Capítulo Sete

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ACORDO ANTES DO DESPERTADOR TOCAR. A CASA ESTÁ AREJADA E SILENCIOSA. TIRO minhas mãos de debaixo da coberta. Estão normais, sem luz, sem brilho. Levanto-me da cama e vou até a sala de estar. Henri está na cozinha, sentado à mesa, lendo o jornal local e bebendo café.

 —Bom dia — ele diz. — Como se sente?

 —Melhor impossível — respondo.

 Sirvo-me de cereal em uma tigela e me sento em frente a ele.

 — O que vai fazer hoje? — pergunto.

 — Resolver coisas, basicamente. Estamos ficando sem dinheiro. Estou pensando em fazer uma transferência bancária.

 Lorien é (ou era, dependendo de como se examina a questão) um planeta rico em recursos naturais. Alguns desses recursos são metais e pedras preciosas. Quando partimos, cada Cêpan recebeu um saco cheio de diamantes, esmeraldas e rubis para vender quando chegasse à Terra.Henri vendeu tudo e depositou o dinheiro em uma conta bancária no exterior. Não sei e nunca pergunto quanto temos lá. Mas sei que é suficiente para umas dez vidas, se não mais. Henri faz retiradas dessa conta uma vez por ano, mais ou menos.

 — Mas não sei... — prossegue ele. — Não quero me afastar muito, caso aconteça alguma coisa hoje.

 Não quero supervalorizar o dia de ontem, então faço um gesto de desdém.

 — Vá buscar o dinheiro. Eu vou ficar bem.

 Olho pela janela. A manhã se aproxima, banhando tudo com uma luz pálida. A caminhonete está coberta de orvalho. Há muito tempo não vivemos um inverno. Eu nem tenho casaco e quase todos os meus suéteres agora estão pequenos.

 — Parece que está frio lá fora — comento. — Depois poderíamos ir comprar algumas roupas...

 Ele assente.

 —Estive pensando nisso ontem à noite, por isso preciso ir ao banco.

 —Então vá — eu digo. — Nada vai acontecer hoje.

 Termino de comer meu cereal, deixo a vasilha suja na pia e vou tomar banho. Dez minutos depois estou vestido com jeans e camiseta térmica preta, as mangas arregaçadas até o cotovelo. Eu me olho no espelho, depois confiro minhas mãos. Estou calmo. Preciso continuar calmo.

 No caminho para a escola Henri me dá um par de luvas.

 —Não se esqueça de carregá-las o tempo todo. Nunca se sabe. Eu as guardo no bolso de trás da calça.

 —Acho que não vou precisar, estou me sentindo muito bem.

 Os ônibus estão enfileirados em frente à escola. Henri pára na lateral do prédio.

 — Não é bom que fique sem telefone — ele diz. — Muitas coisas podem acontecer.

 —Não se preocupe. Logo eu o terei de volta.

 Ele suspira e balança a cabeça.

 —Não faça nenhuma burrada. Eu volto no final do dia.

 —Não vou fazer nada — digo, já saindo da caminhonete.

 Ele vai embora.

 Lá dentro, os corredores estão movimentados, os alunos abrindo e fechando armários, conversando, rindo. Alguns olham para mim e cochicham. Não sei se é por causa do confronto ou porque me tranquei na sala escura. É bem provável que estejam cochichando sobre os dois fatos. A escola é pequena, e em colégios pequenos todo mundo fica sabendo de quase tudo imediatamente.

Eu Sou o Número Quatro - Os Legados de Lorien 1 - Pittacus LoreOnde histórias criam vida. Descubra agora