Capítulo 2

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Mirei na cabeça e soltei a flecha, acertando o alvo que agora estava caído, morto.

Espero alguns instantes, vou até o cervo com uma flecha posicionada no arco e peço desculpas mentalmente ao animal. Sentia pena de tê-lo matado, mas aquilo garantiria que sobreviveríamos.

Agacho em frente ao seu corpo caído e retiro a corda da mochila. Em seguida, começo a amarrar o cervo e o prender firmemente na parte de trás da mochila.

Um galho se parte, paro o que estou fazendo, os ouvidos em alerta ao perceber que o som foi próximo.

Sem me virar, coloco a mão sobre a faca presa em minha perna por uma fivela gasta.

A neve cai conforme levanto devagar no mesmo lugar, contando a respiração com calma enquanto meu coração espera ansioso.

Dou um passo vagaroso sobre a grossa camada de neve, seguido de outro passo, e me aproximo o suficiente do local onde o barulho se manifestara. Então, avanço.

Desvio no último segundo do ataque repentino e no outro já me encontrava rolando sob a neve por cima daquilo, com a faca erguida sob a garganta do mesmo, até que uma voz familiar chega aos meus ouvidos.

Reconheço a voz e, surpresa, abaixo a faca.

— Calma! Sou eu! Não me mate pelo amor do que for mais sagrado!

Reconheci a voz surpresa e abaixei a faca.

— Mas o que... que diabos?! Evelyn?

— Sim! Agora saia de cima de mim.

Enquanto levantei de cima dela, reparei nos cabelos castanhos presos num rabo de cavalo mal feito, na sua franja teimosa caindo sobre o rosto, os olhos âmbar, sua pele parda, de estatura baixa e conquistadora de corações com aquele sorriso.

Guardo a faca na perna.

— É a última vez que a assusto, Lislya. — diz, revirando os olhos. — Como você sabia que eu estava chegando?

— Se um dia for atacar alguém pelas costas, evite quebrar os pobres galhos.

Desviei da bola de neve que estava vindo na minha direção rindo, enquanto ela me mostrava a língua. Em seguida, revidei jogando uma bola de neve nela e assim começando uma guerra.

Admito que eu amava esses momentos em que me sentia feliz, já que eram tão poucos desde que a terra se dividiu entre magia e humanidade, então fiz questão de aproveitar esse momento, pois sabia que Evelyn queria apenas me livrar da ansiedade pelo que eu pretendia fazer à noite.

No fim, estávamos fazendo anjos de neve no chão e olhando o céu, até ela quebrar o silêncio.

— Então, é hoje à noite que pretende descer aquele telhado igual uma maluca curiosa?

Perdida em pensamentos, não lhe respondi, apenas pensei no porquê faria aquilo.

Eu podia simplesmente deixar no passado essa grande rivalidade entre raças, ou como isso supostamente se envolve com a maioria das mulheres serem bruxas, na teoria, mas a grande verdade era que a curiosidade falava mais alto. Ou eu que simplesmente queria fugir. 

— Você sabe que não precisa ir. Já faço isso há um tempo, sozinha. — digo.

— Mas agora não está mais sozinha, vou com você. — ela rebate.

Parte de mim agradece em silêncio.

Quando me contaram sobre como minha mãe morreu, em chamas, com o círculo de fogo e cinzas ao seu redor e com humanos atirando galhos na fogueira e gritando "Bruxa", ou amante de Callan, a partir dali passei a usar aquela biblioteca inacessível, não apenas para fugir e me esconder da realidade, mas também para descobrir quem era aquele. O que encontrei foram diversas lendas de como a raça Elythments fora horrível com os humanos, de como eram seres destrutivos e manipuladores. Além disso, a história mais recente que havia encontrado era aquela que havia lido antes de vir caçar. Apenas mais uma lenda criada pela cabeça de alguém que não conseguiu ter ideias para o restante das páginas deixadas em branco.

A Bruxa da MaldiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora