Meu celular marca sua hora certa para acorda todas as manhãs. De outro modo, eu não conseguiria levantar da cama. Dessa vez o som soa diferente. Minha cabeça ainda encaixando os fragmentos da noite passada, do sonho meio estranho que tive com Theo, da luta de madrugada onde seus assassinos me assombram como anjos maus. O celular ainda ronca em meus ouvidos.
Algo chama minha atenção! As festas sempre são dadas aos finais de semana, para que tenhamos os domingos para descansar antes das aulas. Meu despertador não funciona aos domingos, mas meu celular continua tocando alarmante.
Salto sobre as duas pernas e o atendo:
– Alô!
– Melanie? – é a voz de Anne do outro lado da linha. Ainda abatida, cansada, deprimida. Mesmo sabendo que não tive culpa, meu coração palpita ansiedade, por não ter conseguido alcançá-la ontem. – Te acordei?
– Claro que não! – digo. Confiro o relógio: sete da manhã – Isso não é hora de alguém está dormindo.
– Estou falando sério – Anne não está para brincadeiras. – Você não ficou sabendo?
– Eu sei – digo atordoada. – Me desculpe, eu devia ter o parado antes, mas não foi culpa minha.
– Do que... – Anne chora ao falar: – Isso não importa mais. O DG morreu! Foi assassinado brutalmente ontem.
– O que? Mas como? Onde? – indago, mas sei que não é isso que devo falar. Anne só espera um consolo. Guardo todas as minhas dúvidas para depois e prossigo: – Podemos nos encontrar no...
– O enterro será as duas da tarde – Anne me interrompe. E desliga.
Eu não escolho o preto. Qualquer coisa que me afaste das sombras vinda dos livros escritos por Theo Villagrande. Meia hora antes do enterro, eu consegui terminar seu último livro com uma morte bela e dolorosa do personagem principal, que não escapa em nada das características físicas do autor.
Diferente de mim, Anne se esconde atrás de óculos escuros. A cor escura de seu rímel escorrendo pelas beiradas de seu rosto. Um vestido preto que contorna seu corpo, muito bonito. Não é um elogio para ser feito na ocasião, ainda assim Anne é a garota mais angelical que conheço. Vê-la nessa situação me destrói por dentro, mesmo não conhecendo a fundo seu namorado e sendo contra seu namoro no começo. Ouço soluços rompendo meu peito quando ela discorre sobre toda a sua paixão na frente dos familiares e amigos de DG.
Numa contagem fora de ordem o caixão vai sendo baixado. Anne se agarra em meu braço, com certeza, buscando se acalmar para não repetir o mesmo pedido que a mãe de DG, que é amparada pelo marido. Ela insiste em ser enterrada junto com o filho.
A terra é jogada por cima do caixão, aquela agonia de imaginar alguém se sufocando dentro dele. Eu faria qualquer coisa para ele está novamente ao lado da minha amiga.
Tudo acaba o mais rápido possível.
– Você pode ficar um tempo lá em casa? – digo. Utilizo minhas mãos para secar o rosto de Anne. – Contando a partir de hoje.
– Você tem certeza? – ela questiona.
– Mais certeza de que amanhã eu quero ver seu rosto me assustando pela manhã, impossível! – brinco, e parece funcionar, Anne me retribui um sorrio vazio.
– Eu só queria sumir por uns tempos – ela sussurra, talvez pensando alto demais. – Não me importaria se fosse para sempre. Igual ao DG.
– Ei! – Chamo por ela. – Não diga essas coisas. Não sabemos quem nos rodeia.

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Детектив / ТриллерMelanie tem sido atormentada pelos personagens de seus livros favoritos. Aqueles que recebem a assinatura de seu colega de classe, Theo Villagrande. Seu autor favorito, o qual cria as melhores cenas de terror quando se trata de torturar alguém em se...