ACORDO ANTES DO DESPERTADOR TOCAR. A CASA ESTÁ AREJADA E SILENCIOSA. TIRO minhas mãos de debaixo da coberta. Estão normais, sem luz, sem brilho. Levanto-me da cama e vou até a sala de estar. Henri está na cozinha, sentado à mesa, lendo o jornal local e bebendo café.
—Bom dia — ele diz. — Como se sente?
—Melhor impossível — respondo.
Sirvo-me de cereal em uma tigela e me sento em frente a ele.
— O que vai fazer hoje? — pergunto.
— Resolver coisas, basicamente. Estamos ficando sem dinheiro. Estou pensando em fazer uma transferência bancária.
Lorien é (ou era, dependendo de como se examina a questão) um planeta rico em recursos naturais. Alguns desses recursos são metais e pedras preciosas. Quando partimos, cada Cêpan recebeu um saco cheio de diamantes, esmeraldas e rubis para vender quando chegasse à Terra.Henri vendeu tudo e depositou o dinheiro em uma conta bancária no exterior. Não sei e nunca pergunto quanto temos lá. Mas sei que é suficiente para umas dez vidas, se não mais. Henri faz retiradas dessa conta uma vez por ano, mais ou menos.
— Mas não sei... — prossegue ele. — Não quero me afastar muito, caso aconteça alguma coisa hoje.
Não quero supervalorizar o dia de ontem, então faço um gesto de desdém.
— Vá buscar o dinheiro. Eu vou ficar bem.
Olho pela janela. A manhã se aproxima, banhando tudo com uma luz pálida. A caminhonete está coberta de orvalho. Há muito tempo não vivemos um inverno. Eu nem tenho casaco e quase todos os meus suéteres agora estão pequenos.
— Parece que está frio lá fora — comento. — Depois poderíamos ir comprar algumas roupas...
Ele assente.
—Estive pensando nisso ontem à noite, por isso preciso ir ao banco.
—Então vá — eu digo. — Nada vai acontecer hoje.
Termino de comer meu cereal, deixo a vasilha suja na pia e vou tomar banho. Dez minutos depois estou vestido com jeans e camiseta térmica preta, as mangas arregaçadas até o cotovelo. Eu me olho no espelho, depois confiro minhas mãos. Estou calmo. Preciso continuar calmo.
No caminho para a escola Henri me dá um par de luvas.
—Não se esqueça de carregá-las o tempo todo. Nunca se sabe. Eu as guardo no bolso de trás da calça.
—Acho que não vou precisar, estou me sentindo muito bem.
Os ônibus estão enfileirados em frente à escola. Henri pára na lateral do prédio.
— Não é bom que fique sem telefone — ele diz. — Muitas coisas podem acontecer.
—Não se preocupe. Logo eu o terei de volta.
Ele suspira e balança a cabeça.
—Não faça nenhuma burrada. Eu volto no final do dia.
—Não vou fazer nada — digo, já saindo da caminhonete.
Ele vai embora.
Lá dentro, os corredores estão movimentados, os alunos abrindo e fechando armários, conversando, rindo. Alguns olham para mim e cochicham. Não sei se é por causa do confronto ou porque me tranquei na sala escura. É bem provável que estejam cochichando sobre os dois fatos. A escola é pequena, e em colégios pequenos todo mundo fica sabendo de quase tudo imediatamente.
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Eu Sou o Número Quatro - Os Legados de Lorien 1 - Pittacus Lore
Science FictionNOVE DE NÓS VIERAM PARA CÁ. Somos parecidos com vocês. Falamos como vocês. Vivemos entre vocês. Mas não somos vocês. Conseguimos fazer coisas que vo cês apenas sonham fazer. Temos poderes que vocês apenas sonham ter. Somos mais fortes e mais rápidos...