande demais, vazio demais, para me pertencer.

Em duas semanas, toda a papelada do inventario estava pronta. Não havia muito o que ser discutido, eu era filha única e a única herdeira do império de meus pais. E daquela casa. Em duas semanas, a casa em que cresci e vivi meus últimos 18 anos, estava a venda. Eu havia a colocado. Em duas semanas, comprei um apartamento, pequeno, porém, aconchegante e longe das memórias que agora me causavam dor. Aquilo parecia ser o mais fácil para seguir em frente com meus deveres.

Mesmo com a alta do hospital, Isaac havia me proibido de voltar para meu trabalho por algumas semanas, devido possíveis esforços exorbitantes. Eu deveria permanecer em repouso total, o que demandava um grande esforço. Ficar parada, deitado em uma cama o dia todo não era definitivamente a coisa mais animadora, principalmente quando os seus pensamentos são um turbilhão de tormentos.

Desliguei o chuveiro, voltando ao foco de minha rotina. Enrolei-me em uma toalha branca de algodão, em seguida, secando o meu corpo encharcado. Ao chegar no espelho, para secar meu cabelo, comecei a encarar a cicatriz que preenchia o espaço entre meus seios, em um vermelho vivo devido a água gelada e sua recém formação. Voltei-me a observar meu rosto, olheiras profundas de noites mal dormidas e uma palidez intensa entregavam a minha péssima situação. Encaro, novamente, aquela cicatriz que percorre praticamente todo meu tórax, na tentativa de apreciá-la. No entanto, ela é uma marca que une o milagre e a tragédia em si. E nunca me deixaria esquecer disso.

Em um movimento brusco a escondo com o roupão e me concentro em secar e finalizar meu cabelo. Sigo então até meu quarto e minha concentração foca na escolha de uma roupa, aliás era meu primeiro dia de volta à máfia depois do acontecido e as impressões devem ser mantidas. Acabo optando por uma calça jeans skinny clara, uma regata mais folgada de algodão branca e um coturno preto. Para finalizar, não podia faltar a jaqueta de couro preta. Recorri ao relógio e o mesmo marcava oito e doze. Passei rapidamente pela cozinha, sem prestar atenção em seus detalhes, e apanhei uma maçã ja dando uma mordida. Segui comendo-a enquanto descia de elevador, que por sorte estava vazio, até a garagem.

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