Capítulo 1

344 23 11
                                    

Uma luz na escuridão é tudo o que uma maldição precisa para sobreviver, um desejo ou alguma esperança de algo não ser verdade. Não parece justo atribuir a uma desgraça uma corrente que prenda alguém a ela.

Há uma lenda presa a esta terra, criada a partir de traição e selada em meio a dor, que aflige a humanidade e recai sobre aqueles que possuem dons mágicos. Conta-se que há muito tempo, uma criatura nutria todo e qualquer poder sobre o que se podia imaginar. Ela sabia controlar água e agitar mares, incendiar com uma faísca, mover montanhas, alinhar o tempo como desejasse, conjurar luz e conduzir o vento. Não se sabe muito sobre como ela surgiu, mas por um tempo houve paz entre ambas as raças, pois, ela era o equilíbrio que precisavam. Apesar disso, ela se sentia só, como se ninguém era capaz de compreendê-la de fato. 

Em uma das poucas festas feitas em sua homenagem, a mesma dançava com um lindo e leve vestido azul e de olhos fechados apreciava a música que até seus ouvidos chegava. Apesar das cicatrizes marcantes em sua pele, era bela e delicada como porcelana. Ela encantava diversos seres e por vezes até mesmo os manipulava. 

Era dois lados da mesma moeda, amável e malévola. 

Então certa vez conheceu um belo rapaz, um simples humano, e foi por ele que seu coração começou a bater loucamente, porém não conseguia compreender como uma simples criatura havia conseguido lhe encantar de tal forma.

Ele era observador e reservado, ouvira falar da tal "Bruxa'', como denominavam aquela criatura de tamanho poder, mas pensava que era demais tratá-la como uma deusa. Ele portava um terno preto escuro como seus olhos, que por um capuz de sua capa os tampava. Analisava tudo ao redor cuidadosamente, até que nela seus olhos pousaram e no lugar do que achava não sentir mais nada, escutou uma batida alta. Seu coração voltava a ativa. 

O mesmo se encaminhou ao encontro dela e com isso reinou o silêncio. A música parou, menos ela. A plateia interessada começou a observar a cena, até que ele a alcançou e sua mão fria sentiu calor ao segurá-la. Eles se olharam e lentamente a dança retomaram, e ali foi o começo de algo que ambos nunca haviam experimentado. 

Passaram a se encontrar todas as noites sob as estrelas, ali se conheciam tanto fisicamente quanto emocionalmente. Ele a compreendia, enquanto ela lhe mostrava como controlava sua magia e do que era capaz. Eles só não imaginavam que enquanto construíam um futuro juntos, algo oculto nas sombras começava a se manifestar.

Aos poucos pessoas começaram a desaparecer e algumas eram encontradas mortas, casas e o próprio ambiente passavam a se encontrar destruídos. Alguém passara a corromper os humanos e os Elythments e aos poucos os mesmos se voltavam contra a Bruxa. Uma guerra começava a se formar, humanos e Elythments conspiravam uns contra os outros causando divisões entre si.

Naquela noite, porém, ela resolvera procurar encontrar a causa daquilo tudo, e fora quando viu aquele que se misturava entre a escuridão, ardiloso e temido como uma cobra. Silenciosamente, aquilo dirigiu seu olhar a ela enquanto alguém a chamava de dentro da floresta. 

Ela se virou, encontrando seu amado humano correndo desesperado em sua direção. Ele a abraçou fortemente a analisando, então pegou sua mão e começou a correr. Mas ela se viu obrigada a fazê-lo parar e explicar o que estava acontecendo. Foi quando ele confessou que havia conspirado com alguém chamado Callan para se aproximar dela e descobrir mais sobre sua magia, que ele o ajudara a criar os conflitos entre as raças, mas que isso fora antes de se apaixonar por ela e perceber que estava errado. 

De repente, escuridão começou a cercá-los e ambos começaram a olhar ao redor, imersos no silêncio. Foi quando o rapaz caiu de joelhos, com a mão no lado esquerdo da barriga. Ela, confusa, se aproximou para ajudá-lo, quando foi bruscamente agarrada. Uma mão em seu pescoço a segurava no ar, esmagando sua garganta, a fazendo sufocar e lutar para poder se soltar. Então, uma lâmina afundou em sua pele, fazendo um corte enorme em seu braço, e sangue começou a escorrer. Quando ela foi solta, caindo no chão, olhou para cima buscando identificar seu agressor, mas ele se misturava entre a escuridão da floresta. Em seguida, aquilo cortou a própria mão e se abaixou, apertando o braço dela acima do corte. Ele recitou algo que não se podia entender, mas ela sentia que sua essência era tirada a força. 

A Bruxa da MaldiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora