As palavras saltam em minha cabeça:
Fuja!
São os assassinos do Theo, as feras canibalistas que assumem a forma de anjos negros que me alertam para o perigo.
Corra!
Sinto um arrepio transpassar minha espinha. Um nó se formar em minha garganta. Nunca me apaixonei de tal forma. Meu corpo inteiro estremece. Ainda mais completando meus dezoito anos. Há alguma comemoração especial para isso? A transformação percorre meu interior e me enche de vigor. Coisas de sexto sentido afirmam minha maturidade.
Hoje tudo se resolve! Por mais que as vozes em minha cabeça me enchem de dúvidas, Theo é o único que me faz pisar no chão, tocar a terra firme e viver a realidade. O sujeito que espanta seus próprios fantasmas.
Não há mais tempo!
Hoje, além do meu aniversário, é o dia do lançamento do último livro de assassinato do Theo. Ele me disse que se esforçaria mais para escrever romances, segundo ele agora existem algumas inspirações.
Eu como sempre estou atrasada. Não preciso conferir o relógio para saber disso, meu celular não para de tocar. As vozes não param de sussurra em meus ouvidos. Pensar no meu namorado me ajuda a dissolver isso. Somente Theo pode me salvar daquilo que ele mesmo criou, seus anjos maus.
O apartamento de Theo é no último andar. Ele insistiu que eu viesse primeiro em sua casa, para que daqui fossemos juntos para a livraria onde será lançado seu livro. Penso em DG, Anne e até mesmo em Katerine. Todos se foram da forma mais cruel. Sem ao menos se despedirem.
– No que está pensando? – Theo diz sorrindo, ainda misterioso.
– Não é nada! – respondo, fugindo dos meus pensamentos. – Apenas divagando!
Em vão, eu sei exatamente que Theo consegue ler meus pensamentos. Por um instante, vejo seu olhar distante, distraído em uma tristeza, mas não por muito tempo.
– Vamos? – direciono-me para a porta. Theo me segura. – Estamos atrasados!
– Eu só quero te dizer...
Ele se aproxima antes de terminar a frase. O calor do seu corpo tão próximo do meu. Sua boca perto da minha. Eu não havia percebido a sirene que tocava do lado de fora. Ela é real?
A porta se abre até o fim. Eu me afasto e Theo se vira para ficarmos de frente para os policiais. Eles apontam suas armas em nossa direção. O mais alto dos três se aproxima e dá ordens para que os outros fiquem de guarda.
– Está tudo bem rapazes – ele diz. – Podem abaixar as armas!
Nem eu e nem Theo dizemos alguma palavra, esperamos por explicações. A mão do meu namorado se aperta contra a minha.
– Eu sou o temente Santana – o policial prossegue. – Eu sou o responsável pelos assassinatos dos seus amigos. Não tenho boas notícias.
Espero o desenrolar da história. Mas solto a minha mão, meu corpo enrijece.
– Todo esse tempo, nós buscamos informações sobre os ocorridos. O segundo laudo sobre a morte da menina Anne deu que ela não se suicidou, mas foi assassinada.
– Como? – Aquela voz era minha, eu tinha dito isso.
– Concluindo – o policial finge não me ouvir. – Buscamos câmeras de segurança perto do condomínio da jovem Katerine no dia da morte do Diego.
– DG! – Dessa vez quem disse foi o Theo.
O tenente Santana respirou fundo antes de continuar. Eu já sabia que o que vinha não era nada bom.
– Da mesma forma as câmera do quarto da Katerine. Não temos mais nenhuma duvida do assassino dos três jovens. – Ele nos encara. O barulho da sirene ainda soa da janela atrás de nós. O vento invade o lugar. – Melanie Bloom, você está presa!
Eu ouço a última frase de frente para a janela. Meu corpo é arremessado para fora. Eu subo as escadas de segurança em direção ao telhado. Não paro para ver se estou sendo seguida. Os anjos caídos aparecem. Meus olhos se abrem...
Enquanto subo no parapeito da cobertura do prédio. Sinto o vento soprar a vontade sobre meu corpo. Meu cabelo cobre a minha visão, ajeito-me para ver Theo e os policiais adentrarem através da porta.
Perco o equilíbrio, finco meus pés, não posso cair, a ordem é para me jogar. Os anjos maus que me atormentaram todos esses dias, que me fizeram matar meus amigos – e Katerine – pairam no ar, bem atrás de mim. Eles sussurram em meus pensamentos, para que apenas eu possa ouvir:
Chegou a sua vez. Venha conosco!
– Esperem! – grito audível. – Eu tenho uma última coisa a fazer.
Theo me encara assustado, pela primeira vez eu vejo seus sentimentos aflorados, medo. No entanto, seu habitual modo de compreender, ele enxerga tudo o que está acontecendo.
– Não precisa ser dessa forma – ele está chorando? Por mim? – Fica comigo!
É tarde demais! Meus demônios insistem em orquestrar meu fim. Dizem que irei conseguir voar com eles, estão me convencendo outra vez.
Eu me tornei uma louca. Uma assassina mortal todo esse tempo. Cumprindo as ordens propostas pelos meus anjos do mal, na calada da noite. E sempre quando eu acordava, as visões eram roubadas da minha mente. Eu me tornei uma louca. Mas agora a verdade golpeia minha face, me mostra as cenas, uma por uma. Todas sussurradas em meus ouvidos pelos assassinos criados por mim.
Eu encaro Theo.
– Só prometa uma coisa! – Não espero por sua resposta. – Escreva sobre mim!
Ele não consegue responder. Os policiais apontam suas armas para mim. Eles dão uma ordem.
Vejo meu corpo sendo levado. Caindo em direção ao chão. A altura me dá enjoo. Será que é assim a morte? Minha memória resgata as pessoas que matei, eles se sentiram do mesmo jeito?
Anjos de asas escuras, olhos vermelhos e chifres pontiagudos zombam de mim. Riem com desdém. Para mim, tudo também soa engraçado. Meu corpo quase flutua por instantes.
Lá de cima Theo acompanha a minha ruína. A gravidade me sugando com mais força. Infelizmente, não há mais ninguém para chorar por mim, de certa forma machuquei todos que eu amo.
Eu o vejo se distanciando, sem felizes para sempre, sem um adeus, sem um último beijo. Apenas um único olhar de compaixão, por fim...
#Nota
"A esquizofrenia é uma doença mental crônica que se manifesta na adolescência ou início da idade adulta. Sua frequência na população em geral é da ordem de 1 para cada 100 pessoas, havendo cerca de 40 casos novos para cada 100.000 habitantes por ano.[...]
A esquizofrenia apresenta várias manifestações, afetando diversas áreas do funcionamento psíquico. Os principais sintomas são:
[...]
Alucinações: são percepções falsas dos órgãos dos sentidos. As alucinações mais comuns na esquizofrenia são as auditivas, em forma de vozes. O paciente ouve vozes que falam sobre ele, ou que acompanham suas atividades com comentários. Muitas vezes essas vozes dão ordens de como agir em determinada circunstancia. Outras formas de alucinação, como visuais, táteis ou olfativas podem ocorrer também na esquizofrenia.
Alterações do pensamento: as ideias podem se tornar confusas, desorganizadas ou desconexas, tornando o discurso do paciente difícil de compreender. Muitas vezes o paciente tem a convicção de que seus pensamentos podem ser lidos por outras pessoas, ou que pensamentos são roubados de sua mente ou inseridos nela.
[...]"
Fonte: www.saudemental.net
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Escreva sobre mim!
Misterio / SuspensoMelanie tem sido atormentada pelos personagens de seus livros favoritos. Aqueles que recebem a assinatura de seu colega de classe, Theo Villagrande. Seu autor favorito, o qual cria as melhores cenas de terror quando se trata de torturar alguém em se...