Alexandre: Brincadeira

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Não consigo me lembrar do momento certo em que mudamos de lado e viramos rivais.
Não posso dizer com convicção quem foi o primeiro a sacar a arma e apertar o gatilho. É impossível afirmar quando deixamos de nos apaixonar e começamos a cair, em um abismo sem fim.

Pode ser que tudo tenha começado com uma briga sem sentido ou com uma crise de ciúmes.
Possivelmente, tenha se iniciado com um post de declarações vazias para um alguém que não nos é tão importante assim.
Entretanto, a palavra que mais me vem a cabeça quando penso em nós dois é: imaturidade.
Nós, que antes vivíamos um amor lindo,- digno de música, sonetos, livros, filmes, novelas .-vivemos agora em brincadeiras constantemente inconstantes. "Quem consegue provoca mais?". Só que, como em toda brincadeira de lutinha de criança, nós acabamos nos machucando de verdade. E meu medo é que, no final do dia, nosso amor dê lugar à raiva, tristeza e frieza.
O que antes era uma provocação boba, virou uma batalha, com espadas banhadas em um veneno feito com nosso próprio sangue, e as cicatrizes dos cortes jamais desaparecerão de nossas peles.

O amor que dividimos nunca foi leve, sempre foi cheio de volúpia, paixão, fogo, intensidade, gosto. E, apesar de ser gostoso, instigante e desafiador, ele cansa e desgasta. Acho que chegou uma hora em que a dor parou de ser tão viciante e a monatnha-russa não gera mais aquele frio na barriga gostoso. A dor começa a ser agonizante e a descida assustadora demais para se aproveitar a adrenalina.
Chegou uma hora em que prefiro me afastar, e te amar através de telas, do que conviver com esse pavor.

Se fosse há alguns anos, eu até poderia continuar nesse nosso jogo de ferir e apaziguar a dor com um beijo, mas agora minha vida é muito mais do que "eu" e o relógio na parede está cada dia mais perto de completar sua volta pela última vez.
O desejo de viver em paz está cada vez mais alto do que o desejo de arder em paixão. Querer estar tranquilo agora me parece mais vantajoso do que querer me aventurar na incerteza.
Pelos meus filhos e, principalmente, por mim quero viver assistindo os navios e não mais aportando em seu mar revolto, intenso e inquieto.

Para esse ano, quero que a vida te leve para longe. Não por eu não te amar mais, muito pelo contrário. É por te amar demais que não te quero por perto, porque essa falta do "nós" não me faz bem e sei que você também se sente assim.
Passamos da idade de brincar de ser criança e precisamos enfrentar a vida como adultos, e se não conseguimos assumir as consequências de nossas ações, que fiquemos distantes do que nos instiga ao "erro".
Desejo que maio te leve junto com as folhas do outono e que suas lindas rosas não floresçam mais em meu jardim quando o inverno se for e a primavera retornar.
Quero que saiba que, apesar de tudo, não guardo rancores pelos cortes que você me provocou, mas eu preciso ir, antes que seja tarde demais e eu me esqueça do motivo pelo qual eu tenho que esquecer quem você é e o que você me causa.

I'd die for you in secret Onde histórias criam vida. Descubra agora