Capítulo 3

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Hoje completa uma semana desde que Anne se suicidou. Uma morte terrível acompanhada de dor e lágrimas. O laudo realizado no dia seguinte à sua morte esclarece que ela não apenas se jogou da janela para seu enforcamento, mas também praticou algumas retalhações em seu corpo.

Eu, pela segunda vez, não fui capaz de pará-la. Achei que seria melhor ela ter esse tempo para pensar. O erro dos seres humanos é o egoísmo. Deveríamos nascer com um alarme, que desperta toda vez para o perigo, para quando um amigo estiver triste, e para salvar nossa família. Porém, infelizmente, não nascemos em histórias em quadrinhos. E minha realidade é chorar a morte da minha amiga.

Foi necessária toda essa semana de luto para que eu pudesse sair de casa. De volta às aulas, depois de mais uma noite assombrada por anjos sanguinários. Assassinos do livro que Anne ganhou de presente. Meus olhos em plena mistura de sono e choro, não escondo o rosto de ninguém. A única amiga que eu tinha era Anne, não precisarei responder perguntas sobre meu estado de espírito.

- Ei! - Alguém puxa meu ombro, uma voz feminina. Quase me faz lembrar de Anne. - Você está bem? - É Katerine.

Uma raiva explode dentro de mim. Isso tudo é culpa dela. Se ela não resolvesse dar aquela maldita festa, nada disso teria acontecido. DG estaria vivo, e minha amiga não teria se matado. Ou se pelo menos, ela seguisse as regras de não gostar de mim e não tivesse me convidado, eu não teria levado Anne, e o DG não poderia ir sem ela.

Um momento de sanidade perpassa minha mente. Ela havia perguntado quem tinha me convidado. Se não foi ela, quem poderia ter me enviado aquela mensagem?

- Melanie - esta voz me causa arrepios! Vejo os olhos de Katerine brilhar. - Eu sinto muito pelo o que aconteceu.

Theo está diferente. Suas roupas continuam as mesmas, nada em seu rosto ou em seu olhar incrédulo mudou. Nenhuma modificação em sua conduta rústica de não permitir que alguém invada seu espaço. Apenas minha maneira de encará-lo o diferencia das outras vezes que o vi antes. Sinto um alívio correndo pelas minhas veias. O que mais quero é poder abraçá-lo. Uma pontada de dor despenca em minha cabeça alarmando todo meu corpo.

Ele sorri para mim.

- Espera aí! - Katerine age teatralmente. - Já vi tudo! Vocês estão apaixonados.

- O que? - eu digo primeiro, mas Theo ecoa. Eu completo: - Não mesmo!

Os dois me encaram com semblantes diferentes. Katerine ergue uma sobrancelha em dúvida e Theo permanece com aquele sorriso sabichão. E tenho certeza de que ele pode ler meus pensamentos.

- Então - Katerine se aproxima dele. Theo não se afasta -, nada que te impeça de ir lá em casa mais tarde. Meus pais estão fora e pensei em uma festa mais reservada.

Theo usa o mesmo sorriso que investia para mim, agora para Katerine. Eu os abandono e sigo para a minha aula, sentindo quase o mesmo que Anne pôde ter sentido quando viu DG me beijando. A dor me consome novamente, pela perda da minha amiga, e por eu não ter mais ninguém ao meu lado.

As horas passam bem devagar. Katerine e Theo não apareceram para as duas primeiras aulas antes do intervalo. Eu supero isso e sigo para o estacionamento. Por hoje chega de socialização. Eu preciso da minha casa, da minha cama, do meu vazio de volta.

Encontro Theo parado em seu carro. De frente para ele, Katerine, usando todo seu gestual com as mãos. Como um replay de alguns dias atrás eu a vejo lançando sua mão contra o rosto de Theo, ele a segura antes de receber a pancada. Finjo não me importar com o que vejo. Solto a minha bicicleta da corrente. Eles percebem minha movimentação. Katerine segue em direção a escola e Theo a minha sombra.

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